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No Canal Rural Na Estrada desse sábado, confira a criação de ovinos e caprinos

Veja também o investimento que deu certo na região Sudeste: a raça dorperO Canal Rural Na Estrada desse sábado, dia 22, mostra as dificuldades enfrentadas pelos criadores de ovinos do Nordeste. A seca na região já dura mais de um ano, e alimentar os animais se tornou um desafio. No Sudeste brasileiro, uma realidade diferente: os criadores comemoram a boa adaptação da raça dorper no país, que em apenas oito anos revolucionou o mercado.

 

Mococa (SP)
O Canal Rural Na Estrada inicia a viagem desta semana pelo interior de São Paulo. O destino é uma fazenda na cidade de Mococa. O local foi escolhido por um motivo muito simples: não é possível falar sobre a criação de ovinos no Brasil sem mostrar a raça que em apenas oito anos revolucionou todo o mercado nacional. É a raça dorper.

– Trata-se de um animal que veio da África do Sul. Então é um animal totalmente adaptado às condições climáticas do Brasil. Não adianta você ter um animal que não resista às condições climáticas, condição de pastagem que a gente propicia no Brasil – diz o veterinário Adriano Oliveira.

A mudança de cultura foi tão grande que os animais cruzados com o dorper agora são abatidos com menos idade, pesando quase o dobro.

– Você vai conseguir abater o seu cordeiro cruzado dorper com qualquer outra raça aí por volta de cinco meses, pesando quase 40 quilos. Há 10 ou 15 anos, no Brasil, você abatia animais com um ano de idade pesando 25 quilos. Só aí você já tem uma revolução – explica o veterinário.

A empresa de alimentos pioneira na introdução da raça no Brasil realiza o trabalho de seleção dos animais, buscando a perfeição por meio da genética.

– Nós continuamos melhorando usando carneiro selecionados, sêmem de boa qualidade, técnica de fertilização in vitro, técnicas de transferência de embrião para que você possa ter uma multiplicação em massa deste animais de qualidade. Com isto, você consegue cada vez mais apurar a genética, ter um salto de qualidade. Você vai cada vez mais reproduzir um reprodutor ou uma matriz que vai ter um valor agregado em cima de produtividade. Você vai utilizar este carneiro nascido aqui na fazenda, oriundo desta genética para vender para uma central de sêmen ou vender o sêmen deste carneiro, ou mesmo este carneiro cobrir a campo para que possa gerar cordeiros de qualidade – completa Oliveira.

Dormentes (PE)
De São Paulo para o sertão de Pernambuco. No local, a raça dorper está recém entrando no mercado. O produtor rural Lusivaldo Leonardo de Macedo tem criação há 30 anos.

– A gente começou criando um santa Inês, aí foi cruzando com o bergamaschi, aí a gente vem há oito anos, já fez oito cruzas e já tem uma raça criada aqui em Dormentes que é o berganês. Hoje a gente está começando a colocar o dorper em cima do berganês para dar uma carcaça de maior qualidade – conta o criador.

Ainda assim, a realidade de Lusivaldo está muito distante da produtividade do dorper.

– O abate está na média hoje de 18, 20 kg para um animal de seis a oito meses. Com a entrada do dorper, pode melhorar o peso, ser abatido com menos tempo também? Com certeza, a intenção é esta, colocando o dorper para conseguir vender um animal mais jovem e mais pesado. O dorper é um animal que tem mais resistência, tem mais carne, então vai poder vender o animal mais jovem – explica o produtor.

Lusivaldo mostra a jóia rara que tem no meio do rebanho, um exemplar de dorper. Se o “filho único” é uma esperança, a seca que castiga a região é uma ameaça dia após dia.

A seca já dura quase um ano e meio no sertão de Pernambuco. O capim secou completamente. Os animais estão mais magros, muitos já morreram. A esperança é que a ração chegue por meio da Conab, por meio do governo a um preço razoável. Pelo menos esta é a esperança dos criadores no local.

– Eu nesta idade nunca tinha visto uma seca tão grande como esta. Nos preocupa muito, uma fase complicada não tem mais ração, palma não existe mais, o milho tá caro, R$ 50 um saco de milho. Agora neste período a gente tá preocupado com os próximos anos, porque as pessoas estão vendendo as matrizes que não era para vender, diante da seca. Porque diante da falta de alimentação, a pessoa não vai deixar o animal morrer – desabafa Macedo.

É surpreendente como aquele povo se vira na região. Eles chegam a queimar o mandacarú pra alimentar os animais.

Na propriedade vizinha, José Leonardo de Macedo também utiliza o recurso do mandacarú, planta típica do Nordeste, para dar comida ao rebanho.

– É a ração de xerém de milho com torta de algodão.  De tardezinha, eu boto para eles, funciona bem porque isto aqui é a base para eles darem leite, criar carne. Este ano a seca foi tão brava que a gente teve que comprar milho de fora.  A gente produz na propriedade mas este ano não teve como – conta.

Para José, o dorper também significa uma esperança. Ele já tem animais selecionados no rebanho e sabe bem a diferença de qualidade das raças.

– Eu só criava a berganês. Hoje eu estou fazendo cruzamento do dorper com berganês. Porque o dorper veio para arrumar a carcaça do berganês. O dorper é mais arrumado, tem a carcaça cheia.  E o berganês é bom de crescimento, mas não tem a carcaça tão cheia que nem o dorper. Ele rende mais e tem mais volume de carne. Eu estou fazendo cruzamento e está de primeira qualidade. A tendência é aumentar. A gente não vai carregar para apurar a raça dorper, mas vou fazer sempre o cruzamento do dorper com o berganês – informa.

