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Aliança da Soja

Fazenda paulista de soja retém 82 toneladas de carbono por hectare

Propriedade é adepta do Programa PRO Carbono e tem visto as médias produtivas aumentarem a cada safra

Com o objetivo de fomentar a produção sustentável, o Projeto PRO Carbono busca unir produtores e empresas do setor para ampliar a agricultura neutra, reduzindo emissões de gases de efeito estufa. O programa iniciou em 2021 e, agora, passa por uma nova fase de testes.

A produtora Maira Lelis, que cultiva soja na Fazenda Santa Helena, em Guaíra, interior de São Paulo, foi uma das primeiras 50 agricultoras a participar da iniciativa no Brasil e conta como as práticas ambientais foram iniciadas na fazenda de sua família. “Quando o plantio direto chegou em Guaíra, meu avô dizia que não daria certo, mas hoje isso é uma realidade que tem crescido em nossa propriedade”.

Segundo ela, atualmente a grande preocupação na propriedade é a construção do perfil de solo, tanto na parte física, aperfeiçoada com um mix de plantas de cobertura, como no biológica. “Trabalhamos de forma intensiva em todas as culturas porque o solo é vida e quanto mais a planta for saudável, acreditamos que maior será o sequestro de carbono”.

mercado de cabono, cop26

Maira também explica que parte da fazenda fica em pousio, com plantas de cobertura para fortificar o sistema de adubação. “Com esse sistema de rotação com as plantas de cobertura e com efeito alopático de cada planta, diminuímos em 50% o uso de herbicidas em nosso plantio e, ao longo de dez anos, aumentamos a produção em 40%“, detalha.

Desta forma, no sistema irrigado, a média produtiva da propriedade é de 90 sacas de soja por hectare. “Mas temos, em alguns locais da fazenda, colhido mais de 100 sacas por hectare de soja. Queremos essa média na fazenda toda”.

Resultados ambientais

A produtora destaca que, graças às técnicas recomendadas de manejo do Programa PRO Carbono, os primeiros dados mostram que a Fazenda Santa Helena consegue reter 82 toneladas de carbono por hectare. “Acredito que ao longo [do projeto], conseguiremos reter muito mais do que isso. A agricultura brasileira faz parte dessa grande mudança que precisamos ter enquanto planeta”.

Com esses princípios em voga, Maira acredita que, futuramente, o Brasil poderá ter uma soja com selo de emissão zero carbono. “Nesse projeto para o futuro o produtor terá retorno dentro desse sequestro [de carbono]. Muitas empresas vão exigir o selo de carbono zero, mas, mais do que isso, com boas práticas conseguimos diminuir os custos de produção e aumentar a nossa rentabilidade”, declara.

Consolidando o mercado

As boas práticas agrícolas na lavoura já são realidade em muitas propriedades, mas, para suprir as necessidades de alimento do planeta e atender as demandas internacionais, o tema precisa ser ampliado. Nesse contexto, integrar a produção a um ambiente saudável, com rentabilidade e equidade social é fundamental. O coordenador da Academia Global do Agro da Fundação Dom Cabral, Marcello Brito, salienta que já existem mercados de crédito de carbono consolidados na Europa, Estados Unidos e China.

“O Brasil caminha neste sentido. Há um projeto em discussão no Congresso Nacional, mas é um tema muito novo. Uma pesquisa mostrou que mais de 80% dos empresários do campo não têm conhecimento sobre o tema”, conta.

Segundo ele, o mercado de carbono, assim como o de pagamentos por serviços ambientais, depende de dois fatores para ter continuidade: credibilidade e integridade. “Isso significa compliance com a lei, ou seja, estar em dia com todas as leis do país, ter o seu Código Florestal complementado, estar em dia com as leis trabalhistas e sociais. Essa é uma necessidade premente para que se possa acessar esse mercado”, avalia.

Brito lembra, porém, que as pequenas propriedades não terão condições de, sozinhas, entrar neste mercado. “Esta será a hora de fazer a famosa integração de cadeia. Chame seu fornecedor, seu cliente, aqueles que são maiores, e faça uma cadeia para que esse levantamento do carbono, para que o reporte, a auditoria, tudo seja feito em conjunto com a diluição de custos”, explica.

Requerimentos internacionais

O produtor rural deve ter em mente as exigências que o mercado internacional faz para a compra de commodities. No caso da soja, o coordenador da Fundação Dom Cabral salienta que o principal requerimento é a rastreabilidade completa. “Essa demanda que comprova que determinado produto está livre de processos de desmatamento vem aumentando em vários mercados no mundo”.

Foto: CNA/divulgação

Brito lembra que, por conta das imposições de países que adquirem produtos nacionais, cria-se, infelizmente, dois tipos de mercado. “De um lado, temos produtos que são exportados com altíssima rastreabilidade, o que garante ao consumidor internacional a procedência daquele produto, mas quando olhamos no mercado interno, tal exigência ainda não é feita”, adverte.

Segundo ele, a produção brasileira de soja é a melhor do mundo tanto em termos de qualidade quanto de sustentabilidade. “No entanto, temos questões que são externas à produção, principalmente a questão da destruição da Amazônia, garimpos ilegais, desmatamento, queimadas, toda essa destruição que assistimos hoje e isso afeta a produção nacional indiretamente. Não estamos na Amazônia, isso não é feito pelo agronegócio, mas pagamos um preço que não é nosso. Estamos pagando o preço da marca Brasil, porque todos os produtos que colocamos lá fora estão com a marca do ‘made in Brasil'”, afirma.

O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2Xtend e é exibido todas as segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.

 

 

 

 

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