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Aliança da Soja

Como reduzir a adubação na soja de forma segura no próximo ciclo?

Professor da Unesp faz recomendações sobre uso de fertilizantes e análise de erosão de solo; programa também mostra detalhes da colheita em MT e MS

Níveis satisfatórios de produtividade e qualidade do grão são possíveis apenas com boas práticas de manejo. Para ilustrar esse fato, o 30º programa Aliança da Soja desta última segunda-feira (28) visitou duas lavouras do Centro-Oeste do país.

Na propriedade de Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul, o cultivo com a oleaginosa iniciou em 2017 com o objetivo de ajudar na restauração da pastagem para a pecuária. Assim, a rentabilidade da cultura deu tão certo que o cultivo foi ganhando espaço.

“Começamos com 206 hectares e uma produtividade muito boa. No ano seguinte aumentamos um pouquinho, com mais 20 hectares e no terceiro ano, em duas fazendas, já estávamos plantando 1.100 hectares […]”, conta o produtor rural Pérsio Ailton Tosi.

Para manter os níveis de sacas atingidos no início da produção, foi necessário investir em consultoria técnica e manejo eficiente. Desta forma, a projeção para 21/22 é de safra cheia. “Nesta fazenda o que colhemos até agora é superior a 70 sacas [por hectare], o que é excelente, ainda mais com o solo arenoso que temos”.

Vizinho com problemas

Já em Mato Grosso, maior estado produtor de soja do Brasil, o cenário foi diferente em algumas regiões. O excesso de chuva reduziu os números de colheita esperados por alguns agricultores. O produtor rural do município de Água Boa, Antônio Fernandes de Mello, por exemplo, conta que alguns talhões de sua propriedade tiveram perdas consideráveis. “Teve talhões em que largamos em torno de 5% a 8% sem colher por encharcamento. No geral, até o momento, estima-se uma perda de 8% no que já foi colhido”, declara.

soja mato grosso chuvas
Foto: Pedro Silvestre

Por lá, a umidade também atrapalha no escoamento da produção. Mello conta que os caminhões ficam pela estrada e encontram dificuldade para descarregar nos armazéns. De acordo com o sindicato rural do município, o déficit de armazenagem por lá é de 50%. Por isso, com falta de espaço para escoar, muitos interrompem o trabalho de campo. “Acredito que estamos com atraso de sete dias na colheita, o que é preocupante. […] com isso, vai se perdendo peso do grão”, considera o presidente do sindicato, Geraldo Antônio Delai.

De acordo com a Aprosoja-MT, o problema deve levar a perdas totais de produção da oleaginosa no estado. “Mesmo com incremento na ordem de 3% na área semeada, a produção ficará abaixo da do ano passado e dentro da média ou um pouco abaixo dos últimos dez anos. Os desafios se fizeram presentes e é nessa hora que a resiliência do produtor brasileiro é importante […]”, afirma o presidente da entidade, Fernando Cadore.

Cuidados na pós-colheita

Os cuidados com o solo na etapa da colheita são necessários para que o produtor tenha condições de instalar a cultura subsequente à soja. De acordo com o professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Ciro Rosolem, caso a retirada da oleaginosa do solo aconteça tardiamente e não seja viável instalar outro grão em seguida, é importante a instalação de uma gramínea, como a braquiária, para proteger o terreno de erosão.

“O mais importante ainda é que essa gramínea consegue colocar no solo uma espécie de rede de raízes, o que é uma proteção física e também biológica, já que mantém melhor a temperatura na parte superior e conserva a umidade, dando mais vida ao solo. Assim, quando se for recomeçar a safra no início do verão, terá um solo em melhores condições”, explica.

Rosolem explica que apenas a rotação de culturas não é suficiente para se produzir com sustentabilidade, mas a prática já ajuda no processo. “Após três a quatro anos, já é possível até perceber mudanças na cor do solo, tendo-o com mais matéria orgânica. Isso é benéfico porque se passa, indiretamente, a ter menores problemas com nematoides. Então essa prática de rotação, seja com milho ou milho e mais uma gramínea, é importantíssima”, declara.

Redução de fertilizantes na soja

Já para o próximo ciclo da soja, em que o encarecimento e até a escassez de fertilizantes segue como uma ameaça, o professor detalha critérios de segurança ao se reduzir a adubação. “Se a soja produziu mais do que 60 sacas por hectare, pode-se diminuir um pouco a dose de nitrogênio para o milho, mas é melhor não mexer no potássio. Depois quando for semear a soja novamente, ela tem alta capacidade de absorver potássio. Então é possível diminuir a adubação desse nutriente, se for o caso”, conta.

Fertilizantes. Foto: Divulgação/Embrapa

Quanto ao fósforo, Rosolem detalha que aplicar em torno de 60 a 70 quilos já pode ser suficiente para atender as necessidades da soja em uma temporada. “Então o produtor que está acostumado a aplicar entre 100 e 120 quilos, pode perfeitamente reduzir em uma safra que não terá problemas”, afirma.

O professor explica, também, que há um problema muito grande no país em relação à desinformação a respeito da compactação do solo. “A melhor forma de saber se o solo está compactado é cavar uma trincheira para ver se há raiz lá. Às vezes o solo está aparentemente compactado, mas se ele vem sendo bem manejado com culturas de cobertura, mantendo mais raízes vivas durante o ano, essa compactação pode ser apenas aparente porque a raiz consegue encontrar bioporos e crescer”.

O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend e é exibido todas as segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30. Além disso, também fica disponível no YouTube.

 

 

 

 

 

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