Em um ano complicado que se encerra, vários setores da agropecuária enfrentaram desafios para garantir que a alimentação da população não fosse afetada. Pensando nisso, conversamos com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) para fazer uma retrospectiva do último ano e uma projeção para o ano de 2021.
Segundo o presidente da entidade, Joel Krüger, um dos principais desafios para a área foi encontrar a tecnologia para se reinventar em um ano tão turbulento. “A sociedade precisou da engenharia. Então vamos olhar o que aconteceu nos primeiros momentos da pandemia, que foi a quarentena. As pessoas ficaram em casa, mas pra elas ficarem em casa, elas precisam de internet e uma internet cada vez melhor e quem fornece isso? É a engenharia. Elas necessitavam de água, elas necessitavam da coleta de lixo, elas necessitavam do tratamento de esgoto e quem fornece isso? Quem fornece é a engenharia. As pessoas precisavam de alimento e quem fornece isso? É a engenharia, a agronomia. Então, na realidade, desde o primeiro momento dessa crise sanitária a engenharia, a agronomia, as geociências são parceiros estratégicos para atender a qualidade de vida de toda a sociedade em suas necessidades mais básicas”, disse.
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Ele fez questão de agradecer todos os profissionais essenciais que se mantiveram firme em todos os momentos da pandemia. “A gente agradece a todos esses profissionais que se dedicaram e colocaram a vida em risco, mas dentro dos hospitais tem uma engenharia embarcada muito forte. Nós temos a manutenção de todos os equipamentos médicos. Os próprios respiradores que foram tão falados, precisam funcionar adequadamente e quem faz funcionar esses respiradores? A engenharia. Entrega na condição dos profissionais de saúde operar. Todos os equipamentos de laboratório para exames é a tecnologia, engenharia. A qualidade do ar, que é muito importante quando nós temos um vírus que é transmitido principalmente pelo ar, então em ambiente confinado, nos hospitais, em outros espaços de ambiente confinado a qualidade do ar é fundamental”, ressaltou.
Saindo da cidade e indo para o campo, Krüger falou da importância da agronomia na produção de alimentos. “Neste ano, fizemos como sempre e entregamos quantidades enormes de alimentos para o Brasil e para o mundo, mesmo com a pandemia. A agronomia ajuda a bater recordes de produção e, com todos os cuidados sanitários, conseguimos avançar e sair relativamente fortalecidos deste momento difícil que nós estamos vivendo ainda na realidade”.
A ciência é uma importante aliada do produtor brasileiro, afinal, o Brasil é uma potência na geração de alimentos. “Os grandes compradores, todos eles, operam com o Brasil. Então nós temos uma agricultura de qualidade, uma agricultura com alta produtividade e quantidade, volume para atender não só as nossas necessidades como as necessidades do mundo. Só que esta agricultura está dividida em dois blocos, a avançada e a familiar, que carece ainda de tecnologia”, disse.
Segundo ele, a tecnologia embarcada nas máquinas e maior conhecimento tem feito o país aumentar, ano após ano, a produtividade, sem ter que aumentar a área plantada. “Mas a agricultura familiar ainda é carente de assistência técnica. Muitas não têm o acompanhamento técnico do engenheiro agrônomo e utilizam técnicas que, do ponto de vista do conhecimento científico, já não seriam as mais adequadas. Nós teríamos técnicas mais modernas para esse plantio”, ressaltou.
Por esse motivo, afirma ele, há um trabalho do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia junto com os Conselhos Regionais e secretarias estaduais de Agricultura, aliado aos órgãos de assistência técnica, para que se possa levar assistência aos pequenos.”
O Confea defende que o formato ideal para o ensino de engenharia, de agronomia, de geociências é o ensino presencial de qualidade. No entanto, compreende que não se deve ignorar a necessidade de um ensino à distância para atender regiões remotas do Brasil. “Para atender todo mundo, você teria que levar universidades, escolas de engenharias a todos os lugares do Brasil e isso é inviável”, completou.
Por fim, Joel Krüger falou sobre a área de engenharia florestal, que está muito demandada no Brasil nos últimos anos. “O manejo florestal no Brasil é um tema que precisa ser trabalhado com muito carinho porque existem algumas situações que não refletem a realidade. Afinal, uma floresta não quer dizer que não possa ser cortada nenhuma árvore. Existem áreas que são de absoluta preservação, mas em outras é permitido o manejo florestal e, se é permitido o manejo florestal, o engenheiro florestal autoriza o que pode e o que não pode ser feito. Se nós não tivermos esse cuidado na área ambiental, isso pode se refletir nas exportações de produtos brasileiros, onde pode ter represálias por determinados países colocando restrições por essa questão ambiental. Então, essa relação da engenharia florestal, o manejo florestal também é um tema que a gente precisa trabalhar com bastante atenção”, finalizou.