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Rural Notícias

Programa da Embrapa antecipa em até 20 dias o plantio do milho

O projeto foi desenvolvido e aprimorado por pesquisas e validado em várias regiões do país que adotam a safrinha, como Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso

Um sistema inédito de produção de grãos, desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo (MG), promete incrementar ainda mais a produção da soja e do milho safrinha. Trata-se do Antecipe, um método de cultivo intercalar que possibilita a redução dos riscos causados pelas incertezas do clima durante a segunda safra. Resultado de 13 anos de pesquisas, a tecnologia é composta por três pilares: um sistema inédito de produção de grãos, uma semeadora-adubadora exclusiva e um aplicativo para auxiliar o produtor a tomar as melhores decisões.

O pesquisador Décio Karam, líder do projeto, explica que “o Antecipe foi desenvolvido e aprimorado por pesquisas e validado em várias regiões do país que adotam a safrinha, como Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso”. De acordo com ele, os resultados têm sido promissores, tanto nas operações de plantio intercalar do milho, como na colheita da soja e no desenvolvimento do milho após a colheita dessa leguminosa.

Para o chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Frederico Durães, o Antecipe é um sistema em franca evolução, na parceria público-privada, com grande potencial de impactar o desenvolvimento da agricultura brasileira. “É uma inovação que envolve conhecimento e ativos tecnológicos tangíveis e intangíveis”, afirma.

Como funciona o Sistema Antecipe?

Na prática, o Sistema Antecipe começa com a semeadura mecanizada da cultura do milho nas entrelinhas da soja, quando a leguminosa está na fase de enchimento de grãos, a partir do estádio R5.

Na hora da colheita, o milho é cortado junto com a soja, ficando apenas um pequeno caule de cada planta de milho. Só que, nesse momento, toda a lavoura de milho já está implantada, com raízes em pleno desenvolvimento e pronta para continuar crescendo.

Programa da Embrapa antecipa em até 20 dias o plantio do milho
Foto: Embrapa Milho e Sorgo

Com o sistema, o produtor pode antecipar o plantio do milho safrinha em até 20 dias e diminuir os riscos de perda de produtividade em função de condições climáticas adversas, que ocorrem no fim do verão e início do outono. Dessa forma, a lavoura de milho pode se desenvolver em época com precipitação mais favorável, o que possibilita ganhos em produtividade e rentabilidade.

Segundo Karam, “essa antecipação do plantio do milho possibilita ainda redução no custo de produção da soja, já que não é mais necessário fazer a dessecação dessa cultura para antecipar a colheita, o que traz benefícios operacionais, econômicos e ao meio ambiente”. Além disso, em regiões com maior experiência em safrinha, é possível o uso de cultivares de soja de ciclo mais longo, notadamente mais produtivas do que as cultivares precoces, sem prejuízo em produtividade do milho na sequência.

Outra oportunidade de uso da tecnologia é a implantação do milho safrinha em regiões agrícolas onde a segunda safra ainda não foi plenamente estabelecida, abrindo janelas de cultivo que antes eram limitadas ou inviáveis.

A semeadora-adubadora

Patenteada pela Embrapa, a semeadora-adubadora representa um novo conceito para o mercado brasileiro. A máquina faz o plantio e a adubação do milho, nas entrelinhas da soja, sem que haja danos mecânicos, amassamento, perda de área foliar ou outro prejuízo que comprometa a produtividade dessa oleaginosa.

Além da adaptação específica para o cultivo intercalar, a máquina também faz todas as operações de semeadora-adubadora para plantios convencionais.

Em 2019, a Embrapa e a Jumil, empresa de implementos agrícolas, iniciaram uma parceria para a construção industrial do primeiro protótipo dessa semeadora-adubadora.

Foto: Embrapa Milho e Sorgo

Já nesta safra 2020/2021, o implemento passará por ajustes finos em ambientes reais de produção a fim de cumprir as exigências dos protocolos para sua fabricação em escala e comercialização a partir da safra 2021/2022.

