Seminário pressiona governo para tirar Plano Nacional de Irrigação do papel

Brasil utiliza apenas de 10% de seu potencial de irrigação 

Fonte: Reuters / Paulo Whitaker

Um seminário da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) está pressionando o governo para tirar do papel o Plano Nacional de Irrigação. O último levantamento, do final de 2014, que está servindo de base para traçar políticas públicas para os irrigantes, revela que o potencial do Brasil para irrigar é de 60 milhões de hectares, mas a inoperância do governo e a burocracia faz com que apenas 10% desse potencial seja usado na prática

Dos 6 milhões de hectares em plena produção, menos de 500 mil vem do investimento público. Neste debate sobre o uso sustentável da água na agricultura e os modelos de sucesso em outros países, o presidente do Sindicato Rural de Cristalina, em Goiás, fez duras criticas à falta de ação do governo em projetos que não saem do papel.

– Nós temos projetos lá que é para o governo fazer, que estão há 20 anos esperando, desde 1997 que estamos esperando e até hoje não temos nem o projeto da barragem de Guruçu. Temos projetos em Cristalina que foram feitos mas não conseguiram fazer funcionar. Então, a gente esperar em uma situação dessas… demora tanto e a gente morre e não vê – afirmou Alécio Maróstica, produtor irrigante e presidente do Sindicato Rural de Cristalina.

Segundo Bruno Lucchi, superintendente técnico da CNA, é necessário que haja uma sintonia maior entre os órgãos públicos e a comunidade privada para que o máximo do potencial brasileiro seja utilizado.

– O Brasil hoje tem condições de chegar a produções elevadíssimas – afirmou o superintendente.

Um dos exemplos mostrados nesta terça, dia 19, no evento vem da Austrália. Lá a água é tratada como commodity, quem tiver a outorga pode negociar com quem precisa. Por exemplo, se o produtor resolve reduzir a área de determinada cultura, pode vender parte da água que tem direito para a indústria ou para uma geradora de energia elétrica. O mercado movimentou mais de US$ 2 bilhões no ano passado. Na maior bacia hidrográfica da Austrália, a vazão de um ano do Rio Murray-Darling equivale a apenas um dia de vazão do rio Amazonas, mas lá produz US$ 10 bilhões em alimentos irrigados, em mais de 1,7 milhão de hectares.

– Se você me oferece mais dinheiro pela minha água do que a minha cultura me oferece este ano, porque no mercado internacional a minha cultura está com preço baixo, eu vendo meu direito de água pra você, e vou usar uma cultura que não use tanta água, e vou receber mais dinheiro ainda. Se ele quer produzir energia elétrica, precisa de mais água. Estou bem alegre de sentar e discutir quanto vai pagar pela minha água – afirmou Marcelo de Souza, representante da Austrália e secretário da Plataforma de Recursos Hídricos da FAO, órgão das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.

Para o diretor da Secretaria de Irrigação do Ministério da Integração Nacional, para usar um modelo como o da Austrália falta mudar o conceito da sociedade e tirar a visão de que a agricultura é vilã do consumo.

O Plano Nacional de Irrigação ainda está na fase de estudos, ouvindo os diversos atores do processo.

– É importante considerar esses aspectos na hora de definir a atividade de agricultura irrigada e as infraestruturas necessárias para implantar os projetos de irrigação como de interesse social, dessa forma o analista ambiental teria possibilidade de autorizar a supressão de áreas de preservação permanente, a APP, como a mata ciliar, para construir essa infraestrutura para acumular água e quando chegar o período de escassez você ter água para fazer irrigação e produzir alimentos para população urbana – completou o secretário Cristiano Zinato.