Santa Catarina é o maior produtor de suínos do país e ocupa a vice-liderança no rebanho de frangos. Para 2022, a produção é estimada em mais de 850 milhões de aves e quase 16 milhões de porcos. Os dados são do Cidasc/Epagri/Cepa, que também calculam a falta de ração para esses animais. Desta forma, o déficit de milho para 2022 ultrapassa as seis milhões de toneladas. Por isso, o cultivo de cereais de inverno, como trigo, cevada e triticale são a alternativa para o tradicional milho.
O tema foi debatido no Fórum Mais Milho e Cereais de Inverno, realizado nesta quarta-feira (2), em Pinhalzinho (SC). De acordo com o gerente de Conteúdo do Canal Rural, Giovani Ferreira, o Brasil exportava milho em volume muito baixo há cerca de 15 anos. “De repente o país começou a se posicionar no mercado internacional. Agora, o desafio é buscar equilíbrio nessa demanda. Já chegamos a exportar 43 milhões de toneladas em 2019. Precisamos racionalizar essa destinação, ou seja, destinamos menos milho para exportação e, ainda assim, não conseguimos atender a demanda interna”, refletiu.
Potencial do trigo
Entre os substitutos, o trigo aparece como uma das principais opções, segundo a pesquisadora da Embrapa Aves e Suínos, Teresinha Bertol. “O trigo é o que tem mais potencial. Não somente do ponto de vista nutricional, por ter um valor muito próximo ao do milho, com 98% do valor energético do milho e proteína superior, mas o que apresenta maior disponibilidade em volume de produção”, enfatiza.
Nesta safra, o Brasil deve colher mais de 7.650 milhões de toneladas de trigo. No entanto, apenas 5% desse volume é destinado para produção de ração animal. Muito pouco, se comparado à Europa, onde esse índice chega a 33%.
Segundo o analista da Safras & Mercado, Paulo Molinari, o Brasil compra trigo de bom padrão da Argentina e vende o produto ruim para ração. “Essas são combinações que, talvez, precisemos absorver esse baixo padrão mais para o mercado interno no segundo semestre. O produtor só vai investir em tecnologia quando ver resultado final em termos de preço”, diz.
Já o também analista da Safras & Mercado, Élcio Bento, ressalta que o trigo para ração animal não possui qualidade tão boa para outras especificações. “Por isso é um nicho de mercado diferente. Mas o trigo, independente de ser o utilizado para o pão ou para ração animal, acaba sendo vantajoso em termos de preço em relação ao milho, que é o principal componente para ração, nestes momentos em que o milho está valorizado”.
Subsídios para a ração animal
O secretário adjunto da Agricultura de Santa Catarina, Ricardo Miotto, garantiu seis milhões de reais como subsídio para o plantio de cereais de inverno e mais quatro milhões para a silagem. A ideia é alcançar 20 mil hectares de lavouras. O agricultor interessado deve procurar uma cooperativa e terá ajuda de 300 reais por hectare, limitado a 10 hectares.
Outras pesquisas também já indicaram o potencial produtivo dessas culturas. Em média, passou de quatro mil quilos por hectare. “Com o resultado desses cinco anos nós vimos que do início de maio ao início de junho seria o período ideal para semeadura desses cereais de inverno, aproveitando na sequência o cultivo de soja”, salienta o pesquisador da Epagri, Sydney Kovalco.
“É importante considerar que temos nos dois estados do Sul, em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sete milhões de hectares com soja e milho no verão e apenas 16% dessa área é cultivada para cereais de inverno, para colheita de grãos […]. Os incentivos vão puxar esse percentual para cima. Temos área significativa disponível para fazer isso, só que depende de produtividade”, afirma o ex-secretário de Agricultura de Santa Catarina, Airton Spies.
Desafios para o cultivo
Durante o Fórum Mais Milho e Cereais de Inverno, chegou-se à conclusão que entre os principais desafios para aumentar o cultivo de cereais de inverno estão logística, questões ambientais e tecnologia. “Hoje o trigo para farinha não é tão nutritivo como o milho. Por isso que as agroindústrias pagam menos. Esse ano era entre 10% e 15% a menos do que o milho. É rentável, mas tem que descobrir uma variedade importante para produzir mais e com poder nutritivo melhor”, destaca o presidente da Fecoagro, Arno Pandolfo.
Para o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), Luiz Vicente Suzin, o transporte e a má conservação da malha viária de Santa Catarina elevam os custos tanto para a chegada do produto como para escoar a produção.
Já o presidente do Sindicarne, José Ribas, enfatiza que o estado gasta entre seis e sete bilhões de reais em transporte de grãos para o abastecimento das operações em Santa Catarina. “Isso não é sustentável dentro de todos os desdobramentos que a sustentabilidade traz”, pondera.
Confira o evento na íntegra: