Em Mato Grosso, produtores estão devolvendo áreas de arrendamentos ou deixando de renovar contratos por falta de capital. Limitações de crédito, aumento no valor das renovações e prejuízos tanto na safra de soja quanto na de milho estão as principais causas de desistência entre os agricultores. Para lideranças do setor no estado, esse cenário pode aumentar a concentração de terras entre grandes produtores.
O engenheiro agrônomo Naildo Lopes afirma que, entre 2004 e 2005, havia mais de 800 produtores na região em que atua, entre os municípios mato-grossenses de Nova Mutum e Trivelato. Hoje, ele calcula que o número caiu pela metade. No lugar de pequenos e médios arrendatários, estariam entrando grandes grupos agropecuários, sustenta o agrônomo.
O produtor Alberto Shoupinsk Neto investiu alto em tecnologia, mas o clima frustrou a expectativa de ter boa produtividade no milho. Além de cultivar 700 hectares com o cereal, ele também arrendou 500 hectares em Nova Mutum para plantio de soja. O pagamento anual é de 12 sacas do grão por hectare, o que, segundo ele, tem pesado muito no bolso.
Saindo de perdas no milho, em alerta com mudanças climáticas que podem ser trazidas pelo fenômeno La Niña e preocupado com a instabilidade econômica e política do país, Shoupinsk acredita que não deverá manter a área arrendada. “É melhor parar antes de se endividar mais, levando em conta que para pagar o custo hoje à gente precisa passar de 50 sacas por hectare”, disse.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Querência, Gilmar Dal Losbell, os problemas climáticos enfrentados na região agravaram a situação dos produtores, que já vinham empatando custos. Segundo ele, há muitos casos de arrendatários negociando com proprietários para devolver terras ou baixar valores.
Com o aumento de custos, a baixa das commodities e a elevação no preço dos arrendamentos nos últimos anos descapitalizaram o produtor, disse o presidente do Sindicato Rural de Tapurah, Silvésio de Oliveira. Isso viria estimulando a devolução de áreas de arrendamento mais caras, marginais ou distantes, que teriam maior dificuldade de oferecer lucro.
O representante do Sindicato Rural de Ribeirão Cascalheira, Ivo Cabral de Menezes, afirma que os arrendatários mais antigos, com contratos firmados há pelo menos quatro anos, têm obtido melhores resultados. “(Esse produtor) pegou mais barato, teve mais carência; os mais recentes estão caros, pagam 3 ou 4 sacas (por hectare) já no primeiro ano”.
Para o presidente da Federação de Agricultura de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, o cenário preocupa o setor, pois pode levar à concentração da atividade. Segundo ele, isso vai afastar do processo produtivo arrendatários pequenos e iniciantes, diminuindo sua possibilidade de lucro. “Isso não é bom para o consumidor, não é bom para os produtores, não é bom para ninguém”.
O setor cobra do governo políticas de apoio para que pequenos e médios produtores permaneçam na atividade, gerando renda em seus municípios. “Há uma necessidade de que a gente tenha um custo mais baixo de produção, e que o clima nos ajude para a gente continuar produzindo”, afirma o engenheiro agrônomo Naildo Lopes. Já para Dal Losbell, seria necessário criar uma nova linha de crédito para que o produtor pudesse saldar dívidas e continuar na lavoura.