Na região sul do Tocantins, as chuvas irregulares comprometeram as primeiras áreas cultivadas. A colheita já começou com perdas de produtividade de até 20 sacas por hectare em algumas fazendas. Nas áreas replantadas por causa da seca, há ainda um aumento de dez sacas por hectare nos custos de produção. Apreensivos, os agricultores aguardam novas chuvas para que as lavouras mais tardias produzam bem e ajudem a minimizar os prejuízos.
O produtor Leandro Rogério Lima, de Gurupi (TO), já está na terceira safra seguida com um investimento mais alto para tentar colher uma média de 70 sacas por hectare. Só que mais uma vez, ele viu parte da lavoura ser comprometida pelo mesmo problema de anos anteriores: a irregularidade da chuva no início do ciclo da lavoura.
“Comecei em novembro, mas em seguida a coisa ficou feia pois não chovia. Entrou dezembro e pensei que fosse melhorar, mas só choveu 40 milímetros. Em janeiro tivemos mais alguns veranicos e só no final do mês as chuvas retornaram”, afirma Lima.
A diferença em relação às safras anteriores foi justamente o impacto que esta seca trouxe, já que ela comprometeu 30% da área e causou perdas de 20 sacas por hectare na produtividade, no mínimo. Para tentar minimizar o problema, o agricultor replantou algumas áreas comprometidas e teve que desembolsar o equivalente a 10 sacas a mais por hectare com a compra dos insumos. Prejuízo de mais de R$ 2 mil por hectare e rentabilidade prejudicada.
“Como a compra é depois da época normal, estava tudo mais caro. Tem que fazer o processo de novo, do zero. Resumindo, esse ano não teremos lucro. Se der uns 50 sacos já levantarei as mãos para o céu, agradecendo a Deus. Esse ano não pago as contas, terei que jogar para o ano que vem. Estou com 55 sacos de custo. Estou pagando dívidas de uma safra de quatro anos atrás. Era para acabar esse ano, mas agora com esse problema climático, terei que empurrar para o ano que vem de novo”, conta Lima.
Na propriedade de outro produtor da região, a preocupação é semelhante. No ano passado, a falta de chuvas fez a lavoura de Lucas Eduardo Damiani produzir entre 15 e 20 sacas a menos por hectare, mesma perspectiva para esta temporada.
As primeiras áreas cultivadas em meados de novembro foram castigadas pela falta de água e pelas altas temperaturas. Algumas plantas nem chegaram a emergir. Outras, não resistiram ao calor e apodreceram. Estande baixo, vagens completamente destruídas e 30% das áreas de baixeiros comprometidos.
“Choveu apenas para nascer a soja, uns 5 milímetros e depois deu mais 10 dias de sol. No começo de dezembro recebemos a última chuva com 5 mm. Nesse período e temperatura ficou alta, com 40ºC na sombra”, afirma Damiani.
A seca também atrapalhou o plantio das variedades mais tardias. Foram 20 dias de atraso em relação ao ano passado. Diferença que, segundo o agricultor, pode comprometer o desenvolvimento dos grãos.
Pragas e doenças
Outra consequência, também provocada pela falta de água, é a presença das doenças como mancha alvo e antracnose. Bem com a de pragas como a mosca branca e as lagartas. Para controlar estes problemas, mais dinheiro gasto: cerca de 20% além do previsto. A colheita ainda não começou, mas a quebra de produtividade já está estimada.
“Prevejo perdas de 15 a 20 sacos. Isso nos deixa mais enrolados em dívidas, pois vai acumulando juros. Aqui, além de não ter a produtividade esperada, teremos o aumento na dívida com o banco. Tomara que dê para pagar a dívida pelo menos, mas é complicado. Pelo menos se empatar está bom, dá vontade de desistir da profissão, mas tem que continuar”, diz Damiani.
A região sul do Tocantins é composta por 12 municípios que, juntos, cultivam uma área de 200 mil hectares com soja. Segundo o vice presidente regional da Aprosoja, cerca de 120 mil foram prejudicados pela seca. Destes, 20% precisaram ser replantados.
“O prejuízo para essa região está estimado na faixa de 15 a 20 sacos por hectare de prejuízo, devido a seca. Conversamos com muitos produtores aqui e eles estão querendo que o pesadelo passe logo, pois não aguentam mais ficar sem dormir”, afirma Wellington Almeida, vice-presidente da entidade regional.
Para minimizar os riscos de perdas e os riscos de estabelecimento das lavouras nessas áreas castigadas pela falta de chuvas, o pesquisador da Embrapa Leonardo Motta Campos recomenda o bom manejo de solo, melhor trabalho do sistema radicular das plantas e também a escolha de cultivares adaptadas para a região.
“Formulação do perfil do solo é fundamental para estimular o crescimento da raiz. Com isso as plantas conseguem enfrentar melhor essa situação de adversidade. Então tudo que puder fazer para estimular a infiltração de água no solo e a permanência lá, é interessante. Os produtores também devem buscar mais informações sobre as cultivares com adaptação para a região”, diz Campos.