Apesar de ser conhecida mundialmente pela produção de queijos, a França tem acompanhado um crescimento em sua pecuária de corte. A certificação de origem da carne produzida em algumas regiões valoriza o produto e preserva as tradições, conforme relatou a repórter Roberta Silveira, direto de Prizy, na quarta reportagem da série Sabores da França.
A paisagem de pequenos vilarejos, no coração da frança, é colorida pelo azul do céu, o verde da pastagem e o branco do gado charolês. Tão tradicionais quanto os casarões de pedra, estes animais são a fonte de renda e o orgulho deste pedaço da Borgonha.
Para os franceses, o terroir é tudo o que faz e o que é feito em uma região ser diferente do que é produzido em outro lugar. Por mais que seja o mesmo gado charolês, fatores como o clima, a pastagem, o solo, o manejo, fazem a carne que é produzida neste lugar ser especial e ter esta denominação de origem.
Prizy, uma cidadezinha com 85 mil habitantes, tem uma importância enorme para o gado charolês na França. Há dois anos, a carne de charolês desta região recebeu a certificação de origem protegida que reconhece o diferencial do gado loca. Um grupo de 150 pecuaristas se reuniu para definir as características que devem ser preservadas no processo de produção.
“Eu penso que foi um grupo de criadores apaixonados pelo que eles fazem que decidiram se lançar neste desafio”, relatou o presidente do Sindicato de Defesa e de Promoção da Carne de Boi Charolles, Jean-françois Ravault.
Para o diretor do Instituto de Origem e Qualidade da França, Jean-luc Dairien, o reconhecimento da origem dos produtos faz parte da política agrícola francesa. “Nossa estratégia é de mostrar o interesse que temos para favorecer este dispositivo que é muito importante para uma agricultura familiar, competitiva e ligada a um território específico”, falou.
Deste modo, a legítima carne de charolês, para os franceses, só pode ser produzida nesta região, o que valoriza o produto. Os pecuaristas recebem pagamento acima de seis euros por quilo de carcaça. “Houve uma recompensa financeira, porque a gente vende mais caro o gado que tem a certificação. Mas a gente não faz só gado com a certificação, então, não é possível aumentar muito o preço porque podemos ficar sem compradores. O importante é poder vender”, disse.
Em uma das propriedades criadoras do charolês, somente as matrizes têm ração no coxo e produtos transgênicos e derivados de soja são proibidos para quem produz dentro dos padrões estabelecidos pela certificação. O rebanho de 250 animais come o capim nativo e, antes do abate, a boiada passa dois verões no pasto.
“O que se faz é respeitar a natureza. É importante observar a qualidade e a evolução da planta. O pasto só é oferecido ao gado na parcela que ele precisa e este é o nosso trabalho de manejo: a gente não utiliza nenhum produto, não temos fertilizantes, é tudo nativo”, disse Ravault.
Os animais passam o inverno no estábulo, onde já tem reservas de palhada para os meses mais frios. “O que mudou foi o reconhecimento do trabalho que já era feito pelos nossos ancestrais. Há o reconhecimento do trabalho de engordar o gado no pasto de maneira natural, sem aditivos”, concluiu Jean Marc Vaizand.