A construção do Ferrogrão foi debatida nesta terça, dia 24, em Brasília. Se por um lado o setor produtivo defende que ferrovia ajudaria no escoamento da produção de grãos, por outro, ambientalistas e indígenas temem que a obra cause impactos ao meio ambiente e à vida dos moradores da região.
Representante da Associação de Índios do norte de Mato Grosso e sul do Pará, Alessandra Korap, defende que a passagem de uma ferrovia na região causaria impactos ambientais e sociais. “Vem o desmatamento, a contaminação e os agrotóxicos nos rios. Não é apenas a ferrovia, pois por trás dela vem os portos de soja e mais desmatamento, porque eles precisam de milhares de hectares para plantar soja”, disse.
A construção da ferrovia foi debatida em audiência pública no Congresso Nacional. Parlamentares querem saber qual é a viabilidade da obra, já quero projeto prevê mil quilômetros em um trecho que ligaria Sinop (MT) a Itaituba (PA).
O trecho atravessaria áreas indígenas e também o Parque Nacional do Jamanxim, na região de Altamira, no Pará. O deputado que propôs a audiência pública, Nilto Tatto (PT), acredita que a obra é uma ameaça à fauna e flora da região.
“Toda vez que se abre uma estrada na amazônia, pelo menos 100 quilômetros no entorno dessa estrada sofre com desmatamento. Isso pode fazer com que a grilagem de terra avance por causa de uma eventual especulação imobiliária”, disse o parlamentar.
Em menor número no encontro, o setor produtivo também se manifestou e defendeu a construção da ferrovia. O principal argumento é a necessidade de aumento da produção de grãos no mundo segundo a Organização das Nações Unidas para agricultura e alimentação, sendo que mais de 60 milhões de toneladas de soja precisam ser produzidos para atender a demanda mundial até 2026.
“Nós precisamos dessa ferrogrão, pois é uma forma de aliviar outros modais dos portos do centro-sul. Com essa ferrovia, poderemos trabalhar mais com o Arco Norte, diminuindo o custo do transporte e também o impacto ao meio ambiente, já que esse modal gera menos gases de efeito estufa do que quando se utiliza caminhões”, comentou o diretor-executivo da Aprosoja, Fabrício Rosa.
Segundo Fabrício, o desmatamento irregular de áreas ao redor das ferrovias será combatido com base na legislação ambiental. “Existe uma legislação ambiental que vai ser aplicada naquela região. O que for desmatado ilegalmente vai ter que ser recomposto.”
O representante da Associação Terra do Xingu não descarta a possibilidade de diálogo com ruralistas, desde que haja compensação ambiental pela passagem da ferrovia em áreas indígenas e de preservação.
“Apoiamos um levantamento para que possa ser feita a recuperação de 100% das nascentes do rio Xingu. Essa é a nossa proposta”, disse Wareaiup Yoriwe Kaiabi.