O Sul do país já é reconhecido como a base da agricultura brasileira. Os produtores de lá não só conseguiram evoluir as técnicas de manejo, ampliando a produção de culturas comerciais como a soja, como também ajudaram a desenvolver todos os demais estados. Não à toa que a produção de soja do Paraná e do Rio Grande do Sul são parecidas e já chegaram a se revezar como os maiores do país. Hoje, a disputa persiste, mas pela 2ª colocação.
Desde os primeiros levantamentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), sobre a safra de soja do país em 1976/1977, o Paraná e o Rio Grande do Sul já disputavam entre si quem produzia mais a oleaginosa. Naquele primeiro levantamento, quem ganhou foi o Rio Grande do Sul, com a produção de 5,6 milhões de toneladas, contra as 4,6 milhões de toneladas dos paranaenses.
Naquele tempo, Mato Grosso não era nem sombra da potência atual e os gaúchos conquistaram a primeira colocação como maiores produtores de soja do país. Duas safras depois, em 1978/1979, os paranaenses superaram os gaúchos pela primeira vez, se tornando ali os maiores produtores de soja do país.
A área plantada com soja naquele primeiro momento era de 2,2 milhões de hectares no Paraná e 3,4 milhões de hectares no Rio Grande do Sul.
Hegemonia da região Sul
Demorou bastante até que Mato Grosso começasse a ameaçar os dois estados. E isso só aconteceu por conta de um problema. Algo que ninguém pode controlar e, até hoje, traz dor de cabeça para a região: o clima.
Em 1990/1991, a safra de soja começou bem para ambos os estados com chuvas abundantes e clima favorável. Entretanto, entre dezembro e março, o Rio Grande do Sul sofreu os efeitos de um forte veranico, “principalmente no mês de fevereiro que apresentou acumulado de precipitação inferior a 75 mm em todo estado”, afirma estudo do doutor em geografia Ivan Rodrigues de Almeida.
Antes de falar do resultado da colheita, vale destacar que, até ali, a produção média do Rio Grande do Sul e do Paraná ficava entre 4 e 6 milhões de toneladas, alternando entre eles.
Naquele ano de 1991 os gaúchos colheram apenas 2,3 milhões de toneladas, contra os 3,6 milhões de toneladas do Paraná, mostrando que ambos tiveram problemas com o clima. Já Mato Grosso, que vinha de uma evolução anual na produção de soja (veja abaixo), conseguiu ultrapassar os gaúchos pela primeira vez com uma produção de 2,6 milhões de toneladas.
Obs 1: Até a safra de 1990/1991, haviam sido reportadas oficialmente 14 safras de soja no país; em 11 delas o Rio Grande do Sul venceu o Paraná na produção de soja e, de quebra, liderou como o maior estado produtor do país.
Obs 2: A área plantada com soja em 1990/1991 era de 1,9 milhão de hectares no Paraná, de 3,2 milhões de hectares no Rio Grande do Sul e de 1,1 milhão de hectares em Mato Grosso.
A virada do Paraná
A partir dali, o clima seguia como o principal desafio para a região Sul de maneira geral. A limitação para ampliação de lavouras também, tanto que Mato Grosso não parava de crescer, enquanto o Paraná e o Rio Grande do Sul ainda patinavam entre 3 milhões e 5 milhões de toneladas de produção. Mas se mantinham como líderes na produção nacional.
A partir da safra 1995/1996 duas mudanças ficaram evidentes: a primeira é que o Paraná conseguiu alcançar o patamar de 6 milhões de toneladas de soja pela primeira vez, enquanto o Rio Grande do Sul sofria para se manter nos 4 milhões de toneladas. A segunda é que Mato Grosso seguia crescendo e já assumia a 2ª colocação entre os estados que mais produziam soja.
De 1995/1996 a 1998/1999 o Paraná se segurava como podia na primeira colocação de maior produtor de soja do Brasil, mas havia um limite físico para o estado: a falta de terras para expandir. Enquanto isso, os gaúchos se consolidaram na terceira colocação, já atrás de Mato Grosso.
Obs 1: Em 1998/1999 já tinham se passado 23 safras, das quais o Rio Grande do Sul venceu 15 e o Paraná 8 vezes.
Obs 2: Em 1998/1999 o Paraná semeava 2,7 milhões de hectares, o Rio Grande do Sul plantava 3,1 milhões de hectares e Mato Grosso 2,5 milhões de hectares.
