Benefícios econômicos e sustentáveis da soja de baixo carbono foram os principais temas abordados pelo 22º episódio do programa Aliança da Soja. Especialistas da cadeia produtiva destacaram maneiras de o Brasil tornar a sua oleaginosa ainda mais “verde” e atrativa no mercado internacional.
Nesta esfera, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021 (COP 26), o país se comprometeu a reduzir as emissões de gás carbônico em 50% até 2030 e zerá-las até 2050. O agronegócio desempenha papel chave no cumprimento destas metas e a produção ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável da soja é uma das saídas. Desta forma, o plantio direto, que dispensa o preparo da terra com aração e gradagem e utiliza plantas de cobertura é uma ferramenta desempenhada em solo nacional há décadas e que está alinhada a esses princípios sustentáveis.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, Marco Antonio Nogueira, a técnica não ocasiona o revolvimento do solo e, assim, preserva o carbono por mais tempo, não emitindo-o para a atmosfera. Segundo ele, para cada tonelada de grão produzido, são necessários cerca de 80 kg de nitrogênio. Assim, com o plantio direto, a fixação biológica dispensa a adubação nitrogenada originada de fontes minerais.
“Para cada quilo de nitrogênio mineral que trazemos para o ambiente, desde a sua síntese, transporte e aplicação e perdas, temos, aproximadamente, a emissão de 10 kg de CO2 equivamente. Se substituirmos isso pela forma biológica, estamos mitigando emissões de efeito estufa”, afirma o pesquisador.
Assim, com o nitrogênio biológico, o Brasil evitou emissões de 205 milhões de toneladas de CO2 na na safra 20/21. A técnica traz, ainda, redução nos custos de produção. “Para se fazer a inoculação de um hectare de soja, o produtor gasta em torno de R$ 10 a R$ 15 . É muito barato se comparado ao custo que teria se fosse ter esse nitrogênio via fertilizante”, diz.
Produção de soja certificada
Para certificar a produção sustentável de soja, a Embrapa lançou o Programa Soja Baixo Carbono, iniciativa que pretende identificar e reconhecer boas práticas agrícolas por meio de pesquisas e parâmetros de produção. “O programa em si vai consistir em um sistema de certificação privado e de terceira parte, ou seja, não será feita pela Embrapa. Vamos simplesmente construir as ferramentas de certificação com base em todo o conhecimento científico que já temos em mais de 40 anos de pesquisa com a cultura da soja no Brasil”, explica Nogueira.
Com isso, a projeção é que o programa seja liberado em 2023. Além de trazer benefícios para a agropecuária, a ideia é valorizar a soja brasileira no mercado mundial. Segundo ele, a Embrapa fornecerá os subsídios para que uma certificadora possa atestar os processos de manejo do produtor, seguindo padrões e critérios aceitos internacionalmente.
Apesar de a iniciativa ser absolutamente necessária, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, acredita que nada mudará se o Brasil não alinhar o seu discurso internacionalmente e tomar o seu lugar de liderança como produtor agropecuário que empenha sustentabilidade em seus processos.
“O Brasil é uma potência agroambiental e isso assusta os outros exportadores que competem conosco e, há muito tempo, criticam nossa produção, agindo com protecionismo e, agora, com precaucionosmo. O Brasil tem que ser mais proativo, trabalhar mais ativamente as questões na Organização Mundial do Comércio para reverter a narrativa”, analisa. “Apesar de termos pecado nos últimos anos com um desmatamento maior do que o necessário, temos de atuar na correção disso e com liderança”.
Carvalho acredita que o caminho é justamente o de atestar a sustentabilidade da produção, mostrando a qualidade e a produtividade crescente, que só faz reduzir as emissões de carbono, tal como o Projeto Soja de Baixo Carbono pretende formalizar internacionalmente. “Mesmo assim, sempre teremos as dificuldades da narrativa, ou seja, o foco principal, além do trabalho em pesquisa que brilhantemente vem sendo conduzido, o Brasil precisa se posicionar como liderança e participar ativamente deste jogo. Os países começam a criar uma espécie de fronteira de carbono. Nós temos de mostrar que somos absolutamente positivos com baixíssimas emissões”, constata.
Ganhos ao produtor
O presidente da Abag também destaca que o produtor brasileiro terá, além da venda da soja com toda a agregação de valor que o grão carrega, o prêmio do carbono, o que o incentivará a buscar novas variedades e um processo produtivo que tenha ainda menores emissões de poluentes.
Por isso, Carvalho acredita que o governo e setor privado brasileiros precisam se unir para afinar o discurso e ter mais coordenação frente às “armadilhas” muitas vezes impostas pelos compradores da soja brasileira, como a Europa e a Ásia. “Ninguém produz uma soja melhor do que o brasileiro”, finaliza.