Suinocultura teve ano difícil com custo alto e mercado interno fraco

Preço do milho e redução do consumo de carnes afetaram a indústria; cenário foi melhor para integrados e exportações

Fonte: Canal Rural

Custos altos e fraco desempenho do mercado interno foram os responsáveis por terem tornado 2016 um dos anos mais difíceis para a suinocultura. Mas o cenário foi bem mais generoso com os produtores integrados à indústria.

2016 é um ano para ser esquecido

Para Dirceu Bayer, presidente da Cooperativa Languiru, a segunda mais importante do Rio Grande do Sul, 2016 é um ano para ser esquecido. Por causa da crise na economia do país, que se refletiu na diminuição no consumo de carnes, a empresa teve que demitir funcionários e mexer no mix de produtos. Ele afirma que a cooperativa processava cerca de 80 produtos suínos diferentes. “Nós restringimos esse número praticamente à metade, elegendo aqueles de maior margem”, diz Bayer.

De acordo com o analista de mercado da MBAgro Cesar de Castro Alves, o custo total de produção da suinocultura cresceu quase 30% até outubro, e deve fechar o ano nesse mesmo patamar. “E os preços não andaram o suficiente para fazer frente a esse choque, o que virou um prejuízo líquido para a cadeia”.

Em 2016, o farelo de grãos, matéria-prima para a ração dos animais, subiu mais de 60%. “Nós chegamos a transformar milho custando R$ 62 a saca, quando em anos anteriores esse valor chegava a R$ 30”, diz o presidente da diz o presidente da Languiru. O alento para o setor só veio em outubro, quando a saca desceu para o patamar de R$ 36.

Nesse meio tempo, indústrias como a da cooperativa gaúcha absorveram o alto custo dos insumos. “Ela não repassou isso para o produtor, que, com isso, consegue se manter na atividade”, reconhece o suinocultor integrado Flávio Lerner. Ele conta que, em razão de insumos caros e baixo preço do suíno, não compensava mais manter uma criação independente. “Então resolvi partir para a integração, quando pude aumentar minha granja e obter um pouco mais de lucro na atividade”, afirma Lerner.

Exportações

Se o mercado interno não foi dos mais positivos, ao menos a suinocultura brasileira teve um bom desempenho nas exportações. “Abrimos mercados e ampliamos bem nossa presença, especialmente na Ásia. Nós éramos dependentes da Rússia. Hoje, a China entrou como forte compradora, Hong Kong aumentou também”, enumera o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.

Castro Alves, da MB Agro, no entanto, acredita que os resultados das vendas externas foram muito subordinados à China. “Nós saímos da casa de 600 mil toneladas (embarcadas para o país) e vamos provavelmente crescer 35%. Então, se não fosse a China, a gente teria uma situação muito mais complicada”, analisa.

Perspectivas

A grande oferta de grãos traz otimismo para 2017. Bayer, da cooperativa gaúcha, afirma que as empresas brasileiras já estão importando milho dos Estados Unidos, que registra uma boa colheita do cereal. “E existe a expectativa de uma safra de milho nacional muito importante também”, diz.

A aposta do suinocultor Flávio Lerner também é em um ano melhor. “Espero que continue assim ou melhore um pouco ainda, para a empresa poder melhorar ainda mais o preço pago ao produtor”.

Turra, da ABPA, por sua vez, acredita que a sanidade animal e de alguns produtores em outros países podem ajudar o Brasil a conquistar mais mercado. Ele lembra, por exemplo, que oito países europeus, Ásia e EUA estão com alerta de gripe aviária. “Disso tudo, temos que tirar como lição que essa é uma oportunidade para nós estarmos prontos, preparados, mantendo sanidade, qualidade e todas as virtudes”, afirma.