O excesso de chuvas está impedindo que os produtores de soja do Tocantins coloquem suas colheitadeiras em campo para iniciar os trabalhos de retirada do grão. Esse atraso para colher a soja já pronta está deixando muitos deles apreensivos, principalmente quanto a qualidade do grão.
O começo da safra de soja 2020/2021 do produtor Jarlos Bepler foi complicado, faltavam chuvas e o calor era muito forte. Ele conseguiu semear os 2.200 hectares que pretendia, mas na cabeça já tinha consciência que aquela não seria uma safra cheia.
“Nós pegamos um bolsão que impedia a formação de chuva, afetando em cheio nossa lavoura, que estava em fase de crescimento vegetativo e enchimento de grãos. Agora a gente vai colocar as máquinas em campo para ver o tamanho das perdas. Mas acredito em até 20%”, afirma Bepler.
E, se engana quem pensa que os problemas pararam aí, pois as chuvas que antes faltavam, agora estão sobrando e, atrapalham a entrada das colheitadeiras em campo. Na propriedade as chuvas acumuladas já somam mais de 300 milímetros em 5 dias.
Além do atraso dos trabalhos, que pode trazer impactos para a safrinha, a umidade excessiva prejudica o avanço das máquinas no campo e pode comprometer a qualidade dos grãos.
“Pode aumentar ainda mais aquela perda prevista. Começou a chover todo dia e estamos com uma preocupação muito grande, pois fizemos contratos antecipados e as empresas estão em cima de nós, para saber se vamos entregar a quantidade de grãos. Vamos ter que pagar washout (multa por não cumprimento de contrato) que não vai ser fácil”, afirma Bepler.
Produtor chama vizinhos
As chuvas volumosas e constantes está causando a mesma preocupação para a colheita da soja, nos 8.300 hectares plantados pela família Schneider, no município de Porto Nacional. Nem o apoio extra dos vizinhos, com o reforço de mais colheitadeiras foi suficiente para acelerar o processo de retirada do grão.
“Temos bastante área em ponto de colheita, mas até agora não tivemos nenhum dia inteiro para trabalhar. Sempre chove e não abre o sol, dificultando a entrada na lavoura. O ritmo de colheita deveria cobrir em torno de 300 hectares por dia, mas até agora conseguimos fazer uma média de apenas 120 hectares. Ficamos muito apreensivos, pois isso atrasará a janela da safrinha e também existe a possibilidade de diminuir a qualidade dos grãos. Já colhemos cargas com mais de 29% de umidade”, relata o produtor Renato Schneider Junior.
Segundo outra integrante da família, Caroline Schneider Barcelos, o excesso de umidade pode trazer desafios da porteira para dentro
“Como a umidade está muito alta nós já estamos com a equipe rodando 24 horas por dia. Tivemos que investir em mais pessoas para que o armazém rodasse 24 horas para poder ter rendimento. Isso tudo eleva os gastos. Então acreditamos que teremos uma produtividade de 58 a 60 sacos como média geral. Mas com descontos de umidade”, afirma ela.
A perda de produtividade na soja, por conta do clima, é esperado em todo o estado.Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apesar do crescimento de 5% na área plantada, o clima adverso limitou um pouco a produtividade, que deve girar agora em torno de 54 sacas por hectare na média, contra as 55,3 sacas de 2019/2020.
Ainda assim, a produção do estado pode superar a do ano passado e chegar a 3,6 milhões de toneladas.
“Nós esperávamos que como o fenômeno La Niña estando presente, não aconteceria veranicos. Mas infelizmente teve e teremos um pouco de quebra. Vai ser a melhor safra de toda a história, tem muitas áreas que o pessoal está colhendo até 75 sacas, mas tem esses bolsões de tempo seco”, afirma o presidente da Aprosoja Tocantins, Dari Fronza.