Bem no dia da visita da Rota da Pecuária à fazenda de José Maria de Lima, o pecuarista recebia um grupo de interessados em adquirir todo o rebanho leiteiro da propriedade de 1,8 mil hectares. A ideia de se desfazer de aproximadamente 500 cabeças foi a conseqüência de um grande problema.
– Mão de obra desqualificada, e isso desilude, né? – diz o pecuarista.
O proprietário mora em Brasília, a 340 quilômetros da fazenda. A distância e a dificuldade de encontrar bons profissionais comprometeram os resultados da propriedade.
– É igual a empurrar um carro. Tem que ter uma turma. Se você vai aumentando a coisa, vai aumentando a dificuldade que hoje é encontrar gente para trabalhar – afirma.
Problema semelhante enfrenta o pecuarista Antônio Carlos Rangel, em Juara, no Vale do Arinos (MT). Ele também mora longe, mas já teve que passar até três meses na fazenda porque não encontrava profissionais qualificados.
– Demorei oito meses para poder achar um funcionário confiável para trabalhar nos serviços gerais. Antes, com um mês de procura, você achava – diz Rangel.
– Tenho propriedade em São Paulo, e lá a situação é ainda mais grave. O problema é seriíssimo. O povo sumiu de repente – afirma.A realidade do Centro-Oeste é uma realidade nacional. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, foram preenchidas 139 mil vagas no setor agropecuário no país de janeiro a julho deste ano. No mesmo período do ano passado, esse número passou de 165 mil.
As entidades do setor buscam alternativas, mas parece cada vez mais difícil achar gente para trabalhar no campo.
– O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) faz um trabalho espetacular. Mas nós, como grupo de produtores, temos dificuldade de reunir aquele número de pessoas interessadas em frequentar os curso – afirma o vice-presidente da Associação de Criadores do Vale do Arinos (Acrivale), João Alberto Conte.
– Há dificuldade de encontrar mão de obra que seja qualificada e até mesmo de encontrar alguém para trabalhar no campo com os centros urbanos cada vez mais próximos das fazendas. A saída é qualificar essa mão de obra com treinamento, com capacitação, para tentar reter esses funcionários na propriedade – acrescenta Antônio Guimarães, da Scot Consultoria.
E isso foi o que fez o pecuarista Carlos Sérgio Arantes, proprietário da Fazenda Adorama, em Araputanga, no Vale do Jauru (MT). Aqui, o vaqueiro Fabiano virou capatz. E o veterinário Rodrigo se tornou gerente – dessa e de outras cinco propriedades de Arantes. E graças a um plano de carreira implantado nos últimos anos.
– Identificamos aqueles que têm um desempenho melhor. E, conforme o desempenho dessas pessoas, vamos atribuindo a eles um cargo melhor, até chegar talvez a gerente – afirma o gerente geral das fazendas, Rodrigo Ferreira.
Já na Fazenda Capivara, em Piacatu, no noroeste paulista, um incentivo financeiro aos funcionários ajuda a melhorar os resultados da propriedade.
Os três funcionários de pecuária aqui da fazenda recebem um salário a mais ao fim da semana se os índices de mortalidade ficarem abaixo dos 5% desde a confirmação da prenhez.
– Eles trabalham em conjunto. E, para que possam atingir os objetivos, um cobra do outro. Temos um líder, mas a cobrança é sistemática por indivíduo. Então, para que todos ganhem, todos têm que estar comprometido – afirma o administrador da fazenda, Antônio Lorencetti.
Hoje, a fazenda consegue manter um índice médio de prenhez de 90%, e o de bezerros desmamados em torno de 85%. A premiação dada há mais de 20 anos faz todos saírem ganhando.
– O funcionário tem a satisfação profissional. Fazemos dia de campo e o pessoal elogia eles bastante. E tem o lado pessoa. Com esse dinheiro, eles investem em coisas particulares, trocam de carro, compram casa e eletrodomésticos – acrescenta Lorencetti.