Mato Grosso supera o Paraná
Em 1999/2000, Mato Grosso já plantava uma área de soja similar à do Paraná, em torno de 2,8 milhões de hectares, mas o clima na região era mais favorável e os resultados produtivos elevaram o estado ao lugar de onde nunca mais saiu, a liderança na produção de soja com 8,4 milhões de toneladas.
Naquele momento, não havia muita disputa pela segunda colocação, já que o Paraná estava isolado com 7,1 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul era o 3º, com 4,9 milhões de toneladas, disputando mais com Goiás, que já colhia 4 milhões de toneladas naquele ano.
Paraná empata série com o Rio Grande do Sul
Ao final de cada bloco dessa história foi possível notar as observações (Obs) sobre como estava a disputa entre o Rio Grande do Sul e o Paraná.
Em 2005/2006, o Paraná empatou a série histórica de vitórias sobre o Rio Grande do Sul. Naquele ano, cada um estava com 15 vitórias, em 30 safras disputadas.
Os paranaenses conseguiram atingir o patamar de 9,6 milhões de toneladas naquela safra, contra as 7,7 milhões de toneladas do Rio Grande do Sul. Só a título de curiosidade Mato Grosso já produzia mais de 16 milhões de toneladas ali.
Obs: a área com soja no Paraná e Rio Grande do Sul em 2005/2006 ocupava 3,9 milhões de hectares em cada um. Mato Grosso já plantava 6,1 milhões de hectares.
Rio Grande do Sul volta a vencer o Paraná
Demorou bastante até que isso voltasse a acontecer, mas na safra 2018/2019 o Raio Grande do Sul voltou a vencer o Paraná e ocupar a 2ª posição de estado que mais produz soja no Brasil.
Vale destacar, é claro, que isso aconteceu em um ano em que os paranaenses tiveram muitos problemas climáticos e a perspectiva de colher, pela primeira vez, mais de 20 milhões de toneladas de soja caiu por terra. O resultado final foi de 16,9 milhões de toneladas, contra os 19,5 milhões de toneladas dos gaúchos.
Por conta desta vitória, o Rio Grande do Sul conseguiu chegar a 16 vitórias sobre o Paraná. Os paranaenses, por sua vez, tinham 27 vitórias acumuladas sobre os gaúchos.
Obs: a área plantada com soja no Paraná era de 5,4 milhões de hectares em 2018/2019, contra os 5,7 milhões de hectares plantados no Rio Grande do Sul.
Vitória em 2020/2021?
Bom, a ideia de contar essa história surgiu, justamente, pela disputa bastante acirrada entre os dois estados pela segunda posição na produção de soja do país em 2020/2021.
Nesta safra, o clima atrapalhou um pouco mais os paranaenses, que não devem bater o recorde que registraram em 2019/2020, de 21,5 milhões de toneladas de soja. A perspectiva, segundo a Conab, é que o Paraná colha 20,2 milhões de toneladas de soja.
Já o Rio Grande do Sul não teve muitos problemas com o clima nesta temporada e devem bater o recorde de produção. Segundo a Conab, há chance de o estado produzir 20 milhões de toneladas de soja, uma recuperação extraordinária frente à forte quebra obtida em 2019/2020 (o estado colheu 11,4 milhões de toneladas, pior resultado desde 2011/2012).
Mas você deve estar se perguntando, mas se a Conab já prevê que o Paraná deve vencer de novo, qual a novidade?
Na verdade, os levantamentos individuais estaduais, realizados pela Emater-RS, no Rio Grande do Sul, e pelo Departamento de Economia Rural (Deral), no Paraná, mostram que os gaúchos podem vencer.
Segundo a Emater, a produção de soja gaúcha pode chegar a 20,2 milhões de toneladas. Já o Deral aponta a perspectiva de que o estado recolha 20 milhões de toneladas na média.
Ao que parece a Aprosoja-RS, também está otimista na retomada da 2ª colocação entre os estados produtores de soja do país.
“Nós estamos na expectativa de colher a maior safra de soja da história do estado. Este ano, vamos recuperar a 2ª posição na produção do Brasil”, afirma o presidente da entidade, Décio Teixeira.
Até a safra 2019/2020 foram registradas 44 safras de soja no Brasil pela Conab, das quais em 28 oportunidades os paranaenses venceram os gaúchos e, em 16 safras, o Rio Grande do Sul superou o Paraná.
Bom, se isso irá se confirmar ou não, só saberemos em maio, quando os dados consolidados começarão a ser divulgados. Até lá, vale parabenizar os produtores do Brasil por nunca deixarem que os problemas afetem o otimismo com a próxima safra!