A soja, principal commodity produzida no país, rendeu muita preocupação aos produtores em 2019. Preço, clima e um possível fim da Lei Kandir tiraram o sono de muita gente. Confira os principais acontecimentos que marcaram o ano e saiba o que deve movimentar o setor em 2020.
Antes da colheita da safra 2018/2019, uma preocupação não saía da cabeça dos produtores rurais: um longo veranico. Ele chegou de surpresa, bem na fase de enchimento de grãos e, trouxe muitos prejuízos.
“Temos o sentimento de que é um trabalho de dois meses a três meses jogado fora. A gente vira mais um ano sem aquela colheita esperada e sem o lucro esperado também”, diz o coordenador técnico, Gilmar Otávio Mera.
O resultado final é uma colheita de 115 milhões de toneladas no Brasil, queda de 3,6% se comparado à safra anterior. A produtividade foi 5,5% menor também. Para piorar, quando o produtor começou a pensar na próxima safra, tomou um susto com os altos custos de produção.
“Vendi, no passado uma saca a R$ 85 e hoje está na faixa de R$ 68. Então a soja baixou bastante e o nosso custo com diesel, fertilizante e adubos, subiu muito”, diz o produtor Ademir Caldana.
Mercado muda
A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos beneficiou a soja brasileira. Os prêmios subiram nos portos e, consequentemente, os preços também. Agora que os dois governos parecem estar dispostos a fechar uma primeira fase de negociações, as exportações americanas para os chineses tendem a aumentar e, com isso, mexer com as cotações.
“De um lado isso tende a levar a um aumento no preço da soja na Bolsa americana, por uma maior demanda vinda da China e menores estoques nos Estados Unidos. Por outro lado, o Brasil terá um prêmio menor ou até negativo sobre a soja. Deve haver uma compensação, mas com certeza não teremos preços melhores por conta disso”, diz José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da consultoria MB Agro.
O que esperar para 2020
A safra 2019/2020 começou com preocupação para os produtores rurais brasileiros. Na maior parte do país, as chuvas demoraram a chegar ou ficaram irregulares e a semeadura atrasou.
Agora a situação está melhor e a previsão da Conab é colher 121 milhões de toneladas, 5,3% a mais que na safra anterior e, com isso, ultrapassar a produção norte americana, estimada em 96 milhões de toneladas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Mas no campo ainda há preocupação em relação a produtividade, pois em um mesmo estado, como o Paraná, há produtores colhendo 30 sacas por hectare e outros com expectativa de conseguir até 80 sacas por hectare.
“Em 2019 tivemos preocupação com a produção de soja, o clima atrapalhou muito. Mas nesta safra o tempo foi melhor para nós e temos a perspectiva de conseguir um recorde na fazenda e colher até 80 sacas por hectare”, diz o produtor de Ponta Grossa, Lucas Dobzynski.
Em 2019, os embarques de soja para o exterior caíram 4,5% na comparação com o mesmo período de 2018, muito por conta da peste suína africana, que diminuiu a demanda por grãos da China. Em 2020, a redução da oferta de carne suína na China deve ser de 15% na comparação com este ano. Mesmo assim, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), estima que o Brasil consiga manter a média de exportações neste novo ano.
“É possível que a gente consiga algo em torno de 75 milhões de toneladas no ano, o que é muito bom”, diz Sérgio Mendes, diretor da Anec.
Enquanto isso, os produtores andaram preocupados com o possível fim da Lei Kandir, que isenta o pagamento do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de produtos primários, como os grãos, enviados para exportação. Sem ela, o temor era de que os grãos do Brasil perdessem a competitividade.
Uma proposta de emenda na Constituição, que tramita no senado, prevê o fim da isenção do ICMS sobre produtos não industrializados. A PEC está pronta para ser votada.
“O senador Anastasia tinha um projeto. Nós conversamos com ele, eu e outros senadores, ele já retirou de pauta a questão dos grãos, a soja principalmente, que entrava na Lei Kandir”, diz o senador, Luis Carlos Heinze.