Aquecimento global, Amazônia e desmatamento. A pressão dos consumidores por informações sobre o impacto socioambiental daquilo que consomem cresce nos principais mercados do mundo e já começa a fazer parte da cultura de consumo. Essa tendência é especialmente proeminente na Europa, mas está se fortalecendo em outros países, inclusive na Ásia. Com isso, os critérios socioambientais para escolha de alimentos e outros produtos ganham relevância e voz. O consumidor do século 21 quer um bom produto, por um preço bom e que respeite o meio ambiente.
O Brasil é uma potência agrícola global e tem grandes oportunidades para chegar ao equilíbrio entre produtividade e liderança em sustentabilidade. Assim, entregará o que os consumidores atuais buscam. No Brasil a pecuária ainda apresenta sistemas produtivos com baixa taxa de lotação de cabeças/ha, onde os insumos para produção representam só 5% na formação do PIB pecuário, de acordo com Ivan Wendekin*. Há aí uma grande oportunidade para o setor com a incorporação intensiva de tecnologia e um choque de gestão com a adoção de compromissos de responsabilidade ambiental. Esses são dois pilares para fortalecer os sistemas produtivos e a imagem da carne brasileira no exterior.
Nossa pecuária pode sim se articular em torno de uma agenda pró-modernização tecnológica e pró-preservação. Há conhecimento no país, programas de fomento e o setor passa por um positivo momento de capitalização, reflexo da demanda no mercado internacional. Sem contar que o conceito de pecuária sustentável não é novidade. Tem gente fazendo e se dando bem.
A estratégia é a intensificação sustentável da pecuária com recuperação de pastagens degradadas, revolução no manejo dos animais e aumento de produtividade nas fazendas. Isso já está acontecendo com criadores do Médio Vale do Araguaia (MT) e de outras ilhas de eficiência nos biomas do Cerrado e da Amazônia. Sem falar nos sistemas ILP e ILPF, melhorando o balanço de carbono no sistema e contribuindo para mitigação das mudanças climáticas.
A cadeia de produção começa a tomar nova forma com esforços conjuntos para conciliar produção e preservação, além de melhorar a rastreabilidade dos animais ao longo da cadeia produtiva. Nessa tarefa, o uso de novas tecnologias começa, inclusive, a alcançar os fornecedores indiretos, que fazem cria e recria.
Os consumidores, no Brasil e no exterior, demandam transparência e responsabilidade das cadeias globais de suprimento alimentar e a pecuária brasileira tem condições de atender essa nova percepção de consumo.
O pecuarista brasileiro tem um papel central nesse cenário, dada a dimensão da pecuária brasileira. O mundo quer seguir comprando carne aqui, mas quer saber mais sobre o nosso sistema de produção. Temos que nos preparar, promover a melhoria contínua da pecuária e dialogar com esse novo ambiente de negócios e com o consumidor do século 21.
Francisco Beduschi – Executivo da NWF no Brasil
*Autor do livro “Política Agrícola no Brasil – O agronegócio na perspectiva global”
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