O excesso de umidade da soja colhida em Mato Grosso está comprometendo a capacidade estática de alguns armazéns e prejudicando o ritmo da colheita em alguns municípios da região do Vale do Araguaia.
Em água boa, além da falta de espaço nos armazéns para guardar a safra, os agricultores também estão sem transporte para escoar a produção, mesmo pagando quase o dobro pelo valor do frete.
A colheita da soja está praticamente finalizada em Mato Grosso. Passou de 96% da área cultivada, segundo o Imea.
Mas na região do Vale do Araguaia, onde o plantio é feito mais tarde em relação às demais, ainda tem muita lavoura em fase de maturação de grãos. Os agricultores estão apreensivos. A chuva que não tem dado trégua. Até mesmo cidades com histórico pluviométrico de baixa umidade nesta época, teve médias generosas durante o ciclo da cultura este ano, como no caso de Nova Xavantina.
“Mais de 1.700 milímetros, lugar com depressão criou lagoa, não esperava uma situação desse tipo principalmente nesta região onde era em torno de 1.200, 1.300 o normal, esse ano vai passar de 1.800 milímetros. Agora o desafio principal nosso é focar em tirar essa soja o mais rápido possível, estão falando que tem previsão de chuva para semana que vem, nós estamos bem apreensivos”, diz o produtor Caio Battistetti.
Battistetti plantou 1.200 hectares em Nova Xavantina. Ele conta que começou a colher os primeiros talhões, mas a alta umidade dificulta o trabalho. Ele teme novos prejuízos, como os que registrou na área que cultiva em outro município da região.
“Atolando máquinas, caminhão, tem talhão que inundou, que passou bastante tempo debaixo d’água, há previsão de chuva para semana que vem, então nós temos que colher o máximo agora. Onde podemos entrar, mesmo com um pouco de umidade, a gente está entrando, com medo de mais na frente perder soja, como já aconteceu, em Querência, onde começamos colhendo 82 sacos por hectare e estamos torcendo para fechar a média nos 64, temos talhão que está em 40”, complementa.
Em Água Boa, mais da metade dos 220 mil hectares de soja foi colhida. Na cidade, que é vizinha à Nova Xavantina, o cenário também é de muita apreensão e transtornos por causa de excesso de chuvas.
“Em relação ao ano passado tem 50% a mais de chuva. Somente o mês de fevereiro passaram de 600 milímetros de chuva, um volume de chuva bastante agressivo, nós estamos com um atraso de 7 dias na colheita, o que é preocupante”, diz o presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Geraldo Antonio Delai.
Na fazendo do produtor Antônio Fernandes de Mello, 70% dos 1.600 hectares de soja foram colhidos. A estimativa é de que, até agora, a umidade elevada tenha causado perda de aproximadamente 10% na produção.
“Esse ano na minha propriedade eu estou com quase 2.300 milímetros, mais de 2.200 milímetros acumulados, e tem um mês de chuva pela frente, teve talhões que a gente fechou que a gente teve perdas de 15% por avariados, teve talhões que largamos em torno de 5% a 8% sem colher por conta do encharcamento, então é uma série de fatores que vai acarretando uma perda para o produtor aqui do Vale”, conta.
Outra preocupação na região é a falta de caminhões para carregar a produção. É que a alta umidade dos grãos provoca lentidão no desembarque do produto nos armazéns e deixa os agricultores sem transporte na colheita da safra de soja.
“Têm oito, dez caminhões puxando, as máquinas estão colhendo só que os caminhões chega na fila e não desenvolve, não vai, não volta, a gente está tendo que esperar, já estima quanto de perda, a primeira área de 300 hectare já perdi em torno de 10%, só por conta da chuva, agora por falta de transporte corre o risco de perder muito mais”, diz Claudinei Mess.
A falta de espaço nos armazéns é outra ameaça. Uma unidade, com capacidade de armazenar pouco mais de 190 mil toneladas, é uma das poucas dentro do município que ainda tem espaço disponível para atender os produtores.
“Alguns armazéns já não estão recebendo fora de contrato, isso tem acontecido na região, com outras empresas, não só em Água Boa, mas em outros municípios também, nós temos ainda aqui em torno de 70 mil toneladas para receber e estamos com 65% da safra colhida, estamos descarregando em torno de 150 caminhões diários. Se não tirarmos a soja em até 20 dias, pode ser que não tenha mais espaço então por isso estamos preparando a logística para retirar a soja para receber mais senão o produtor não vai ter onde colocar o seu produto excedente”, diz Talyson Garcia Sila, gerente da Agrícola Alvorada S.A.
Situação que revolta alguns agricultores, principalmente os que estão sem contratos de entrega para cumprir.
“A gente não tem armazém e está no ponto de perder a lavoura, porque a lavoura nossa está a céu aberto, nós não temos seguro, nós não temos nada, que segurança nós temos, nós temos que colher carregar os caminhões e os caminhões têm que vir e tem que descarregar, enquanto não descarregar no armazém, não existe produto, não tem nada físico, nós estamos a Deus dará, e tem que estar seco também porque se guardar com umidade você também perde”, complementa Claudinei Mess.