Pirassununga (SP)
Enquanto no sertão de Pernambuco os criadores se esforçam para melhorar a qualidade da carne, no interior de São Paulo, o produto já ganha status de premium, tamanha a excelência que foi alcançada ao longo dos anos.

– Toda aquela seleção da fazenda, genética, é para que chegue ao frigorífico o mais uniforme possível, observe o padrão das carcaças. Nós temos hoje 16 plantas espalhadas no Brasil que abatem cordeiro e boi. São 16 plantas em nove Estados – diz o gerente Antônio Augusto.

Pirassununga (SP)
Basta botar os pés em um frigorífico de Pirassununga, no interior de São Paulo, para ver que os cuidados com a qualidade estão por todos os lados. Um mínimo detalhe pode fazer a diferença no sabor do produto.

– Na hora que ele puxa a lã descola do couro, da hemorragia, o corte de maior valor tem que ser descartado porque o produtor não carregou o cordeiro de uma forma correta. Ou o caminhoneiro dá choque elétrico, para embarcar rápido. Tudo isto influencia no sabor da carne de qualidade – explica o gerente do estabelecimento, Antônio Augusto.

Tomar conhecimento de tamanha qualidade e da eficiência do processo de distribuição do produto motivou a equipe do Na Estrada a dar um passo a mais: convidar o homem responsável pela entrada do dorper no Brasil, Valdomiro Poliselli Júnior, a provar a própria carne que produz, em um restaurante de São Paulo.

Eles foram até a cozinha do restaurante para acompanhar o preparo da costeleta de carré, um prato que tem cada vez mais saída.

– Depois de cortado, a gente faz ele na grelhinha. A não ser que o cliente peça pra fazer inteiro. Desossa ele e faz só o lombinho do cordeiro, com sal a gosto só – explica o churrasqueiro Adilson Nascimento Almeida.

O convite para Valdomiro funcionou muito bem no restaurante. Primeiro porque ele provou a própria carne que produz, segundo porque o bate-papo ficou informal e a entrevista rendeu muito bem.

– É a raça que mais cresceu entre todas as raças na pecuária brasileira, não só de ovinos mas de tudo quanto é espécie.  E cresceu baseada nesta demanda de supermercados e restaurantes, que é muito grande. A procura hoje pela carne de ovino de qualidade é muito grande. Os restaurantes sofisticados e de clientes exigentes precisam de produtos com qualidade, padronização e entrega o ano inteiro. Este é o grande desafio lá da fazenda e, às vezes, o produtor não entende por que o frigorífico tem que ficar no meio entre o produtor e o consumidor final. Nosso trabalho é para criar esta engrenagem para que nos 365 dias do ano o restaurante consiga ter a oferta de produtos sempre igual. Se o cliente comer este produto hoje ou daqui seis meses, ele vai ter sempre o mesmo calibre, mesma quantidade de gordura, mesmo peso – explica o empresário Valdomiro Poliselli Júnior

– De uns três anos para cá, vem aumentando a procura de cordeiro. Temos clientes que só vêm para comer a costeleta de carré.  Se antes saíam 150 porções, hoje saem 250 por mês. A média é de oito a 10 costeletas por dia. Hoje nós não podemos nem imaginar tirar uma costeleta de carré do cardápio, porque vamos perder cliente – declara o gerente da Churrascaria Rodeio, Francisco Evaldo de Melo.

Para dar conta da demanda que cresce principalmente na região Sudeste, a empresa trabalha em parceria com criadores espalhados pelo país.

– Nós produzimos cerca de trezentos reprodutores dorper puros por ano. Estes reprodutores são transferidos para o campo de criadores parceiros que, através de um contrato, vão produzir os cordeiros que a VPJ vão comprar de volta. A nossa necessidade de volume é muito grande, e a intenção é incrementar a produção em vários Estados brasileiros. Dominamos a genética e a parte frigorífica. A criação de cordeiro é feita de forma integrada – conta Valdomiro.

Dormentes (PE)
Distante de tamanha eficiência, no sertão de Pernambuco a alternativa para não abandonar o negócio foi criar uma associação dos criadores de ovinos.

– Tem que se unir para poder ter força. A gente se reúne mensalmente, faz duas reuniões por mês, discute os problemas e procura solução. Todo mundo aqui é criador. Agora neste período seco a gente discute forma de fazer compra em conjunto pra sair mais barato a ração pra gente alimentar nossos animais – diz a secretária da Associação dos Produtores Sítio Pimenta, Maria Mazarelo.

Ela conta que toda a semana eles mandam 130 animais para quatro restaurantes no bodódromo. Ter uma associação assim ajuda a enfrentar os problemas causados pela seca.

– Cada criador paga taxa para o dono do caminhão – comenta o criador Lusivaldo Leonardo de Macedo.

A equipe acompanhou o embarque dos animais que serão abatidos em Petrolina (PE). A viagem leva em média de duas a três horas até lá por estrada de chão e asfalto. Trata-se de uma logística com apenas um caminhão e funciona. O pessoal da associação utiliza ele toda semana.

Petrolina (PE)
O destino final da carne é o abastecimento de quatro restaurantes que funcionam no bodódromo em Petrolina.

Dormentes (PE)
De volta a dormentes, na hora de ir embora, a equipe não recusou um convite especial, conhecer o popular restaurante do “Chico de Rosa”. E a comida é da mais alta qualidade.

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