A Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) solicitou ao Ministério da Agricultura na última quarta-feira (19), a liberação emergencial dos herbicidas Diquat e Paraquat para a dessecação das lavouras de soja.
Em nota divulgada à imprensa, a empresa Syngenta, detentora do registro do Diquat, disse ser contra a permissão para que “produtos não avaliados e aprovados pelas autoridades regulatórias brasileiras sejam disponibilizados aos agricultores”.
No entanto, de acordo com a Aprosoja Brasil, a liberação emergencial de defensivos tem um precedente histórico. Em 2015 o governo federal autorizou o uso emergencial de benzoato de emamectina, produzido pela própria Syngenta, para o controle da lagarta Helicoverpa armígera.
A lagarta dizimou lavouras de soja e outras culturas e fez com que estados como Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Piauí e Goiás decretassem emergência fitossanitária em decorrência dos prejuízos bilionários causados aos produtores desde 2012.
A liberação emergencial só foi autorizada para produtos novos, como o benzoato, porque esse defensivo agrícola já estava registrado em, pelo menos, três países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A Associação lembra que, naquela oportunidade, a detentora não foi contrária à liberação do benzoato, sendo a única a depositar o pedido. “Já com relação ao Diquat, sabe-se que diversas empresas têm o registro no país e o Paraquat não é nenhuma novidade no Brasil ou em qualquer membro do Mercosul. Ou seja, fica claro que a preocupação neste caso não é com a segurança do produto, mas de enfrentar a concorrência de outros fabricantes”, diz a nota oficial da Aprosoja Brasil.
O posicionamento da Aprosoja Brasil lembra, também, que a liberação emergencial do Diquat teria bem estabelecidas a sua forma de entrada, aplicação e segurança no uso (como se trata de produto genérico, todas essas etapas já foram concluídas), bem como a destinação final de embalagens.
“Importante destacar também que, diante da falta de comprovação sobre a toxidade do Paraquat, autoridades sanitárias dos Estados Unidos liberaram o uso desse herbicida por mais 15 anos, além de o Canadá ter autorizado o uso, assim como Austrália e os países do Mercosul, onde o uso e a comercialização do Paraquat – banido pela Anvisa em 2020 no Brasil – continua permitida”, ressalta a entidade.
Efeitos sobre a dessecaçação da soja
A Aprosoja Brasil considera que a falta do Diquat tem prejudicado o processo de dessecação da soja, que é a utilização de herbicida para preparar as lavouras para a colheita e pode trazer prejuízos à qualidade da produção brasileira e ao país como um todo.
“Outro impacto é sentido no bolso do produtor. O litro, que antes era comprado por R$ 30,00, está custando mais de R$ 160,00. No início desta safra, o aumento no preço do produto era de 300% e hoje alcança 500%, conforme constatam produtores”, afirma a Associação.
A nota ainda salienta que a Aprosoja Brasil tem recebido reclamações de produtores que adquiriram o Diquat e ainda não receberam o herbicida. “Porém, a alegação de falta de produto não condiz com a realidade. Na verdade, não existe a falta do produto. O que existe é que empresas estão restringindo produtos que foram comprados por R$ 30,00 para poder vendê-los por um preço bem maior. E com isso a Aprosoja Brasil não pode concordar”, conclui a nota.
Outro lado
Em resposta à nota oficial da Aprosoja Brasil, a Syngenta enviou ao Projeto Soja Brasil a seguinte nota:
“A Syngenta reitera que se mantém comprometida com os agricultores brasileiros ainda que diante de desafios inerentes a uma crise sem precedentes.
Com relação ao Diquat, estamos dedicando os melhores esforços para o aumento dos volumes do produto a ser disponibilizado ao mercado brasileiro, diante de um aumento significativo da demanda. Para tanto, buscamos alternativas adicionais de fornecimento de todas as fontes possíveis no mundo, incluindo novas opções na China. Ainda que cientes dos problemas atuais de abastecimento de Diquat, os pedidos serão entregues nos próximos meses, sem renegociação de preços.
Somos altamente favoráveis a um ambiente de concorrência livre, que permita que outras empresas registrem e comercializem produtos à base de Diquat no Brasil. Atualmente, inclusive, existem mais de 15 empresas com registros para comercialização desse tipo no país.
Estamos certos de que a importação de produtos sem regulamentação coloca em risco produtores e consumidores, meio ambiente e as exportações brasileiras. Respeitamos a regulação vigente e não estamos medindo esforços para resolver a dificuldade pontual de abastecimento, bem como nos prepararmos para atender a uma demanda ainda maior de Diquat. E, assim, oferecer aos agricultores os insumos necessários para o sucesso da próxima safra.”