O setor de máquinas e implementos agrícolas sofreu fortemente os impactos da crise econômica. Neste ano, as vendas caíram mais de 30% em relação ao ano passado – o pior desempenho desde 2008, quando o país também foi afetado pela recessão mundial.
Incerteza política, crise econômica, promessas de financiamento que não saíram do papel, dificuldade de acesso ao crédito. Tantos problemas resultaram em um produtor receoso e em um faturamento do setor 33% menor do que em 2014. Nem mesmo a Expointer, feira realizada em Riberião Preto (SP) onde se fecham grandes negócios, principalmente relacionados a implementos agrícolas, conseguiu reanimar o setor. A queda nas vendas no evento chegou a 37%.
Foi um ano para esquecer
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), Cláudio Bier, um fator que contribuiu negativamente para o desempenho das vendas foram as diversas taxas praticadas ao longo do ano. Foram três taxas distintas. “Depois, simplesmente suspenderam os financiamentos, principalmente do PSI [Programa de Sustentação do Investimento], que era um instrumento muito forte que nós tínhamos”, afirma Bier.
O faturamento estimado era de R$ 100 bilhões para este ano e vai chegar, com muito esforço, a R$ 70 bilhões. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza, o corte de financiamentos foi um dos principais fatores a prejudicar tão intensamente o setor.
O Rio Grande do Sul é o maior fabricante de máquinas agrícolas do país. Apesar da forte crise, não houve fechamento de indústrias, mas o movimento caiu muito. Uma só concessionária vendeu 24% a menos que em 2014. A indústria precisa dos financiamentos, já que praticamente 100% das vendas são feitas através deles.
O ano de 2015 foi muito difícil com relação ao fornecimento de recursos para financiar máquinas, com diversas interrupções nas linhas de crédito, de acordo com o gerente-geral de vendas Eliandro Gonçalves Soares. “Nós tivemos muitas vezes que efetuar retrabalhos na condução dos financiamentos dos nossos clientes e isso acabou gerando uma certa morosidade na execução dos processos e, principalmente, no faturamento”, diz.
É como diz o ditado: em meio à crise é preciso criar. Nem que sejam novas formas de enxergar o próprio negócio. Para Soares, os anos de crise podem ser vistos como oportunidade para fortalecimento das relações com os clientes, através de um pós-venda de maior qualidade. “O cliente também tem demanda por maior tecnologia, de maior especificação de suas máquinas”, afirma o gerente.
Perspectiva 2016
Para 2016, o segmento espera queda ainda maior nas vendas. Por outro lato, a esperança do setor está na liberação de R$ 1,5 bilhão do governo federal para financiamentos e também nas exportações, principalmente para a Argentina.
Claúdio Bier, do Simers, queixa-se de que a ex-presidente Cristina Kirchner chegou a não liberar os produtos brasileiros. “Uma plantadeira ela só liberava depois que passava o plantio, colheitadeira só liberava depois que passava a colheita. O produtor brasileiro foi se desinteressando do mercado argentino”. Segundo o executivo, a proximidade com a Argentina e o menor facilitam as negociações, “Nem o governo daqui, nem o governo de lá podem atrapalhar”.
Soares afirma também que tudo vai depender da questão cambial. Com o dólar se mantendo em patamares iguais aos atuais, com certeza o ano será bom para a exportação.
Apesar da esperança de retomada, o setor já começa o novo ano com uma preocupaçã: a possibilidade de aumento de 50% da alíquota de importação do aço, a principal matéria-prima das máquinas.