O diretor-presidente da Jumil, Fabrício Rosa de Morais, explica que, nesta primeira fase do projeto, a semeadora-adubadora foi desenvolvida pensando nos pequenos e médios produtores, dando a eles a oportunidade de competir em resultados, diminuir riscos e ampliar a produtividade. Morais destaca ainda o sucesso e a velocidade do desenvolvimento desse protótipo, que, mesmo com a pandemia, conseguiu cumprir todos os cronogramas planejados.

O aplicativo

O aplicativo Antecipe é um serviço estratégico para o novo sistema, pois facilita a tomada de decisões no campo. O produtor poderá realizar não só o acompanhamento dos estádios fenológicos da lavoura de soja, mas também obter orientações sobre o momento adequado para a implantação da lavoura de milho, dentro das premissas técnicas do Sistema Antecipe. O aplicativo já está em fase final de testes.

Foto: Embrapa Milho e Sorgo

O analista de sistemas Pedro Gomide, da Embrapa Milho e Sorgo, explica que “esse aplicativo armazena também os dados inseridos pelo produtor sobre o cultivo da soja e do milho, além de informações das análises de solos realizadas, os tratos culturais e adubação”. Assim, além de enviar mensagem de texto avisando a hora para a realização das práticas, o aplicativo servirá também para o produtor ter um histórico da sua lavoura.

Como o milho mantém a produtividade no Antecipe

No Sistema Antecipe, quando é feita a colheita da soja, o milho também é cortado, ficando apenas com um pequeno caule. Mesmo assim essa cultura não tem sua produtividade comprometida por esse estresse. Como isso ocorre? Um dos pontos-chave do conhecimento gerado ao longo das pesquisas é o momento adequado de cada operação agrícola.

O pesquisador Paulo César Magalhães, da Embrapa Milho e Sorgo, explica que, com a desfolha precoce das plantas de milho no estádio V4-V5, naturalmente, ocorre a perda total de 3 a 4 folhas completamente expandidas e a perda parcial de 3 a 4 folhas que ainda estão em desenvolvimento e se encontram no cartucho da planta. “Logo após a desfolha, o milho rebrotará, recuperando-se daquele estresse, emitindo novas folhas a partir do cartucho danificado e retomando o seu crescimento normal. Isso acontece porque o ponto de crescimento [tecido meristemático] ainda se encontra abaixo da superfície do solo”, complementa.

Magalhães afirma que resultados experimentais de um grande número de trabalhos demonstram que a produtividade do milho não deve ser influenciada por essa perda inicial de folhas. “A explicação se deve ao fato de que essas folhas são pequenas em tamanho e o seu grau de contribuição para a produção de grãos é muito reduzido. Sendo assim, essa pequena perda da fonte de fotoassimilados em V4-V5 será insignificante nas fases mais decisivas para a produção de grãos, como por exemplo o período de enchimento”, pontua.

Relevância

Na safra 2019/2020, o Brasil superou o volume de 100 milhões de toneladas de milho. Desse total, 74 milhões de toneladas são provenientes da segunda safra, semeada após a colheita da soja. Embora esse resultado seja impactante, condições climáticas adversas, principalmente na região centro-sul, reduziram o potencial produtivo do milho safrinha neste ano agrícola.

Na safra 2020/2021, o cenário climático pode ser ainda mais severo, com a presença do fenômeno conhecido como La Niña, que influencia a distribuição de chuvas em todas as regiões do Brasil.

O pesquisador Emerson Borghi, da Embrapa Milho e Sorgo, diz que neste início de safra “muitas áreas em quase todos os estados produtores de soja das regiões Centro-Oeste e Norte já estão sofrendo com o atraso de chuvas e tendo o plantio muito prejudicado. Em algumas regiões, para recuperar a área cultivada, o produtor está tendo que trabalhar quase 24 horas por dia para conseguir plantar a soja”.

Plantios tardios aumentam o risco de chuvas ou geadas na hora da colheita da soja e, com isso, ocorre maior atraso na implantação do milho safrinha. Mas os problemas no plantio da soja não são causados apenas pelos atrasos. Produtores do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Tocantins têm iniciado o plantio da soja antes do período chuvoso ou imediatamente após a primeira chuva.

