São Paulo foi o primeiro estado brasileiro a registrar a ferrugem asiática na safra de soja 2020/2021. De dezembro para cá, o site do Consórcio Antiferrugem já tem mais de 273 casos relatados, ou seja mais do que em toda a safra 2018/2019. Considerada a doença mais severa da cultura da soja, chegou na fase de enchimento de grãos, nesta safra, mostrando que os produtores rurais estão no caminho certo quanto ao controle, diz a Embrapa Soja.
O Rio Grande do Sul lidera em número de registros, com mais de 100 até o momento, seguido pelo Paraná com 94 registros e Mato Grosso do Sul, com 22.
Apesar dos números atuais serem maiores que os registrados em toda a safra 2019/2020, a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, considera que as estratégias de manejo da ferrugem asiática, nas últimas safras, estão funcionando.
“Os primeiros casos foram relatados a partir de dezembro (4% dos registros), e a maioria foi agora, em fevereiro (70% das ocorrências). Ou seja, ocorreram a partir do estágio de enchimento de grãos (80% dos casos), Isso vem ocorrendo nas últimas cinco safras, o que é bastante importante, mostrando que as estratégias de manejo da doença, entre elas o vazio sanitário e a adoção de cultivares precoces, estão funcionando.
Por qual razão os mesmos estados têm mais casos?
Historicamente, estados como o Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul lideram entre os que mais registram casos de ferrugem asiática. Mas, a pesquisadora da Embrapa destaca que isso não significa que eles tenham algum surto incontrolável da doença.
“Alguns estados apresentam maior número de relatos em função muito da distribuição de municípios e também dos relatos. O Paraná tem o maior número de relatos pelo maior número de municípios. Então, essa distorção sempre ocorre no site, mas não significa que a gente tenha uma epidemia mais severa em alguns estados”, garante Cláudia.
A fitopatologista Caroline Wesp Guterres acompanha de perto os registros de ferrugem asiática no Rio Grande do Sul. Segundo ela, nesta safra, o fungo encontrou condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento, diferente do que aconteceu na safra passada quando o estado enfrentou uma longa estiagem.
“Atualmente, as condições ambientais estão bem favoráveis para a ocorrência de ferrugem por conta do molhamento foliar e temperaturas amenas. Iniciamos a safra com déficit hídrico, a semeadura foi atrasada e só em janeiro tivemos muitas chuvas. Em algumas regiões, os produtores tiveram dificuldades para conseguir entrar com as aplicações, em função da precipitação. Nessas situações, houve um atraso nos intervalos de aplicação dos fungicidas e, com isso, o residual dos fungicidas, certamente, é prejudicado e a porta fica aberta para que as doenças possam ocorrer”, diz Caroline.
Nos últimos dez dias, o Rio Grande do Sul registrou mais de 50 casos da doença, sendo o Consórcio Antiferrugem, passando de 43 casos em 15 de fevereiro, para 101 casos em 25 de fevereiro.
“Então, significa que a doença está presente e a gente precisa ter atenção ao manejo. No campo, a soja está em florescimento e enchimento de grãos. É um período sensível em termos de proteção e sanidade”, afirma Caroline.
Ferrugem em alta
Em Caçapava do Sul, na região da Campanha, a ferrugem asiática aumentou mais de 50% em relação ao ano passado, na área de abrangência da Cotrisul.
“Aqui, avaliando as doenças nas lavouras, nota-se que, mesmo com três aplicações de fungicidas, com intervalo entre 14 e 20 dias, a cultivar apresenta alguma coisa de ferrugem oportunista”, diz o consultor técnico da Cotrisul Donairo César Lopes.
Ferrugem em baixa
O Rio Grande do Sul possui um programa para verificar a incidência da doença, o “Monitora Ferrugem RS”, que é mais uma ferramenta para auxiliar os produtores na tomada de decisão e adoção de medidas de manejo da doença.
