Os custos de produção da soja brasileira estão assustando produtores de todo o país. A elevação de preços dos fertilizantes e do arrendamento puxam os preços para patamares jamais experimentados. Contudo, é no próximo ciclo (22/23) que o agricultor passará por uma verdadeira prova de fogo. Afinal, até mesmo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) já avisou que esta será a temporada mais cara do século. Diante disso, será que podemos perder espaço para os nossos principais concorrentes?
Para o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, a resposta é não. “A realidade do produtor norte-americano é extremamente problemática e teve um fator de grande dificuldade em 2018, com o estopim da guerra comercial entre China e Estados Unidos, quando o setor que foi mais afetado, talvez, tenha sido o agrícola. Vale lembrar que em 2018 e 2019, houve uma redução de 15% a 20% nas exportações de grão de soja norte-americana para a China”, lembrou.
Neste sentido, de acordo com ele, o Brasil ganha em competitividade dos Estados Unidos por ter uma diplomacia mais afinada com o país asiático, mesmo diante dos últimos embates em torno da vacina contra a Covid-19. Pereira acredita que a alta dos custos de produção para a safra 22/23 podem ser ainda maiores para os norte-americanos do que para os produtores brasileiros.
“Convertendo os custos com base na taxa cambial do dólar em R$ 5,60, os custos totais de produção na região Centro-Oeste dos Estados Unidos, que concentram quase 90% da produção de soja daquele país, estão estimados em oito mil reais por hectare para 2022. Esse número é ainda mais surpreendente quando se trata do milho, que chega a 11 mil reais por hectare“, conclui.
Vale lembrar que levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) projeta que o custo de produção da soja por hectare no maior estado produtor do Brasil será de R$ 7.046,18 por hectare em 22/23.
Matéria-prima para a soja
O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), Mauro Osaki, por sua vez, aponta outro cenário: se o produtor brasileiro optou por comprar os insumos para a temporada 22/23 em novembro de 2021, teve um aumento de 70% em comparação ao mesmo período do ano passado. Conforme ele, essa alta se deve aos custos com fertilizantes e herbicidas, sendo que, neste processo, o Brasil tende a ser o mais afetado.
“Em torno de 25% a 35% do custo da soja brasileira é derivado destes insumos, enquanto que em nossos principais concorrentes, a taxa é de 20% nos Estados Unidos e não ultrapassa 5% na Argentina”, explica. “Na média das últimas cinco safras, o custo de produção da soja no Brasil está em torno de 580 dólares por hectare ou 182 dólares por tonelada, que é o dobro da Argentina e 30% a mais do que nos Estados Unidos”, completa.
Resposta brasileira
Nos últimos meses, os fertilizantes tiveram aumentos de custos estrondosos no Brasil. O cloreto de potássio, por exemplo, passou de 260 dólares para 800 dólares no começo de dezembro deste ano. Diante disso, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Sérgio Souza, contextualiza que o fortalecimento da agropecuária brasileira passa, diretamente, pela equalização de tais despesas custeadas pelo produtor.
“Os preços da soja e do milho também subiram, mas os dos insumos ultrapassam qualquer limite. Uma tonelada de potássio, por exemplo, saiu de aproximadamente 300 dólares para quase mil. Já o galão de glifosato teve incremento de quase 100%, entre vários outros exemplos”, destaca.
De acordo com ele, o Parlamento brasileiro está atento às dores do produtor e por meio da FPA busca trazer segurança jurídica ao setor, com medidas focais, tal como a regularização fundiária. “Outras questões, como o marco das ferrovias, a BR do Mar e a exploração de jazidas de potássio do país também tendem a reduzir os custos para o produtor”, afirmou.