Soja Brasil

Adeus ao recorde? Consultorias reduzem estimativa da soja no Brasil

Pela primeira vez, consultorias admitem que a safra 21/22 deverá ser menor do que a do ciclo anterior

O agricultor brasileiro está acostumado com os recordes de produção de soja. Afinal, desde a safra 2004/05, o país teve apenas quatro reduções de volume em comparação ao ciclo anterior (2008/09; 2011/12; 2015/16; e 2018/19). Ao que parece, a temporada 2021/22, cujas previsões iniciais davam conta de 142 milhões de toneladas (Conab) e 144 milhões (USDA) – incrementos de 3,6% e 5,1% frente a 2020/21, respectivamente – vai se juntar aos anos em que a quebra de safra prevaleceu.

soja
Foto: Wenderson Araujo-Trilux/CNA

Isso se deve à estiagem que acometeu a região Sul do Brasil e parte do centro-Oeste. De acordo com os meteorologistas, o cenário é típico de anos em que ocorrem o fenômeno climático La Niña. Já há relatos de perdas consistentes em municípios da região oeste do Paraná, uma das mais afetadas pela seca, como Maringá, bem como em Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul. Santa Catarina e Mato Grosso do Sul não ficam de fora.

Por conta dessa realidade de pouquíssima chuva nas lavouras, as principais consultorias do setor já rebaixam as estimativas de produção da soja. A AgRural, por exemplo, concluiu levantamento nesta semana e reduziu os números finais da safra em 11,3 milhões de toneladas. Assim, projeta que o Brasil colherá 133,4 milhões de toneladas, quebra de 12 milhões de toneladas em relação à produção potencial de 145,4 milhões divulgada no início de novembro. Em 2020/21, 137,3 milhões de toneladas foram produzidas no país.

Esses números são baseados em área plantada de 40,6 milhões de hectares e em produtividade média de 54,8 sacas por hectare na temporada 2021/22, a mais baixa desde 2015/16.

Ganhos do Norte não compensam perdas do Sul

A AgResource Brasil também reduziu a estimativa de produção da oleaginosa no Brasil, apontando perdas de 10 milhões de toneladas, ou 7,08%. Em novembro, a consultoria projetava uma safra de 141,03 milhões de toneladas. Agora em janeiro a projeção caiu para 131,04 milhões de toneladas.

“Ao contrário do que temos ouvido no mercado, achamos difícil que os ganhos de produção no Norte do Brasil sejam capazes de compensar a quebra no Sul do país. Estamos preocupados com a oferta latino-americana porque temos também a Argentina e o Paraguai com problemas climáticos. Aqui no Brasil, nosso receio é esta seca se estender para a segunda safra do milho”, diz o diretor da empresa, Raphael Mandarino.

Ele explica que a redução da safra de soja deverá apertar o quadro de oferta e demanda no Brasil, com necessidade de redução das exportações e racionamento do consumo. “Com isso, a relação estoque/uso da oleaginosa no país tende a cair para 2% a 3%, a menor dos últimos cinco anos, pelo menos”, constata.

Nos próximos dias 11 e 12, a Conab o USDA divulgarão nova atualização de safra, mas a AgResource acredita que estas entidades serão mais conservadoras nos cortes de produção, como normalmente acontece.

A Safras & Mercado, por sua vez, avisa que divulgará um balanço sobre a produção 2021/22 no dia 14 de janeiro, quando espera concluir as pesquisas nas lavouras. No entanto, o analista Luiz Fernando Gutierrez Roque adianta que, certamente, a consultoria reduzirá significativamente as projeções no Rio Grande do Sul, Paraná, em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e, possivelmente, em algum outro estado do Centro-Oeste, sem especificar ainda qual.

Chuva no Sul

Nos próximos dias, até segunda-feira (10), a projeção é de no máximo 30 mm de chuva no Paraná e em Santa Catarina. Porém, o volume, que é baixo, se concentra apenas na faixa leste dos estados, que não são zonas tradicionalmente agricultáveis. No oeste da região, onde ficam localizadas as lavouras da safra verão, como a soja, ainda não há estimativa de umidade natural no período.

O mesmo vale para o Rio Grande do Sul, que não deve experimentar mais do que 5 mm de chuva até a próxima quinta-feira (13).