Os altos custos de produção marcaram o agronegócio brasileiro em 2021. No Rio Grande do Sul, não foi diferente. Mesmo assim, o ano foi considerado positivo no estado, um dos maiores produtores de grãos do país. Principalmente levando em conta o ano anterior, um dos mais desafiadores para o agro gaúcho.
“Boa parte do Brasil colheu uma safra maravilhosa em 2020 e a vendeu a preços muito bons, enquanto nós, no Rio Grande do Sul, tivemos uma seca enorme, de proporções gigantescas”, recorda o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz. “Tínhamos preço, mas não tínhamos produto para vender”.
Neste ano, contudo, a safra foi cheia, com uma participação forte das culturas de inverno. A área semeada com grãos no estado cresceu 4,4%, ou 396 mil hectares a mais que no ciclo anterior.
A boa produtividade média, aliada à maior área plantada ,resultou na expansão de 43,8% da produção, chegando à marca histórica de 37,631 milhões de toneladas de grãos. O maior aumento deve vir da soja, com elevação de 101,5 mil hectares de área plantada, cerca de 1,9% de alta, em reflexo aos bons preços pagos pela oleaginosa.
Trigo e arroz
O segundo maior aumento de área deve vir do trigo, um acréscimo de 100,5 mil hectares, também como consequência de boas cotações. A valorização do cereal chegou a 68% entre abril de 2020 e abril de 2021.
De acordo com Antônio da Luz, o clima ajudou muito a safra gaúcha, que vem sendo comercializada a preços remuneradores. “Inclusive a safra de inverno, o que não é muito comum”.
O trigo foi destaque na substituição do milho na ração animal, em um ano de escassez do produto no Rio Grande do Sul. Até o arroz foi destinado à nutrição de aves e suínos, ainda que em menor proporção.
“Está sobrando arroz no mercado por falta de contêiner para exportação. Nós exportamos bem menos do que o potencial nos permitia”, lembra o economista-chefe da Farsul, afirmando que esse direcionamento para a ração animal é uma boa alternativa.
A safra 2020/2021 de arroz foi marcada por boas cotações e margens recordes. Já a área encolheu 0,3% frente a 2020, mas a produção do estado aumentou 6% por conta do clima excepcional, que garantiu rendimentos históricos. Os altos custos de produção foram o grande desafio de todos os produtores e devem seguir assim em 2022.
“Quando a margem cai, o risco aumenta, mas quando olhamos pra safra 2022/2023, aí o susto vira problema sério, porque o que todo mundo está falando é o risco iminente de termos escassez no mercado de fertilizantes e alguns produtos químicos”, diz Da Luz. Um produtor que gastou R$ 1 mil para comprar determinada quantidade de insumo, exemplifica, precisaria de R$ 4 mil a 5 mil para a comprar o mesmo volume em 2022, pesando na safra colhida em 2023.
A Farsul projeta para o ciclo atual uma expansão de 1,8% na produção de grãos no estado. O destaque deve vir das lavouras de milho, com incremento de quase 1,37 milhão de toneladas, como reflexo do aumento de área e da expectativa de melhora das condições climáticas.
Pecuária de corte e leite
Na pecuária, depois de uma alta de 28% nas cotações do boi ao produtor ainda em 2020, o cenário de preços seguiu promissor em 2021, apesar do embargo da China à carne brasileira, que durou três meses. “[A suspensão das importações] Foi um recado pela nossa postura perante chineses, mas nós demos outro recado, que eles precisam absorver: passamos 90 dias difíceis e vimos os EUA comprando nossa
carne, ou seja, vocês não estão mais sozinhos, temos outros compradores grandes”, afirma Da Luz. Em sua opinião, a reabertura do mercado da China reequilibrou as forças em 2021 e acena com maior estabilidade para 2022 no comércio internacional.
O aumento das exportações segue ligado à persistente desvalorização cambial, que torna a carne brasileira mais competitiva no mercado externo e estimula os preços no mercado interno. Aqui, a situação é mais complicada, em função do baixo poder aquisitivo da população e da inflação em alta, a exemplo do que ocorre com o leite, outro setor importante no agronegócio do Rio Grande do Sul, que vislumbra dias melhores com vendas internacionais.
A abertura do mercado mexicano de lácteso doi um presente de Natal para os brasileiros, segundo Antônio da Luz. “Eles vêm com muito apetite. Pode ser o início de uma operação mais abrangente, com outros países, e com isso a gente consegue colocar os produtos do Brasil em outras partes do mundo”, diz.
No entanto, ele considera muito cedo ainda para achar que as coisas estão boas para o leite. “Não estão. Hoje, a perspectiva não é boa, mas confesso que essa última notícia [sobre o México] me deixou mais animado.”
Para o próximo ano, Antônio da Luz prevê muitos desafios, mas também muitas fortalezas. “Somos produtores rurais e estamos acostumados com desafios. Não temos dúvida de que seremos vencedores”, afirma.