Muitos produtores estão com uma postura conservadora para iniciar a comercialização da próxima safra de soja. Segundo o analista de Mercado da AgRural, Adriano Gomes, até o final de abril apenas 8,5% da produção do próximo ciclo estava vendida de forma antecipada, atrás dos 16% registrados em mesmo período do ano passado.
“O que explica isso são, basicamente, dois fatores: o aumento considerável dos custos de produção da safra 22/23, sendo o preço dos fertilizantes o grande vilão, e também a diferença entre o preço ofertado pelo comprador pela soja com entrega em 2023 e o mercado disponível. Enquanto na semana passada a soja em Dourados, Mato Grosso, estava em aproximadamente R$ 182, a soja com entrega em fevereiro/março do ano que vem está em R$ 161”, relata.
Conforme dados da consultoria, até mesmo a venda da oleaginosa disponível se encontra atrasada em comparação ao ano passado, com apenas 60%. “O ritmo está atrasado em relação à média dos últimos cinco anos, que é de 75%, e também aos 69% do mesmo período do ano passado”.
De acordo com Gomes, os fatores que fazem o produtor frear a sua comercialização são a quebra de produção da soja nos estados do Sul e em Mato Grosso do Sul, o que disponibiliza menos soja para vender, além de os preços terem subido na ponta da safra, o que levou os sojicultores que haviam feito contratos futuros anteriormente a ficarem mais pragmáticos.
“Outro ponto importante são os custos mais elevados nesta safra 21/22 em relação à temporada 20/21. Isso deixa o produtor querendo preços maiores para melhorar a sua rentabilidade”. O analista também destaca a influência do câmbio na formação de preços internos. “Em abril deste ano, esse aspecto ficou claro: no início daquele mês, a soja chegou a valer R$ 163 no Porto de Paranaguá no mercado disponível. Porém, no melhor momento do mês de março, no mesmo porto a soja chegou a atingir R$ 197, ou seja, uma oscilação de mais de 30 reais por saca em menos de um mês. Basicamente o que mais pesou nesta conta foi o câmbio no Brasil que chegou a rondar a casa dos R$ 3,70 na mínima no mês de abril”, explica.