Soja mantém aposta na China apesar de retração de exportações

A receita das exportações do agronegócio brasileiro em junho somou US$ 9,130 bilhões, queda de 5% em relação ao mesmo mês de 2014

Fonte: Carlos Burin/Arquivo Pessoal

Números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior brasileiro apontam que as exportações nacionais para a China nos primeiros seis meses de 2015 apresentaram queda em relação ao primeiro semestre do ano passado. Mesmo com a forte desvalorização das ações na bolsa de Xangai, o mercado de commodities no Brasil tem se mostrado despreocupado, já que a demanda de produtos como a soja aumentou. 

A receita das exportações do agronegócio brasileiro em junho deste ano somou US$ 9,130 bilhões, uma queda de 5% em relação ao mesmo mês de 2014. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), os principais setores exportadores foram o complexo de soja, com 49,1%; carnes, com 14,6%; e produtos florestais, que representaram 9,8% do valor das vendas externas brasileiras no mês passado. 

A China permanece como principal importadora dos produtos brasileiros.

Mesmo ocupando a posição de liderança nas compras do Brasil, o país asiático importou menos produtos agropecuários do Brasil no primeiro semestre de 2015. A receita das exportações foi 17,5% menor em relação aos primeiros seis meses do ano passado, somando o total de US$ 11,750 bilhões.

O analista Fernando Pimentel considera que a diminuição do valor dos embarques para o principal importador do Brasil está diretamente relacionada à maior oferta mundial de commodities como a soja, e também à preferência chinesa pelo mercado americano do grão.

– Nós temos, eventualmente, uma migração de interesse comercial, a soja cresceu 4% em volume no Brasil e lá nos Estados Unidos cresceu 13% no período de um ano. Então, teve aí uma opção comercial maior para o lado dos americanos. Nós tivemos uma queda de valor em função de uma sobreoferta internacional, nós tivemos uma grande safra americana, que trouxe os preços pra um patamar de US$ 10 por bushel. O milho foi o grande perdedor, trabalhando bem abaixo dos US$ 4, então tudo isso, na hora que você coloca na pauta de exportação, essas reduções de preços, do próprio café, do açúcar, você vê que realmente o faturamento da exportação caiu. É uma questão de revaloração do ativo. Ativo soja, ativo milho em dólar, eles perderam valor – esclarece o sócio diretor da Agrosecurity.

Apesar da preocupação mundial com a forte desvalorização das ações na bolsa de Xangai, a demanda anual de alimentos do país não deve ser reduzida, de acordo com o analista. 

– Mesmo nesse cenário adverso, eu não vejo uma saída pra China reduzir importação de alimentos, não falta dinheiro pra eles. A China tem uma economia controlada e estímulos de importação de alimentos são simples pra se construir, então não vejo uma razão da China correr o risco de ter uma instabilidade social por falta de oferta de proteínas, e o que a gente tem pra exportar pra eles – interpreta Pimentel.

A Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec), também mantém uma postura otimista, principalmente por causa do aumento no volume de exportações de soja no primeiro semestre de 2015.

– Eu acho que as exportações pra China continuam boas. Nós estamos falando aqui de comida, e o que motiva essa preocupação é minério de ferro, esses outros itens intimamente ligados à parte econômica propriamente dita. Quando se fala em alimentação, soja, eu não acredito que vá haver redução por parte dos chineses, mesmo porque essa crise já está instalada há algum tempo e não foi isso que nós assistimos no primeiro semestre, a gente exportou mais do que a gente pensava – diz Sérgio Mendes, presidente da Anec.

Sobre quantidades, Mendes aposta que vão “permanecer por aí”:

– Quem sabe com um pequeno crescimento, como tem acontecido nos anos anteriores. E o preço vai ser sempre uma interrogação, dependendo da safra americana, da nossa, da Argentina, tudo isso acumulado é que vai determinar os preços.