Pesquisa, tecnologia, manejo e a mão de obra experiente do agricultor. Esses fatores levaram o Brasil a ser líder na produção de soja no mundo. Segundo o vice-presidente da Aprosoja Brasil, José Sismeiro, a transformação do solo do Cerrado – antigamente considerado pobre para o cultivo – em ambiente favorável também é responsável por este sucesso.
Para ele, em um contexto mais amplo, não é possível identificar um único elemento que transformou o país de importador de alimentos para o grande exportador mundial. “O produtor brasileiro é um homem corajoso que adentrou Brasil afora, foi para um solo desconhecido, principalmente o produtor do Rio Grande do Sul que saiu de seu estado, passou pelo Paraná e foi subindo Brasil acima levando mais produtores com ele. Temos também a Embrapa que fez um trabalho espetacular e faz até hoje em manejo de solo, temos as indústrias que conseguem fazer defensivos químicos para controlar os insetos, as pragas. É um conjunto de fatores que fizeram do Brasil um produtor de alimento seguro, saudável e autossustentável”, considera.
Sismeiro acredita que para o Brasil continuar neste caminho, a tecnologia aplicada em maquinários, defensivos e sementes é fundamental. “O problema é que existem tecnologias que não estão disponíveis a todos os produtores porque o custo é muito alto”, sintetiza. “O governo também poderia tirar um pouco de imposto em cima desses produtos porque toda vez que se dá condições para o produtor trabalhar, quem ganha é o Brasil”, afirma.
Evolução em quatro décadas
O pesquisador da Embrapa, Elisio Contini, lembra que em 1974, o Brasil produzia 36 milhões de toneladas de grãos. Já em 2021 foram 245 milhões de toneladas. “Pudemos ver o quanto o agro progrediu nesses últimos 40 anos”, ilustra. Para o especialista, este crescimento volumoso também se deve ao crédito rural. “Esta política foi fundamental tanto para custeio quanto para investimento e comercialização, principalmente no início do processo”, afirma.
Contini faz coro à afirmação do vice-presidente da Aprosoja Brasil ao salientar a coragem e pioneirismo dos agricultores brasileiros. “Foram do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, assim como paulistas e mineiros que vieram para o Cerrado com espírito empreendedor de, realmente, produzir e criar riquezas tanto para as pessoas, como para a região e o país”.
De acordo com o pesquisador, políticas públicas, macroeconômicas e agrícolas foram primordiais ao sucesso da agricultura brasileira. “Também é fundamental criar mercados. Não podemos produzir 300 milhões de toneladas para o consumo interno, sendo que não temos mercado para isso e os preços iriam para o fundo do poço. Temos que criar mercado externo e aí está a China e a Índia. A Índia não entrou como grande comprador ainda. Com mais de um bilhão de habitantes cada um, com certeza estes países podem ser grandes mercados para nós. No entanto, temos de ter uma diplomacia inteligente, vender os nossos produtos, tratar bem os nossos concorrentes e procurar ser competitivos no mercado internacional. Tem muita coisa para fazer, estamos fazendo e acredito que o Brasil será um celeiro no futuro”, finaliza.