“Na safra 2020/2021, temos a ocorrência de esporos de ferrugem da soja de uma forma predominante em municípios do centro-oeste do Rio Grande do Sul. Somente na segunda quinzena de dezembro, tivemos o registro da ocorrência de esporos em municípios da região nordeste do estado. Isso é comprovado a partir dos relatos dos nossos técnicos de campo que têm encontrado essa doença de forma mais presente”, diz o coordenador da área de culturas e defesa sanitária vegetal da Emater-RS, Elder Dal Prá.
Na região da Coopatrigo, no noroeste gaúcho, a soja ocupa 300 mil hectares e por ali, a ferrugem asiática tem dado uma trégua aos produtores rurais, justamente por eles seguirem à risca as recomendações dos técnicos. Mas, o clima tem ajudado também.
“Nossas lavouras, no geral, estão em condições muito boas em termos de doenças. Já faz uns 14 dias que não temos mais precipitações. Estamos esperando as chuvas nesses próximos dias para que possamos continuar a ter essas condições favoráveis para a lavoura de soja. Na questão da severidade da ferrugem, na nossa região é baixa. O motivo é que os esporos que, normalmente, apareciam na nossa região no início do mês de janeiro, este ano tardaram. O segundo motivo são os tratos culturais do nosso associado que segue as recomendações do departamento técnico”, afirma o engenheiro agrônomo da Coopatrigo, Bento Büttenbender.
Cultivares precoces
O manejo da ferrugem asiática passa, por exemplo, pelo vazio sanitário, a utilização de cultivares precoces, o plantio da soja na época recomendada e a aplicação correta dos fungicidas.
“Neste momento, além de fungicidas eficientes, temos que ter a mistura de dois ou três ativos e preconizar o uso de curativos, principalmente. E, a utilização de fungicidas multissítios, ajuda a evitar resistência do patógeno e ter uma maior efetividade no controle. O segundo fator fundamental são os intervalos de aplicação, temos que considerar 15 dias no máximo. Em algumas lavouras que já tem uma incidência maior, devemos trabalhar de 10 a 12 dias. Devemos ter o cuidado com as condições ambientais no momento de aplicar o fungicida, uma temperatura abaixo dos 30 ºC , com umidade relativa acima dos 55% e velocidade do vento entre 5 a 6 km por hora”, conta o engenheiro agrônomo Cambaí Sementes, Rossano Dagios.
Santa Catarina também monitora a doença
Em Campos Novos, no oeste de Santa Catarina, é feito o monitoramento da ferrugem asiática pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do estado. Ali, estão instalados quatro coletores de esporos da ferrugem asiática.
“O coletor de esporos é um equipamento simples, bastante fácil de construir. Constituído de uma haste, um cano PVC de 100mm e dentro nós instalamos uma lâmina, com fita dupla face onde será coletado todas as partículas suspensas no ar. Semanalmente, coletamos essa lâmina e levamos até o laboratório, onde é feita a leitura da lâmina. Já temos alguns resultados bastante interessantes onde agricultores já tiveram economia de, no mínimo, uma aplicação”, afirma o engenheiro agrônomo e extensionista da Epagri, coordenador do Projeto Soja-SC, Eduardo Briese Neujahr.
Com os resultados dos coletores de esporos, o site de monitoramento da Epagri/Ciram divulga onde a doença pode aparecer e, assim, os produtores podem iniciar o controle no momento certo.
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“Tivemos resultados muito bons, porque já temos a expectativa dos agricultores, a busca pelos produtores para conhecer este trabalho para começar uma aplicação mais direcionada, principalmente, na época correta. Nós tivemos , no final de janeiro deste ano, as primeiras lâminas identificando a ferrugem asiática. Não esquecendo o acompanhamento das lavouras, o monitoramento da doença nas plantas, que é muito importante à medida que você começa a identificar os esporos nos coletores”, afirma engenheiro agrônomo e extensionista rural na gerência regional da Epagri de Canoinhas-SC, Donato João Noernberg.