A seca do verão de 2014 já foi alarmante para a agropecuária brasileira, reduzindo índices de produtividade e afetando o lucro dos produtores. Áreas do Sudeste, do Centro-Oeste e do Nordeste tiveram acumulados de chuva na faixa entre 200mm e 600mm. De acordo com o Inmet, em locais de déficit hídrico, houve desvio de temperaturas em até 1,5ºC.
No fim do ano passado e em janeiro de 2015, a estiagem voltou a preocupar quem tira a renda do campo. Em fevereiro, a precipitação tornou-se regular, mas não suficiente para eliminar risos de racionamento de água e de energia elétrica no país, exigindo alterações em políticas governamentais e em hábitos de consumo da população.
Apesar da estiagem inicial, a previsão oficial da safra de grãos brasileira indica uma produção 3,4% superior à do ano passado, chegando a 200,08 milhões de toneladas segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Consultorias puxam o número para baixo, principalmente nos relatórios de café e soja, mas, ainda assim, 2015 deve ser melhor do que o ano passado. O alerta segue em áreas de Goiás, no leste de Mato Grosso do Sul, no Triângulo Mineiro, na Bahia e no Piauí, onde agricultores chegam a calcular quebras de até 100% em lavouras locais.
É o caso da soja. A Conab prevê uma safra de 94,58 milhões de toneladas, a maior parte das consultorias não enxerga um patamar acima de 92,3 milhões de toneladas. Produtores do Piauí, no entanto, estimam que as perdas na região de Uruçuí sejam de até 40%, o que ilustra a “pior seca dos últimos 15 anos”. Já o setor cafeeiro lida com expectativa de novas quebras em 2015 e 2016. O presidente da Pró-Café (que está elaborando uma apuração de safra), José Edgard Pinto Paiva, já adianta que o “déficit de água é astronômico” e que nascentes de propriedades estão secando. No sul de Minas Gerais, um dos principais polos produtores, o índice pluviométrico no primeiro semestre do ano foi 60% menor do que a média histórica da região e a seca afetou o desenvolvimento e a qualidade dos grãos.
A Embrapa lembra que grandes reservas, como a represa de Três Marias (MG), têm seu nível de água reduzido sistematicamente porque o volume utilizado, principalmente para geração de energia, tem sido superior à capacidade de recarga a montante. Segundo a instituição, a forma de se solucionar problemas que levaram à atual crise é disseminação de práticas de conservação do solo e da água, além da construção de pequenas e médias barragens a jusante das nascentes nas microbacias que compõem as principais bacias hidrográficas.
A entidade ainda reforça que com políticas públicas adequadas é possível ampliar o uso do plantio direto e a construção de terraços nas áreas de produção de grãos e terraceamento nas áreas destinadas à produção de fruteiras, florestas plantadas e pastagens. “A ação garantiria a ‘produção’ de água nas fazendas, com mais infiltração de água no solo, o que elevaria os níveis dos aquíferos e do lençol freático, permitindo a regularização dos fluxos dos cursos de água durante o ano e, ainda, reduzindo o volume do fluxo instantâneo causador de enchentes após a ocorrência de chuvas intensas”, disse em comunicado.
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