Em um movimento atípico para o mercado de soja brasileiro, o Porto de Paranaguá (PR) deverá receber o primeiro grande volume da oleaginosa em grão proveniente dos Estados Unidos. As 38 mil toneladas de soja trazidas pela Louis Dreyfus devem ser descarregadas no porto entre a última semana de novembro e a primeira de dezembro. A informação foi confirmada nesta quarta-feira, 4, pelo diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Luiz Fernando Garcia da Silva.
“Essa é uma importação diferente. Ainda não tivemos registro na história de volumes tão expressivos com destino a Paranaguá”, diz Silva.
Segundo ele, o cenário de isenção de tarifas e de falta do produto no mercado interno podem ter motivado as compras, que não serão recorrentes. “Acredito que essa importação não é um início de um movimento consolidado pela soja dos EUA. Pode acontecer até mais uma vez, mas será de forma pontual”, complementa.
Para Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, a indústria brasileira de soja sente os efeitos dos preços elevados no mercado interno, e, por isso, está buscando novas alternativas. “Em países vizinhos, como o Paraguai, não há mais soja disponível, e no mercado doméstico o pouco que tem está com um valor muito acima do mercado”.
De acordo com Brandalizze, a soja americana está mais competitiva para o produtor, que deve efetuar novas compras nos próximos meses.
“A soja importada dos Estados Unidos chegaria hoje ao Porto de Paranaguá no valor de R$ 160, muito abaixo do que está sendo praticado pela indústria, que está na faixa de R$ 170. Essas importações dão suporte para a indústria ter uma escala melhor para trabalhar no início de 2021”, complementa.
Importações
A falta da soja no mercado interno teve forte impacto nas importações em 2020. De janeiro a outubro deste ano, o Brasil comprou mais de 625 mil toneladas de soja em grão, de acordo com o Ministério da Economia. O volume representa uma alta de 400% em relação às 125,196 mil toneladas adquiridas em igual período de 2019.
Em 2020, o Brasil não comprou um quilo de soja em grão sequer nos EUA, apenas 277 toneladas de farelo e 843 quilos de óleo de soja.
Segundo o analista de mercado da TF Agroeconômica Luiz Pacheco, o Brasil pode e deve fazer novas compras de soja em grão ainda neste ano.
“A Louis Dreyfus comprou essas 38 mil toneladas dos Estados Unidos e a Bunge comprou 90 mil toneladas de soja do Uruguai. Novas compras devem ser realizadas para descomprimir essa falta de produto, certamente”, diz ele.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), as indústrias brasileiras agiram rápido e certeiramente com a aquisição de soja em um ano atípico. Como elas já têm estoques de soja em grão garantido até o fim deste ano, as novas compras seriam destinadas ao abastecimento no período de entressafra.
“Agora está todo mundo trabalhando para cobrir a entressafra da melhor maneira possível, usando os estoques de forma mais inteligente, tentando comprar soja que ainda esteja na mão dos produtores e importando pontualmente aquilo que precisam”, diz o economista-chefe da Abiove, Daniel Furlan Amaral.