No segundo dia de viagem, o motorista Fábio Veras prevê um percurso de 400 a 450 quilômetros (se tudo correr bem) até Rondonópolis (MT). Veras também é instrutor, ajudando na formação de novos motoristas. Ele conta que falta no mercado cerca de 300 mil profissionais preparados para os desafios das estradas brasileiras. O caminhão utilizado na viagem é moderno e reúne as novas tecnologias disponíveis no mercado.
O caminhoneiro está orientado a seguir rigorosamente a nova Lei dos Motoristas. Na planilha, anota toda a rotina. A cada quatro horas de direção, é necessária uma parada de meia hora para descanso e intervalo de uma hora para almoço. Além da planilha manual, que ele confere com os dados do tacógrafo, está sendo testada a marcação eletrônica, que veio como assessório do caminhão e envia os dados automaticamente para a sede da empresa.
– Isso é novidade no mercado, toda hora que a gente começar a jornada de trabalho cedo, temos que apertar o botãozinho de jornada. Após quatro horas de viagem, a gente tem que fazer uma parada de descanso – lembra Veras.
A realidade do motorista está longe de ser a da maioria dos caminhoneiros que enfrentam a batalha nas estradas sem acostamento, onde os acidentes se tornaram rotina. Em 500 quilômetros, a equipe registrou oito caminhões tombados.
O caminhoneiro Valmir Amandio conta que a nova lei, por enquanto, não está resolvendo nada.
– Estou achando que não está bom. Espero que vingue no final do mês. Nossa classe é desvalorizada. As empresas não querem pagar a diária ideal. Para a gente conseguir uma boa comissão é preciso fazer esforço. A gente se mata na estrada e não ganha nada – desabafa o motorista.
Segundo o motorista Edemar Possati, outro ponto da lei que preocupa é falta de estrutura para as paradas dos caminhões.
– A gente chega com caminhão grande e não tem posto. Os postos não estão mais aceitando, ou você abastece ou não entra. O que resta é ficar na beira da pista, mas corremos o risco de sermos multados pela polícia. Está complicado cumprir, sendo que nem temos onde parar o caminhão – reforça o caminhoneiro.
Os gargalos do escoamento da safra são facilmente identificados. Ao chegar no Rodoanel de Cuiabá, capital do Estado, tudo parou e longas filas se formaram dos dois lados da rodovia. Vagões dos veículos leves sobre trilhos (VTLs), que devem melhorar a mobilidade urbana, ficam presos no congestionamento. A média é de cinco horas para completar 30 quilômetros.
O pequeno município de Jaciara, em Mato Grosso, a 70 quilômetros de distância de Rondonópolis, convive diariamente com esses transtornos. Não é por acaso que os motoristas dividem a viagem de Sorriso até o Porto de Santos em duas vezes.
– Até Rondonópolis foi uma viagem. A partir disso, vamos começar outra viagem mais tranquila até o Porto de Santos. Podemos fazer um planejamento melhor – destaca Veras.
Na reportagem de sexta, dia 7, a equipe mostra a perigosa descida na serra para chegar até o destino final da viagem e como funciona o agendamento no Porto de Santos.