A cada safra, o papel de vigilância do produtor rural se intensifica: deve estar sempre atento à incidência de pragas e doenças nas lavouras. Desta forma, os percevejos devem estar na pauta de cuidados, já que o problema, principalmente na soja, ocorre todos os anos e causa danos diretos, com ataques às vagens e grãos.
No estado de Mato Grosso, por exemplo, a espécie Euschistus heros (percevejo-marrom) é mais abundante na cultura. Entretanto, nos últimos anos, a espécie Diceraeus melacanthus (percevejo barriga-verde) tem ocorrido em altas populações desde o início de desenvolvimento das plantas.
Segundo a pesquisadora em entomologia da Fundação MT, Lúcia Vivan, a predominância de uma dessas espécies varia em função do local, do clima, das cultivares e do estágio e desenvolvimento da cultura. “Da mesma forma, a extensão dos danos depende, entre outros fatores, do estágio de desenvolvimento das plantas durante o período de infestação, visto que estes ocorrem desde a fase vegetativa”, relata. Após esse período eles aumentam progressivamente na fase reprodutiva, com crescimento exponencial e acelerado no final do ciclo da cultura, em especial, nas cultivares de ciclo médio e tardio.
Grandes prejuízos
Quando o ataque dos percevejos acontece nas vagens, as perdas podem atingir valores superiores a 30%. “Se o ataque ocorrer em fase de granação, é possível aparecer deformações, murchamentos e manchas nos grãos. Neste caso, eles perdem o valor para a comercialização por terem o teor de óleo reduzido”, explica a entomologista.
As perdas no poder germinativo das sementes podem ultrapassar 50%, além de terem queda no vigor. Já a infestação durante a fase de desenvolvimento das sementes torna-as pequenas, enrugadas e deformadas. “Quando o ataque dos percevejos se dá nos grãos, ocorre perda na qualidade destes e das sementes, principalmente pela inoculação do fungo Nematospora corylii, que causa a mancha-de-levedura, também conhecida como mancha-de-fermento”, detalha Lúcia.
Como fazer o manejo?
Tanto para um percevejo quanto para outro, é fundamental realizar o manejo correto. Para a espécie marrom recomenda-se o monitoramento das áreas para identificar o momento em que ocorre a entrada do inseto nas lavouras. “A partir disso, deve-se realizar o controle e acompanhar o desenvolvimento da população logo no início, a fim de não gerar populações altas para as áreas mais tardias. Em média se utiliza entre 1 a 2 percevejos/m para realizar o controle em áreas de produção de grãos. Já para áreas de sementes o nível tem sido de 0,5 percevejo/m”, detalha a entomologista.
Para o percevejo barriga-verde o manejo deve ser feito dentro do sistema de produção, cuidando com a população durante todo o ano, já que este possui muitas plantas hospedeiras. Vale lembrar que áreas com presença de plantas daninhas irão favorecer o desenvolvimento dessa praga, oferecendo alimento e local para oviposicão. Assim, áreas em pousio têm grande probabilidade de manter populações.
No momento do plantio da soja é importante avaliar a palhada e verificar se tem a presença do inseto. Neste caso, pode-se optar por dessecação pré-plantio da soja e uso de tratamento de sementes com foco em sugadores. “Durante o desenvolvimento da soja é importante monitorar essa espécie também. No entanto, como o hábito dele é mais rasteiro e fica sob a palhada isso pode dificultar a quantificação da população”, reforça a especialista.