A Cofco, líder em processamento de alimentos na China, anunciou que pretende rastrear toda a soja comprada do Brasil até 2023 para se certificar de que os grãos não vêm de áreas desmatadas ilegalmente. Em nota, a empresa afirma que a rastreabilidade é essencial para sustentabilidade, uma vez que a expansão do cultivo da oleaginosa pressiona os ecossistemas do país, fundamentais para proteger o clima, a biodiversidade e a água doce do planeta.
O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Fabrício da Rosa, diz que é preciso, primeiro, dimensionar a importância da empresa chinesa para o mercado brasileiro. Segundo ele, a Cofco é responsável por menor de 10% das compras diretas de soja, mas adquire bastantes volumes de outras tradings atuantes no país.
“De imediato, especialmente na região do Cerrado do Matopiba, onde ainda é possível abrir novas áreas legalmente, podemos ter um impacto caso ela comece a restringir a compra desses produtores. Teremos problemas de crescimento na produção de soja, o que pode gerar prejuízo para os produtores importadores, porque vai diminuir a capacidade brasileira de exportação”, afirma.
E o problema não deve ficar restrito apenas às novas fronteiras agrícolas. Segundo Fabrício da Rosa, outras tradings também estão colocando nos contratos com produtores exigências de moratórias em outros biomas. “Neste momento, o que orientamos é que ele leia bem os contratos e busque fechar negócios com empresas que não estão fazendo essas exigências”, diz.
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Da Rosa afirma que algumas tradings estão exigindo que os grãos não venham de área abertas depois de 2008, mesmo que de forma legal, o que vai além da legislação ambiental. Caso o sojicultor não fique atento, ele pode ser pego de surpresa e penalizado. “Se inadvertidamente ele assinou o contrato e depois, por algum motivo – problema de comunicação entre órgão ambiental do estado e Ibama, por exemplo – tiver alguma inconformidade, ele pode ter a soja rejeitada. Imagine o prejuízo que seria”, afirma.
O diretor-executivo afirma, ainda, que há certa confusão sobre o tema preservação meio ambiente. Com a Amazônia no centro das atenções, tenta-se atribuir os focos de incêndio à produção de soja. “Reforçamos que 99,9% dos produtores faz tudo corretamente, de acordo com a leis ambientais. Eles não tão agindo de forma ilegal e nem são responsáveis pelo desmatamento em nenhum bioma brasileiro”, pontua.
Uma boa notícia, segundo Fabrício da Rosa, é que tudo caminha para que o ativo ambiental mantido pelos produtores dentro da propriedade comece a ser valorizar. “Não só o excedente, mas a própria reserva legal e APP [área de preservação permanente]. Nada mais eficiente do que valorizar, e isso é uma reivindicação antiga do setor, que preserva a natureza por ele e pela humanidade”, finaliza.