A seca no sudeste de Mato Grosso está matando o gado de fome. O pecuarista Antônio de Araújo Sobrinho, de Nova Brasilândia, precisou investir em ração e dividi-la em pequenas porções para manter vivas 20 vacas leiteiras. Mimosa, por exemplo, já perdeu mais de 10 quilos nestes cem dias sem chuvas. “É difícil ver um animal magro desse jeito, aperta o coração. A gente emagrece e fica doente junto”, conta.
Só que a comida não é suficiente para manter a produtividade dos animais. A captação diária caiu de 40 litros para 12 litros, contando o rebanho inteiro, o que afetou a rentabilidade do negócio. “Estou vendendo o litro a R$ 1. Não paga nem o meu custo; a ração custa R$ 700 por tonelada. É da minha aposentadoria que sai o sustento da minha família e do gado”, diz.
Segundo o secretário de Agricultura do município, Cleberson de Souza Rocha, os produtores estão investindo em suplementação — volumoso ou concentrado — e buscando casca de soja e milho para atender as necessidades nutricionais dos animais.
Orivaldo da Rocha Rodrigues perdeu oito vacas para a desnutrição, prejuízo superior a R$ 15 mil. Depois disso, ele passou a alimentar o rebanho de 150 cabeças com silagem de milho vinda de outra região e cana-de-açúcar cultivada na propriedade.
A alternativa garantiu a sobrevivência dos animais, mas aumentou o custo de produção em R$ 0,50 por litro. “Tenho vender bezerros para ajudar, senão a conta não fecha. Para fechar, o leite tinha que ser vendido a no mínimo a R$ 1,50 e estamos vendendo a R$ 1”, lamenta.
Dados da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Nova Brasilândia mostram que o município já teve mais de 120 produtores de leite. Hoje, apenas 55 seguem na atividade, e com muita dificuldade. O índice de produção diária também despencou, de 5.600 para 1.700 litros por dia. Durante a seca, o volume caiu pela metade.
- Minha esposa hoje é faxineira, meu filho dirige caminhão, diz avicultor parado há 1 ano
- ‘Entreguei colhedeira, caminhão e caminhonete e ainda estou endividado’
“Uma grande empresa instalada no município acabou fechando e os produtores ficaram sem opção para comercializar. Também falta alimento barato e assistência técnica. Temos procurado alternativas para atendê-los”, afirma o secretário.
O presidente da Associação dos Produtores de Leite de Mato Grosso (Aproleite-MT), Dolor Figueiredo Neto, conta que preços baixos, insumos elevados e seca prolongada causam estrago no bolso. “Em Mato Grosso, a gente já recebe, segundo pesquisa, cerca de 23% menos que o mercado nacional. Tem que ficar muito atento a isso, pois grande parte está deixando a atividade por não fazer frente aos custos”, diz.