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Custos de produção para a safra 22/23 de soja assustam produtores

Agricultores já planejam redução de fertilizantes no solo. Especialista aconselha tratar a cultura como uma empresa que necessita ser gerida e não tocada

O desafio de equilibrar os custos de produção da soja nas próximas safras, o cenário de alta entre produtos e mão de obra, as estratégias para ajustar o fluxo de caixa e melhorar o capital de giro, além de maneiras de diversificar o manejo para compensar as altas dos preços. Esses temas fundamentais ao produtor foram o destaque do 15º episódio do programa Aliança da Soja.

Desta forma, na tentativa de equilibrar as contas, já tem agricultores prevendo reduzir a aplicação de insumos na próxima temporada. O sojicultor de uma propriedade da região de Poconé, Mato Grosso, por exemplo, não tem conseguido antecipar as compras para o ciclo 22/23 porque vem sentindo no bolso a alta dos preços. Por lá, o fertilizante está 140% mais caro do que no mesmo período do ano passado. Para amenizar essa oneração, o produtor rural Raul Tavares estima reduzir em 40% a aplicação dos adubos.

“Temos uma certa segurança em fazer essa diminuição porque estamos há anos fazendo adubações bem feitas, deixando sobra de insumos no solo. Na prática isso é uma poupança, especialmente em relação ao fósforo, o que nos dará um fôlego nessa safra 22/23 e nos permitirá fazer uma aquisição e aplicação de insumos um pouco menor”, destaca.

No entanto, ele tem consciência de que essa redução deve ser temporária, visto que a carência de nutrientes no solo impacta a produtividade lá na frente. “Em 23/24, vou ter de repor o que deixei de colocar em 22/23. Então espero que essa relação de troca para 23/24 esteja melhor e que possamos voltar a fazer as adubações [em quantidade] padrão”. Além da alta dos fertilizantes, Tavares já projeta que a manutenção de máquinas e o óleo diesel devem, certamente, pesar no bolso.

Falta de produtos no mercado

De acordo com o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, tamanha elevação dos custos de produção observada atualmente é inédita. “Medimos os custos mês a mês desde 2010 através do índice de inflação dos custos de produção e nunca nada parecido com isso tinha sido experimentado. Mas é bom lembrar que não é só no agronegócio que isso está acontecendo. Temos um fenômeno inflacionário global que no Brasil é ainda mais intenso por várias razões, entre elas a taxa de câmbio”, explica.

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Fotos: Daniel Popov

Segundo ele, no caso dos insumos agrícolas, além do processo inflacionário que está aumentando o custo de forma generalizada, a escassez de uma série de produtos por força de menor oferta de países como China, Rússia e Bielorrúsia é outro obstáculo ao produtor. “[Esse cenário] levou, em um ano, o custo de fertilização para a soja aumentar, em média, 120%. Mas isso é a média, sendo que alguns fertilizantes aumentaram em mais de 200%. Então é uma situação bastante difícil, delicada e que exige do produtor muita atenção”, alerta.

Luz ainda lembra que a agropecuária brasileira é um setor que fatura mais de um trilhão de reais por ano. “Não temos mais como fazer uma agropecuária desse tamanho seguir crescendo sem o devido olhar para a gestão econômico-financeira das atividades rurais e agropecuárias. A produção é um meio, mas o que temos em nossas mãos é uma empresa, um negócio. Podemos ter receitas e custos a partir da soja, do milho, do algodão, do boi, do arroz, da cana, mas temos um negócio que precisa ser gerido e não tocado“, enfatiza.

Custos nos estados produtores

Ainda que os custos de produção tenham sido elevados nesta safra 21/22, os valores que serão praticados no próximo ciclo são os que mais preocupam o produtor atualmente. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral-PR), o custo operacional efetivo da soja no Paraná subiu 61% em novembro deste ano em comparação ao mesmo período de 2020.

A respeito da temporada 22/23, levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea) projeta alta de 43,2% em paralelo ao ciclo 21/22, com custo total por hectare estimado em R$ 7.020,94. 

Monte de soja em grão formando mapa do Brasil. Sobre ele, três notas de 50 reais. Ao redor, moedas de diversos valores

Já no Rio Grande do Sul, levando-se em conta outubro de 2021 com o mesmo mês do ano que vem, acredita-se que o custo operacional efetivo da soja no estado terá alta de 25%, totalizando R$ 5.232,60 por hectare, de acordo com o Cepea.

Em relação aos herbicidas, são esperadas altas de 45% no Rio Grande do Sul, 36% no Paraná e 67% em Mato Grosso. Quanto aos fertilizantes, os acréscimos serão de 63%; 66%; e 64%, respectivamente.

Segundo o pesquisador do Cepea/Esalq, Mauro Osaki, esses números prévios são preocupantes. “As incertezas são grandes e o produtor começa a ligar o sinal laranja dentro do radar para o planejamento 22/23”, enfatiza.

Os índices do Cepea são fruto do Projeto Campo do Futuro, realização da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o Cepea firmada em 2007. O objetivo é fazer o mapeamento de seis culturas em 34 regiões e proporcionar melhor direcionamento ao produtor, antecipando problemas que podem afetar as lavouras.

O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend e exibido às segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.