O último balanço mensal do ano do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) do Paraná foi publicado no dia 22 de dezembro e apontava quebra de safra de soja em 12% e de milho em 13%. No entanto, em algumas áreas mais afetadas pela estiagem, as perdas já podem chegar a 60%, como na região oeste, principalmente nos municípios próximos ao Lago de Itaipu.
A safra de soja 2021/22 foi semeada no período correto e o início do desenvolvimento das lavouras foi bom no oeste, mas algumas microrregiões não recebem chuvas significativas há mais de 60 dias. Já outras estão sem nada de umidade há 30 dias e algumas com menos de 10 mm no acumulado do mês. O sojicultor e CEO da TresBomm Agri, Marco Aurélio Riedi Bomm, planta com seu pai, Ilário Bomm e família, 1.200 hectares de soja em Palotina. Ele estima que as perdas hoje nas suas áreas estão em 50%. A produtividade que era de aproximadamente 66 sacas por hectare (4 ton/ha) caiu pela metade: 33 sacas por ha (2 ton/ha).
O produtor diz que “esta safra teve a pior seca que já enfrentou na sojicultura”. Segundo ele, em outras propriedades das regiões de Palotina, Terra Roxa e Assis Chateaubriand, a cerca de 80 km do Lago de Itaipu, a quebra pode ser ainda maior, de até 60% nas lavouras de soja. “Para nós, o estrago já está consolidado, porque a chuva não vai mais regenerar a produtividade”.
Agora, Bomm está de olho nos preços. “A Bolsa de Chicago reagiu um pouco e acho que vai elevar os prêmios pagos nos navios no Porto de Paranaguá”, diz ele. Hoje o preço da saca de soja de 60kg está R$ 164 no balcão e R$ 173 para os produtores que tem estrutura para armazenamento. O agricultor diz que “está torcendo para empatar nas contas”, porque o custo de produção é de 25 sacas/ha para o produtor que é dono da terra e não tem custo de arrendamento de áreas para plantio.
Guilherme Anizelli, sócio da SCMB, consultoria especializada em agronegócios, tem um panorama de produtores de soja e milho de duas regiões produtoras do Paraná. Segundo ele, nas regiões de Londrina, Sertanópolis, Bela Vista do Paraíso e Primeiro de Maio, no norte do estado, houve menos chuva do que o necessário para a fase inicial do desenvolvimento da soja. “Se chover, ainda tem possibilidade de recuperação, mas esta hipótese é altamente dependente das chuvas e infelizmente as previsões não estão se confirmando. Alguma quebra já está registrada, em torno de 25% hoje’, diz.
Soja na região central do estado
Já na região central do estado, entre Guarapuava e Campos Gerais, a expectativa de colher 4,2 toneladas de soja por hectare já apresenta uma possível quebra entre 15% e 20%. Já a safra de milho de verão, que tinha altos rendimento esperados, apresenta uma quebra aproximada de 20%.
“Esta diferença de cenários entre as regiões do Paraná se dá porque cada região tem suas características. O norte é uma região baixa, quente e com pouca umidade e a região central e Campos Gerais, que pega segundo e terceiro planaltos, é uma região alta, úmida e fria e que planta mais tarde”, explica Anizelli. Em municípios da região de Guarapuava choveu apenas de 8 mm a 15 mm até agora no mês de dezembro, o que é muito pouco para a soja e o milho. “Mas todo esse cenário de hoje pode melhorar com as chuvas”, acredita.
De acordo com o meteorologista do Simepar, Lizandro Jacóbsen, “para os próximos dias, a tendência é de continuar com esse regime de precipitação apenas no período da tarde e comecinho da noite. Chuvas que vem se mantendo mais regulares entre os setores central, leste e também na faixa litorânea. Até a virada do ano poderemos esperar essas pancadas mais concentradas nessas regiões do estado. Para quinta e sexta-feira (30 e 31) aumentam um pouco as chances de chuvas no oeste paranaense. Chuva mais espalhada no estado só é esperada mesmo para a primeira semana de janeiro. Entre os dias 3, 4 e 5 já há uma condição de chuvas bem mais abrangente no estado. Não com volume muito alto para os setores que vem sofrendo com a estiagem, mas pelo menos volta a ter chuva nestas regiões que estão severamente castigadas pela estiagem destas últimas semanas ou até mesmo dos últimos meses”, relata.