Apreensivos com a irregularidade das chuvas nesta safra e os impactos que isso pode trazer a produtividade, produtores de Mato Grosso resolveram travar um pouco o ímpeto de vendas da safra 2020/2021 que será colhida no próximo ano. De acordo com o Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea), as comercializações avançaram apenas 2 pontos percentuais em novembro, menor avanço desde o início das negociações.
O produtor Fabricio Portilho, de São José do Rio Claro (MT), negociou antecipadamente apenas 18 mil sacas de soja, com entregas programadas para fevereiro. O restante da produção vai deixar para negociar mais para frente. A cautela se deve ao baixo índice de chuvas na lavoura de 1.400 hectares.
“Esse ano iniciei o plantio da minha safra em 18 de outubro e acabei de semear em 14 de novembro. Não terei colheita em janeiro, que sempre colhi. Vou começar a colher em fevereiro e deixar as minhas vendas futuras para perto da colheita”, afirma.
A preocupação é evidente, principalmente nas últimas áreas plantadas, onde alguns talhões estão com atrasos na germinação, estandes baixos e plantas fracas. Portilho já estima que as perdas podem chegar a 20% da produção desta safra.
“Tivemos um outubro com pouca chuva. Mas novembro e parte de dezembro não tivemos nada. É a primeira vez que estamos encarando isso aqui, passando grandes dificuldades na fazenda”, conta Portilho.
Outras propriedades do município também foram prejudicadas pela escassez hídrica e já esperam perdas que irão interferir na produtividade média final do município, que nesta safra cultivou 140 mil hectares com o grão.
“Esse ano está sendo bastante difícil na questão das chuvas, elas atrasaram muito, bastante desigual e desparelhas. Aqui, por ser uma terra mista, as lavouras sentem um pouco mais rápido, tem muita abertura de área de pasto que virou lavoura e não tem muita matéria orgânica. Eu calculo que as perdas na produtividade já chegam a 15%. Estamos pedindo a Deus que as chuvas se regularizem, daqui para frente, para evitar mais perdas”, afirma Aparecido Rodrigues, presidente do Sindicato Rural do município.
Em todo Mato Grosso, os produtores negociaram até o momento 66,4% da safra de soja 2020/2021, segundo dados do Imea. Isso é mais que os 51,1% negociados nesta época do ano passado. Volume bem maior que em 2019, mas rentabilidade nem tão alta assim.
“Sem dúvidas que se a gente tivesse uma bola de cristal, as vendas não seriam tão intensificadas no período em que os preços estavam lá embaixo. Mais de 60% da comercialização foi realizada a preços menores do que está no mercado hoje e cada um fez as vendas de acordo com seus custos. A gente deixa de ter uma rentabilidade em função do que aconteceu, mas não tem como prever”, afirma o vice-presidente da Famato, Marcos da Rosa.