A relação de troca para a soja em Mato Grosso encerrou mais favorável no mês de maio em comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, mesmo com o cenário vantajoso, nem todos os produtores já garantiram seu adubo.
Segundo a especialista em agricultura e fertilizantes da Argus, Renata Cardarelli, a expectativa é que as vendas do insumo para aplicação na safra 2023/24 sejam finalizadas em julho.
“Cerca de 90% do esperado para instalação do próximo ciclo já foi vendido. Quanto ao restante, há rompimento de alguns contratos, com compradores buscando preços mais baixos e mais quedas na relação de troca”.
Para ela, se as negociações pelo insumo se estenderem para além do próximo mês, há o risco de o produtor não receber a tempo.
“Podem acontecer negociações de última hora, mas, neste caso, a tendência é de ocorrer um gargalo logístico. Assim, o cenário pode ser de aumento do custo portuário por conta das filas e também incremento de custos internos para escoar os fertilizantes dos portos, principalmente de Paranaguá e Santos até Mato Grosso”, explica.
Segundo ela, já está havendo concorrência entre os motoristas para levar a soja até os portos. “Normalmente, eles acabam dando preferência para o escoamento do grão, já que acabam tendo melhor custo-benefício em detrimento do transporte de fertilizantes”.
Sacas de soja por tonelada de adubo
Na última semana de maio, agricultores precisavam dispor de 16,59 sacas de soja por uma tonelada de fertilizante, considerando os preços em reais da cesta NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio) em Rondonópolis, no sudeste do estado.
“Trata-se de uma queda de 1,2 sacas por tonelada na comparação com o fim de abril”, contabiliza.
Assim, é possível afirmar que a relação de troca está 8,7 sacas por tonelada abaixo do registrado no fim de maio de 2022, quando os preços dos fertilizantes estavam em níveis mais altos, principalmente após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Naquela época, o sojicultor precisava dispor de 25,29 sacas para obter mil quilos de adubo.
Queda dos preços de fertilizantes
Relatório de custo de produção do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta queda de 22,8% por hectare no preço dos fertilizantes e corretivos no estado.
Desta forma, o preço médio passou de R$2.417,29 para R$ 1.865,65/ha em maio deste ano ante o mesmo mês de 2022.
Renata enfatiza que o mercado projetava alta nos preços do adubo neste período por conta da intensificação das compras.
“Mas não temos visto essa firmeza justamente por causa da falta de demanda […]. Se compararmos, os nitrogenados e o cloreto de potássio caíram mais intensamente, já os fosfatados seguem em nível mais alto, então o agricultor fica esperando por esse recuo”.
Comprar agora é mais seguro?
Segundo o analista da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque, o agricultor deve aproveitar a queda dos preços agora, principalmente em momento de dólar mais baixo.
“Os preços dos insumos podem continuar caindo, mas acredito que a maior parte do movimento negativo já aconteceu. Por isso, o produtor já deve aproveitar”, enfatiza.
Lembrando que a relação de troca é a principal forma de financiamento da produção agrícola brasileira e mede quantas sacas de 60 kg de soja são necessárias para trocar por uma tonelada de fertilizante, que será usado para a produção da próxima safra.