Os produtores esperam, com isso, realizar o plantio do milho safrinha mais cedo, logo após a colheita da leguminosa. Essa prática, entretanto, pode prejudicar não só a germinação e a emergência da planta de soja – já que a semente não encontra água suficiente no solo –, mas também a própria produtividade da cultura.

Borghi explica que essa é uma das vantagens do Antecipe, pois “o produtor vai poder antecipar o cultivo do milho em até 20 dias, antes da colheita da soja. Com isso, ele vai trazer a soja para a época ideal de cultivo na sua região e diminuir os riscos de implantação do milho safrinha”.

O pesquisador alerta, porém, que a Embrapa não está recomendando a mudança do sistema de cultivo de milho safrinha que hoje existe no Brasil. “O Antecipe é uma tecnologia para diminuir riscos. Ou seja: aquele milho que estava sendo plantado fora da época recomendada, agora, volta para a janela ideal de plantio”, destaca.

Dessa forma, o Sistema Antecipe demonstra enorme relevância para redução de riscos na safrinha, que é responsável por mais de 70% da produção nacional de milho e tem potencial de continuidade de expansão.

Além disso, esse sistema de cultivo está alinhado às principais diretrizes estratégicas do governo brasileiro na redução da emissão de gases de efeito estufa e com a Política Nacional de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC).

Karam espera que, “após o lançamento comercial do Antecipe, em 2021, novas pesquisas adaptativas envolvendo outras espécies e regiões possam atender pequenos e médios produtores, especialmente no Nordeste brasileiro”.

Principais impactos

  • Estabelecimento precoce da cultura do milho, com redução de riscos de frustração por perda de produtividade na safrinha, em função das condições climáticas adversas no fim do período do verão e início do outono;
  • Possibilidade do cultivo de milho em sequência ao da soja, mesmo para cultivares de soja de ciclo mais longo, com ganhos consideráveis no sistema de sucessão e/ou rotação;
  • Possibilidade de redução do custo com a operação de produtos químicos (herbicidas para dessecação da cultura da soja e herbicidas pós-emergência do milho);
  • Otimização do uso de insumos com adubação para altas produtividades do sistema;
  • Expansão do cultivo do milho para regiões antes limitadas pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), com mais estabilidade na safrinha, em função da redução de riscos de frustração;
  • Possiblidade de desenvolver novos modelos de cultivos consorciados, iniciando pelo sistema soja/milho, mas podendo ser validado posteriormente, com alto potencial de impacto para outras culturas, como sorgo, trigo, milheto etc., além da possibilidade do cultivo de gramíneas forrageiras para composição de novas modalidades de cultivo para a integração lavoura-pecuária.

Histórico e parcerias

A pesquisa de cultivo intercalar do milho nas entrelinhas da soja começou em 2007, na cidade de Sete Lagoas, Minas Gerais, numa parceria da Embrapa com a Basf. Naquela época, o plantio do experimento era feito manualmente, mas os resultados iniciais já demonstravam o potencial dessa tecnologia.

Em 2010 começou, então, o desenvolvimento do primeiro protótipo da semeadora-adubadora, patenteado pela Embrapa.

Em 2019, surgiu o interesse da empresa Jumil em firmar parceria com a Embrapa Milho e Sorgo visando aprimorar o protótipo da semeadora-adubadora para a obtenção de um modelo de máquina em escala industrial, com potencial valor de mercado para viabilização do Sistema Antecipe no território nacional. Foi então assinado um contrato de parceria público-privada de PD&I em 2020.

O caráter colaborativo e transdisciplinar marca o desenvolvimento do Antecipe. Por se tratar de uma inovação ampla e de grande impacto para a agricultura brasileira, os ativos tecnológicos envolvidos contam com contribuição de diversos especialistas, não só da Embrapa Milho e Sorgo, mas também de outras unidades de pesquisa, como da Embrapa Informática Agropecuária (SP), no desenvolvimento do aplicativo, e da Embrapa Soja (PR), parceira desde o início, nos trabalhos para geração de conhecimento e nos testes de validação do sistema. Para Durães, o Antecipe é um exemplo de como a Embrapa tem ampliado a sua capacidade de estabelecer alianças estratégicas em relevantes temas para o Brasil.

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