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Setor de cana começa a sair da crise em 2015 com retomada de preços de etanol e açúcar

Mais de 80 usinas encerraram atividades no país nos últimos anos, mas a cadeia sucroenergética deve voltar a crescer em 2016

O setor sucroenergético brasileiro começou a viver uma mudança de cenário em 2015, após enfrentar uma das piores crises da história. Em anos recentes, mais de 80 usinas encerraram atividades no país. No ano recém-terminado, os preços do etanol e do açúcar tiveram recuperação e movimentaram a cadeia produtiva da cana-de-açúcar, que deve voltar a crescer em 2016.

Logo início do ano, as lavouras sinalizavam que 2015 seria diferente, pois as chuvas ajudaram o desenvolvimento dos canaviais. A área de cana do produtor Ademir Ferreira de Melo Júnior não foi beneficiada por chuvas em janeiro, mas, a partir de fevereiro, recebeu muita umidade. 
Melo Júnior investiu pesado para recuperar o prejuízo das últimas safras, e, neste ano, estimou uma produtividade superior a 100 toneladas por hectare.

Etanol

Assim como o aumento de produtividade, o preço dos combustíveis também animou o setor. Em Minas Gerais, a redução da alíquota sobre o etanol hidratado, de 19% para 14%, e o reajuste no preço da gasolina estimularam o consumo no mercado interno.

Redução de alíquota sobre etanol em MG fez estado consumir 2 bilhões de litros no ano, o triplo do projetado

Com a mudança, o estado deve computar quase 2 bilhões de litros consumidos em 2015, o triplo do que foi inicialmente projetado. A expectativa foi superada principalmente pelo processamento da primeira parte da safra, obtida entre abril e agosto, de acordo com o presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos.

“O produtor foi obrigado a vender o produto por um valor muito baixo e isso refletiu em uma relação muito próxima de 60% na bomba. O consumidor, dentro do contexto econômico no país, optou pelo combustível mais barato”, diz o representante das usinas mineiras.

Açúcar

A elevação das cotações de açúcar foi a boa notícia do segundo semestre do ano para o setor de cana. Em dezembro, a saca de 50 kg do produto foi comercializada a R$ 80,19, maior valor registrado desde 2012. 

De acordo com o diretor da Archer Consulting Arnaldo Corrêa, durante muito tempo o mercado internacional de açúcar demonstrou uma correlação muito estreita com a flutuação do dólar. Toda vez que a moeda americana se valorizava em relação ao real, o preço do açúcar lá fora em dólar caía. 

“Isso foi abandonado a partir de setembro, com a entrada dos fundos comprando agressivamente no mercado de açúcar lá fora e isso elevou os patamares. Para o exportador, a usina, o preço foi de R$ 1.000 para R$ 1.300 por tonelada”, afirma Corrêa.

Dívida

Mesmo com a retomada dos preços do açúcar e do etanol, o setor ainda enfrentou dificuldades. Algumas usinas a fecharam as portas, como reflexo da má administração e de prejuízos acumulados em anos anteriores.

O diretor da Archer Consulting calcula que o setor sucroalcooleiro deva hoje cerca de R$ 90 bilhões, que é aproximadamente o mesmo valor faturado anualmente, se contabilizada também a energia.

“Imagine você ter uma dívida que é o tamanho do seu faturamento em um ano. Isso porque está melhorando, porque, se a gente pegar de uns tempos atrás, iria falar de uma dívida em torno de 120% a 130% da receita”.

ATR

No último trimestre do ano, as chuvas prejudicaram a colheita da cana em diversas regiões do país. No interior paulista, usinas interromperam atividades por três semanas. O atraso reduziu a quantidade de açúcar total recuperável da cana (ATR), e comprometeu a rentabilidade dos produtores.

Os meses em que o índice de ATR atinge o pico vão de junho a agosto, afirma o engenheiro agrônomo Pedro Carvalho Wiezel. “Se a chuvas se antecipa, como ocorreu esse ano, acaba prejudicando tanto a colheita como a maturação da cana que estava no pico de ATR e volta a vegetar, perdendo assim um pouco de qualidade do produto na indústria”, explica.

O Brasil deve encerrar 2015 com uma moagem superior a 600 milhões de tonelada, aumento de 3,8% em relação à safra passada, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mais da metade do volume total processado deve ser destinado à fabricação de etanol. O restante foi utilizado na produção de açúcar, devendo somar 34,06 milhões de toneladas, uma redução de 2,7% sobre 2014.

Perspectivas

O fator positivo de 2015, segundo o secretário de Política Agrícola Ministério Agricultura, André Nassar, é que houve recuperação de produtividade no Centro-Sul. “É muito relevante, porque a produtividade está baixa há alguns anos e isso afeta a rentabilidade. Acho que as perspectivas de mercado são boas”, disse.

O ano foi de recuperação para a usina Alta Mogiana. A empresa encerrou a safra com 5,3 milhões de cana processadas, 3% a mais do que a estimativa inicial. O diretor comercial da usina, Luiz Gustavo Junqueira, se o câmbio não apresentar grandes mudanças, é possível acreditar no início do declínio do endividamento das usinas, o que traria novos investimentos para o setor no futuro.

Para 2016, a expectativa do setor é positiva. As empresas de consultoria esperam um déficit de 5 milhões de toneladas de açúcar, o que deve elevar as cotações do produto. Já o etanol deve manter os preços atualmente praticados no mercado interno.

Segundo a presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Elizabeth Farina, o compromisso que o Brasil levou para a conferência do clima em Paris (COP-21), de reduzir emissões entre 2020 e 2030, coloca uma grande responsabilidade no setor de energias renováveis, tanto em relação à produção de biocombustíveis quanto à geração de energia elétrica.

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