Soja Brasil

2 realidades: Tocantins tem lavouras de soja muito boas e outras com perdas de 20%

Estado pode colher uma das maiores safras de sua história, mas os desafios climáticos, que já afetam 5% dos produtores, podem ser um limitante. Veja fotos e relatos!

soja tocantins colheita perda

O Tocantins vive um grande momento na produção de soja, com plena expansão e consolidação de áreas. Mas o clima ainda é uma variável importante e incontrolável nesta atividade. Enquanto boa parte do estado está otimista em relação a produção, com as lavouras apresentando condições incríveis, outros sofrem com fenômenos climáticos e já estimam perdas de 20% da produção, sem falar nos problemas com a entrega da comercialização antecipada.

O estado plantou algo em torno de 1,200 milhão de hectares de soja nesta temporada, segundo a Aprosoja Tocantins. Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o total é um pouco inferior a isso, próximo de 1,125 milhão de hectares. De qualquer maneira é um avanço de quase 5% ante a safra anterior, mesma média de crescimento de outros estados que compõem o Matopiba.

Já a produção esperada para a temporada 2020/2021, sim, tanto a Aprosoja quanto a Conab concordam que o estado pode colher o recorde de 3,6 milhões de toneladas. Em 2019/2020 era de 3,5 milhões de toneladas.

Clima e plantio

Segundo o presidente da Aprosoja Tocantins, Dari Fronza, o estado se divide em três partes principais para a produção da soja: o Vale do Araguaia, a parte central e o sul. As três possuem situações diferentes para o plantio, mas como as chuvas iniciais foram satisfatórias, todas largaram bem.

“Lá no Vale do Araguaia, o plantio começa bem antes das outras regiões podendo começar até dia 7 de outubro. Esse ano além deles, algumas áreas mais centrais como Porto Nacional, Palmas e Silvanópolis, que receberam chuvas no começo de outubro, iniciaram o plantio mais cedo também. O sul do estado, que margeia Goiás, começa a plantar mais tarde (a partir da primeira quinzena de novembro), mas como as chuvas vieram antes, anteciparam para a segunda quinzena de outubro”, afirma Fronza.

Produção e otimismo

A boa largada, fez com que a maioria dos produtores estimassem um ano com uma produção ainda melhor, como foi o caso do produtor Jarlos Beppler, de Santa Rosa do Tocantins, na parte central do estado.

“Nosso plantio foi muito bom, conseguimos plantar na janela de outubro ainda e, nasceu tudo muito bem. Até ali a situação era de muito otimismo, com chance de colher até 63 sacas por hectare de média”, afirma o produtor que plantou 2,2 mil hectares com soja.

Na propriedade do sr. Pedro Libardi, em Aparecida do Rio Negro, também na parte central, mas um pouco mais acima das áreas de Beppler, a soja ocupou 2,040 mil hectares, e segundo ele as lavouras estão de babar.

soja produção tocantins área
Foto: Áreas de soja do produtor Pedro Libardi, em Aparecida do Rio Negro (TO)

“Não posso me queixar, não. As lavouras estão muito boas. No ano passado tive uma produtividade média de 67 sacas por hectare, este ano posso chegar aos 73 ou 74 sacos por hectare, pois as lavouras estão muito superiores às do ano passado. Mas antes de pensar nisso eu preciso colher, né”, diz Libardi.

Já a média do estado de produtividade do estado não deve mudar muito. Segundo a Conab, deve até cair um pouco em relação ao ano passado e ficar na casa das 54 sacas por hectare, contra as 55 sacas do ano passado.

“Todo o ano o Tocantins acrescenta novas áreas na soja. Em torno de 10%, oriundas, na maioria das vezes, de antigas pastagens. Por isso a média de produtividade do estado não aumenta muito. Apesar de que as áreas já consolidadas acabam tendo produtividades comparáveis as área de Mato Grosso, Goiás e Bahia”, afirma o presidente da Aprosoja-TO.

Problemas com o clima

Se o começo da safra foi bom para grande parte do estado, em dezembro algumas áreas começaram a ter problemas com a irregularidades das chuvas.

“Em dezembro, no Vale do Araguaia, o clima piorou e algumas áreas chegaram a ficar uns 20 dias sem chuvas. Na parte central choveu um pouco mais, mas teve gente ali que até hoje não viu mais chuvas. De maneira geral o estado todo teve alguns problemas de plantio devido a irregularidade das chuvas, que não chegaram com a quantidade certa para deixar as lavouras perfeitas. Não foram muitas áreas, mas estimo um total de 5% passou pelo processo”, afirma Dari.

soja área Tocantins perda
Área de soja com muitos prejuízos causados pelos clima na fazenda do produtor Jarlos  Beppler

Pois, a pequena porcentagem de problemas foi atingir justamente as lavouras de Beppler, que até ali estavam em muito boas condições.

“A partir do dia 26 de dezembro não choveu mais aqui. Criou um bolsão de ar quente na nossa região que não deixa a chuva cair. Isso nunca aconteceu e pegou a gente de surpresa. As nuvens carregadas chegam, se formam, mas quando chegam perto da fazenda são afastadas ou dissipam”, conta ele.

O que está acontecendo na área de Beppler pode ser fruto de um fenômeno chamado Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), que acaba afastando as instabilidades para as bordas do sistema.

soja Tocantins área perdas
Área de soja com muitos prejuízos causados pelos clima na fazenda do produtor Jarlos  Beppler

“Esse VCAN está circulando pelo nordeste e a parte central dele acaba ficando ali próximo ao oeste da Bahia e parte de Tocantins. Nestas áreas as chuvas podem demorar um pouco mais para chegar”, afirma a editora de Tempo do Canal Rural, Pryscilla Paiva.

Perdas

Com mais de 20 dias sem chuvas, Beppler já estima perdas na ordem de 20% em suas áreas, porcentagem que tende a aumentar ainda mais nos próximos dias, caso de fato não ocorra chuvas. O problema é que 70% de sua safra já foi comercializada antecipadamente.

“Já estou acionando as empresas que fiz contratos antecipados de venda, pois não vou conseguir cumprir e, também acionando o seguro para vir acompanhar. A situação piora a cada dia aqui. Se chover hoje ou amanhã o prejuízo será de 20% na minha fazenda, e a cada dia seco, essas perdas aumentam ainda mais”, diz o produtor de Santa Rosa do Tocantins.

Colheita

Como afirmou o presidente da Aprosoja-TO, as perdas ainda são pontuais no estado, e de maneira geral as lavouras caminham bem. As áreas de sequeiro devem começar a ser colhidas em breve.

soja área colheita lavoura
Área que será dessecada em breve em Monte do Carmo (TO). Foto Dari Fronza

“A colheita dessas áreas de sequeiro devem iniciar em 10 dias, mais ou menos, principalmente as do Vale do Araguaia, plantadas primeiro. As áreas sob pivôs, já começaram”, diz Fronza.

Na fazenda de Libardi, a expectativa é para iniciar a dessecação da área em breve e dar início, assim, ao processo de colheita da soja.

“Acredito que lá para o dia 3 ou 4 de fevereiro já dá para começar a dessecar alguma área e colher na sequência. Como estou com todos os custos pagos, agora venderei só para cobrir isso. Já vendi 45 mil sacas de soja a um preço muito bom, nesta última semana recebi R$ 155 por saca e assim reembolsei o dinheiro dos custos”, diz Libardi.

Leia mais notícias sobre soja