Um sistema inédito para a colheita de feijão elaborado por um produtor tem chamado a atenção do setor. O kit, criado pelo agricultor de Goiás Valter Malagutti, é encaixado sem mexer na estrutura original da máquina e, além de reduzir as perdas, com um corte a 10 milímetros do chão, promete um produto mais limpo.
Por enquanto, agricultores estão contratando o serviço de Valter, mas logo o sistema vai ser fabricado e comercializado. “Eu não sei como o engenheiro faz, ele deve fazer um cálculo no computador. E eu não sei nem ligar o computador, então o cálculo é feito da cabeça”, disse Malagutti, sobre a tecnologia para a colheita do feijão, batizada por ele de Mega Flex 10.
O trabalho é resultado de uma adaptação das funções da colheitadeira, em um estudo que começou na década de 1980 e há três anos virou realidade. “Já teve várias tentativas com máquinas pra render mais a colheita, mas enrosca na terra, onde você pode perder de 6 a 7 sacos, o que torna o trabalho inviável. Nesse sistema, você consegue diminuir a perda de 50% a 60% devido à flexibilidade”, disse.
“A gente fez o sistema de corte pra cortar baixo, com barra mais fina, com dedo individual pra não travar a flexibilidade da barra. Mancal com rolamento pra barra poder trabalhar e acompanhar o chão e, o que é mais importante, a regulagem de altura de corte”, completou.
Segundo Valter, foi retirada a peça original e colocada outra, fabricada por ele. Usando o mesmo parafuso, a mesma porca, de modo que quando for colher soja, o produtor tira o sistema de colher feijão e coloca o de colher soja, deixando a máquina na função original, sem nenhum dano na estrutura.
A colheita tradicional do feijão tem até três procedimentos, ou seja, três máquinas: do corte das plantas ao recolhimento do grão. Com o sistema, é preciso apenas uma colheitadeira. O resultado é positivo, segundo o gerente de fazenda Anderson Castro, que conta que ganhou dois dias de trabalho em uma área de 140 hectares, reduzindo em 30% o custo de operação com combustível e mão de obra.
“Mesmo a empresa tendo a estrutura pra realizar esse trabalho hoje, a gente optou por terceirizar. Conseguimos um feijão mais limpo e com uma cor melhor, o que influencia diretamente no preço”, disse Castro.
Investimento
O investimento para construir o sistema Mega Flex 10 varia de R$ 60 a R$ 70 mil reais. Ele foi patenteado e agora vai ser fabricado para comercialização, mas ainda sem preço definido. Até o momento, Valter instalou o kit em 6 máquinas, que já colheram mais de 10 mil hectares de feijão no Distrito Federal, em Goiás, Minas Gerais e na Bahia. O produtor nunca estudou engenharia e explica que, além da habilidade com números e sistemas, contou com a experiência de quem já pisou muito na terra.
“Só tenho o quarto ano do primeiro grau e não tenho nem diploma. Isso foi no dia a dia do trabalho, dedicando. Eu sempre fui contra perdas e venho trabalhando no sentido de aproveitar cada vez mais a lavoura. A gente mexe com feijão há mais de 40 anos e essa ideia acabou chegando quando percebemos que o mundo está se modernizando”, finalizou.