Os produtores de Sorriso, em Mato Grosso, estão encontrando dificuldades para armazenar o milho segunda safra que está sendo colhido no estado. O problema é que em alguns armazéns ainda há um excedente de soja da safra passada. Sem espaço para armazenar, parte do cereal está a céu aberto, colocando em risco a qualidade do produto.
Luimar Luiz Gemi acompanha de perto a lavoura de milho que está sendo colhida. Com clima favorável, a expectativa é de uma boa produtividade este ano.
– Correu tudo bem, tivemos chuvas além do esperado, a safrinha de milho se desenvolveu muito bem, nós estimamos até o final uma média em torno de 110, 108 sacas por hectare, uma produtividade bem próxima da do ano passado, um pouquinho acima! – comemora o produtor.
Apesar da boa produtividade, o problema de armazenagem preocupa Gemi. Ele é um exemplo do que está ocorrendo na região, tem os armazéns cheios de soja da última safra.
– É bem provável que vai para céu aberto, porque a colheita não pode parar, tem dia que a situação é desesperadora, exemplo: na semana passada que tivemos um dia de chuva, foi muito preocupante, não tinha o que fazer, o milho estava a céu aberto em alguns armazéns e não tinha o que ser feito de imediato, tiveram que deixar na chuva. Complicado, pois gera custos, o preço do milho já é bastante baixo e dificulta e cada vez mais, encarece o custo da lavoura – reclama.
A cooperativa localizada em Sorriso vem enfrentando o mesmo problema. Ela tem capacidade para armazenar cerca de 115 mil toneladas de grãos, 20% do espaço está comprometido com a soja da safra passada. E, apesar de mais de 70% do milho já ter sido vendido, o armazém ainda não é suficiente para guardar o cereal. Resultado: uma montanha de milho a céu aberto.
– O grande motivo desse milho estar a céu aberto, é claro que um pouco por falta de armazenagem, mas principalmente pela questão da logística. Acabou atrasando o embarque de soja, o nosso milho estava vendido e não teve onde estocar. O nosso problema não é caminhão, tem caminhão sobrando, o milho está aí para ser expedido, porém, nós não temos espaço em ferrovias; nos portos, as empresas acabaram fazendo contratos mais longos, para os navios atracarem mais tarde, então, hoje, a logística está embarcando soja e acaba um atrapalhando o outro – relata Anderson Oro, diretor executivo da Cooperativa Agropecuaria Terra Viva Zona Rural em Sorriso (Cooavil).
Na última semana, o milho já pegou chuva, foi avaliado e ainda não está tendo perda de qualidade. Entretanto, se houver mais alguma chuva e o tempo permanecer nublado, a umidade tende a estragar os grãos.
O presidente do Sindicato Rural de Sorriso afirma que o problema só não é maior por dois motivos: o primeiro é que a área cultivada com o cereal nesta safra foi menor; o outro fator que minimiza a situação é que muitos produtores investiram em silos bolsa.
– A cada ano aumenta o uso desse armazenamento nas fazendas, a gente não tem como quantificar a quantidade que tem armazenada, mas a gente sabe que tem muito milho armazenado, e a cada ano a gente sabe que aumenta mais essa prática do silo bag. Então, o milho fica na propriedade, por enquanto não entra na estatística, vai entrar só depois da venda – explica o presidente do Sindicato, Laércio Pedro Lens.
Ele diz que já está apreensivo com o futuro da próxima safra de soja, porque a logística deve continuar prejudicando o escoamento de grãos do município.
– O município, nesses últimos anos, vem batendo em torno de cinco milhões de toneladas, entre soja e milho, e a nossa capacidade estática fica em torno de 3,5 milhões, 3,8 milhões. Então, para 1,5 milhão de toneladas faltaria armazéns. A gente depende de cada safra escoar uma certa quantidade para abrir espaço para a outra – diz Lens.