Samuel Romero Sanches é um tradicional produtor de grãos de Jataizinho, no norte do Paraná. O agricultor tem relação com uma cooperativa há pelo menos 35 anos. Uma vez por mês um agrônomo da cooperativa visita a propriedade.
– A visita é parte do trabalho, onde nós vamos prestar uma consultoria, dar um feedback para o produtor, falar o que ele vai posicionar, o que ele precisa utilizar pra dessecação, para começar o plantio de uma nova safra – explica a agrônoma Vanessa Buneli.
Sanches acabou de colher trigo em uma área da propriedade e vai começar a fazer o manejo com herbicidas para plantar soja na metade de outubro. Ele diz que só começa o trabalho depois da orientação da agrônoma.
– A cooperativa dá uma assistência, uma garantia de que eu possa até crescer na minha produção, na condução da lavoura – afirma o produtor.
Com a assistência técnica, Sanches conseguiu aumentar a produtividade na produção de grãos. Com o trigo, ele colheu na safra passada 45 sacas por hectare. Este ano, calcula que vá conseguir até 65 sacas por hectare. O clima ajudou, mas ele garante que muito é por causa da orientação da assistência técnica.
– Isso foi uma nova variedade introduzida na nossa região por intermédio da assistência que eu tive da cooperativa, que é uma nova variedade mais produtiva. Só que nós tivemos que fazer um melhor manejo pra obter esta produtividade – diz.
Além da assistência técnica, a capacitação também ajudou o produtor. Entre os auxílios, Sanches participou de uma palestra sobre o controle da helicoverpa armigera, lagarta que na safra passada causou prejuízos nas lavouras de soja de todo o Brasil. Ele não teve grandes perdas, mas por precaução foi buscar informações na cooperativa este ano. E está mais tranquilo.
– É a informação que a cooperativa nos proporciona com dias de campo, com palestras técnicas, mostrando in loco o potencial produtivo que nós temos que buscar.
Na propriedade dos irmãos João e Vicente Mignoso, em Campo Mourão, meio-oeste do Paraná, o trabalho de assistência técnica está focado no manejo do solo, bem como preconiza o plantio direto, com adubação de cobertura, uso racional de adubos químicos e controle de pragas, que resultam numa produção e produtividade mais estáveis, sem grandes perdas mesmo em períodos de seca. A produtividade da soja na propriedade chega a 67 sacas por hectare, contra uma média da região de 55 sacas por hectare.
– Os nossos custos diminuíram em média 20% nos últimos cinco anos. E a produtividade tem aumentado gradativamente, em torno de 5%, 10% por ano – afirma Vicente.
Os irmãos tocam a propriedade de 450 hectares, de certa forma, com a ajuda de Alvimar Castelli, agrônomo da cooperativa que dá assistência.
– É essencial que o agrônomo esteja na propriedade com frequência e ao longo dos anos. A gente procura produzir conhecimento além da capacitação diária de leituras, de livros de busca, de observação que a gente vê no dia a dia – explica Castelli.
Dados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) mostram que no país mais de 8 mil extencionistas com nível superior atuam no campo em nome das cooperativas. São agrônomos, veterinários, zootecnistas, engenheiros florestais e técnicos agrícolas, que estão muito próximos dos produtores, e que fazem a diferença, porque levam conhecimento que se transforma em competitividade no mercado. Para o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, o governo também poderia se beneficiar do sistema.
– Isso precisa ser compreendido melhor pelo governo, como uma ferramenta de ajuda pra ele. Ele pode economizar muito se der um incentivo para que as cooperativas continuem trabalhando como esse modelo de extensão – afirma Freitas.
Mais incentivo é uma das propostas do Plano de Ação do Agronegócio, que o setor junto com especialistas coordenados pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, apresentou aos principais candidatos à presidência da República nestas eleições.
Para o cooperativismo, o plano sugere que o governo reconheça a importância e estimule as cooperativas, que são agentes de assistência técnica, extensão rural e difusores de tecnologia.
A defesa dos especialistas se baseia no diferencial das cooperativas. Como agentes de assistência técnica, elas fazem um trabalho efetivo, durante todo o ano, com respeito às culturas regionais e com maior presença junto aos produtores. Como agentes de difusão de tecnologias, elas tem capacidade de firmar parcerias com instituições de pesquisa, universidades, alem de realizarem elas mesmas suas próprias pesquisas nas regiões onde atuam. Políticas públicas poderiam fortalecer o sistema. Sugestões não faltam.
– Participar do programa que o governo já está criando, da Agência Nacional de Extensão Rural (Anater) e as cooperativas poderem participar. E poderem até ter ajuda financeira para subsidiar estes programas de extensão que elas já fazem e ampliarem esses programas. O governo precisa compreender que as cooperativas são parceiras para governos sérios. Se o governo é serio e quer o desenvolvimento das pessoas as cooperativas estão aqui para fazer um papel de organizar a base e prestar esse serviço. A hora que eu fizer isso, eu estou atendendo a necessidade do governo e a necessidade do cooperado – completa Lopes.