Quem olha para os tanques de água em uma propriedade localizada em Arthur Nogueira, no interior de São Paulo, pode nem perceber a presença dos “donos” do ambiente. Os 20 casais, cada um em um tanque, costumam se camuflar entre a água e as plantas, mas basta o sol esquentar que logo os jacarés tomam conta da superfície.
Todos os animais são da espécie papo-amarelo, nativos da mata atlântica, que são utilizados, com a devida autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para o fornecimento de carne e couro dos filhotes.
O criador de jacarés e médico veterinário Gleen Collard explica que tudo começou com um projeto um projeto de preservação da Universidade de São Paulo (USP) e acabou evoluindo para o uso comercial da espécie. “Era um projeto conservacionista, que permaneceu durante seis anos até tirarmos o animal da categoria de ameaçado de extinção. É um projeto internacionalmente reconhecido”, disse.
Segundo o criador, há cinco anos o Ibama autorizou o uso comercial do jacaré diante uma série de determinações pré-estabelecidas. Na dinâmica da criação, os filhotes ficam de 18 a 24 meses em tanques dentro de estufas e quando atingem o tamanho ideal, de 12 quilos e 1,2 metro, ele é abatido. Alguns selecionados são preservados para a reprodução da espécie.
“Por estar explorando um animal da nossa fauna, nós também temos um projeto ambiental de preservação e de bem-estar animal para o abate. Como eles são animais de sangue frio, vão pro gelo, onde são anestesiados pra depois sofrerem a eutanásia de acordo com as normas exigidas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária”, disse Collard.
Para alimentar os jacarés, o criador conta que utiliza frango de descarte e uma ração própria duas vezes por semana. Na fase de hibernação, que ocorre entre abril e agosto, no entanto, a alimentação do organismo do jacaré é feita apenas pela gordura acumulada no próprio corpo do animal. Os filhotes, no entanto, recebem a alimentação todos os dias.
Segundo dados do Ibama, há 37 criatórios legais no país. Apenas no estado de São Paulo, nove criadores são credenciados pelo órgão e apenas um frigorífico tem a autorização para realizar os abates, o que demonstras números bem modestos em comparação com países vizinhos como Colômbia e Bolívia, que são os maiores produtores mundiais.
Para a médica veterinária Carolina Lorieri Vanim, do Departamento de Fauna da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo (Defau), existe todo um processo burocrático que o país precisa enfrentar para conseguir desenvolver ainda mais a atividade. “Na verdade todo processo de licenciamento tem o seu viés burocrático para termos certeza da localidade desse criadouro, qual o seu projeto arquitetônico, como ele vai manter os animais e cuidados que ele vai ter com as criações. Também é preciso fiscalizar os cuidados neonatais no caso de reprodução, além da capacidade do empreendedor em manter os seus animais em seu bem-estar”, disse.