Um estudo de longa duração envolvendo soja consorciada com diferentes gramíneas para recuperação de áreas degradadas tem trazido bons resultados para a região do Matopiba, que engloba a Bahia, Tocantins, Piauí e Maranhão. A pesquisa que acontece na Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Gurupi, conta com várias instituições, incluindo a Embrapa.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Elisandra Bortolon, a ideia inicial é justamente recuperar as áreas degradadas em regiões de Cerrado e trazer a possibilidade de uma agricultura sustentável.
“O objetivo principal foi desenvolver um sistema de produção de soja em consórcio com gramíneas forrageiras para recuperação dessas áreas degradadas no Cerrado, cujas limitações hídricas reduzem a janela de plantio e aumentam o risco de veranicos, limitando o cultivo do milho safrinha em sucessão com a soja”, diz Elisandra.
A pesquisadora explica que o grande mérito dessa estratégia, que envolve a implantação das espécies forrageiras em sobressemeadura quando a soja está no estágio reprodutivo (R5 a R7), é a possibilidade da realização de uma segunda safra (boi safrinha), após a safra da soja nessas regiões de Cerrado com limitações hídricas.
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“A recuperação das áreas degradadas é só mais um resultado positivo do sistema, já que as gramíneas forrageiras que integram o sistema de manejo também podem ser utilizadas como planta de cobertura para o sistema de plantio direto, visto que esse manejo possibilita o alto aporte anual de biomassa vegetal com aumento dos teores de carbono no solo, aumentando a sustentabilidade e a resiliência do sistema de produção em regiões de maior instabilidade climática”, reitera Elisandra.
Resultados da pesquisa
Nas pesquisas, os resultados foram significativos afirma a Embrapa. No agregado de cinco safras (entre 2014 e 2018), a forrageira Mombaça (cultivar de Panicum maximum) teve o melhor desempenho entre as que foram testadas. A produtividade da soja cultivada sob a palhada de Mombaça foi 17 sacas por hectare maior que a produtividade da soja sob pousio e foi também 8 sacas por hectare maior que a da soja sob a palhada da braquiária (Urochloa brizantha) Marandu.
“Na safra 2015/2016, ficou evidenciada a resiliência a restrições hídricas que o sistema consorciado de soja com Mombaça apresenta. No período, a produtividade desse sistema foi de 64 sacas por hectare, índice maior em 23 sacas por hectare do que a soja em pousio e 9 sacas por hectare maior do que o sistema soja e Marandu”, afirma Elisandra.
E os resultados das pesquisas têm sido vistos, na prática, em diferentes propriedades rurais do Tocantins.
Dois exemplos de bons índices podem ser vistos nas fazendas Boca da Mata (que fica em Divinópolis do Tocantins, região Centro-Oeste do estado) e Vitória Régia (situada em Santana do Araguaia, no Sudeste paraense). Ambas são consideradas Unidades de Referência Tecnológica (URTs) dos projetos de transferência de tecnologia da Embrapa. Nas duas propriedades, a forrageira usada foi a Mombaça.
Na Vitória Régia, na safra 2017/2018, ambas as cultivares de soja, quando consorciadas com Mombaça, apresentaram índices maiores de produtividade que as próprias cultivares em outros sistemas. Em um dos casos, a produtividade passou de 75 sacas por hectare, quase 11 hectares a mais que a mesma cultivar plantada sem palhada. A outra cultivar teve os seguintes desempenhos: 69 sacas por hectare no sistema com Mombaça; 56,6 sacas por hectare no sistema com milheto; e quase 47 sacas por hectare na soja sem palhada.
Já na Boca da Mata, os dados relativos à pecuária apontam uma produtividade de 7,78 arrobas por hectare ao ano e uma produtividade de soja de 65,7 sacas de soja por hectare. A renda bruta desse sistema de integração entre lavoura e pecuária ficou em R$ 16.063,53 por hectare, sendo mais de 73% vinda da pecuária. Os dados se referem à safra 2018/2019.