Para o pesquisador da Embrapa Trigo, Paulo Bertagnolli, a produção brasileira de soja poderia chegar a 130 milhões de toneladas com o adequado uso da tecnologia associado ao manejo mais eficiente da lavoura.
– O rendimento das cultivares disponíveis no mercado não apresenta muita variação, enquanto que nas lavouras vemos o uso da mesma cultivar chegar a 100 sacos numa propriedade e não passar de 30 sacos em outra. O segredo está no manejo para potencializar o rendimento – explica Bertagnolli.
Contudo o pesquisador Paulo Bertagnolli alerta:
– A soja sozinha não se sustenta. O lucro a curto prazo pode virar prejuízo ao longo do tempo, porque o rendimento acaba caindo ano a ano com a monocultura.
A afirmação é respaldada pelo pesquisador Mércio Strieder:
– Não bastasse queda no rendimento, o cultivo de soja sobre soja durante anos consecutivos acaba trazendo novos problemas de pragas e doenças. Vejamos o caso recente da lagarta Helicoverpa, uma praga do algodão que está atacando a soja, e a esclerotínia, uma doença de soja que estava restrita a regiões frias do sul do Brasil e agora espalhada pelo Brasil Central.
Na prática, a pesquisa sugere dividir a área de cultivo em 1/3 de gramíneas (como milho, sorgo ou pastagens) e 2/3 de soja, num planejamento para três anos. O produtor pode, por exemplo, fazer a seguinte rotação: 1º ano – soja/milho/soja; 2º ano – sorgo/soja/soja; e 3º ano – soja/soja/pastagem.
– Esta rotação pode e deve ser empregada tanto em áreas pequenas, de 10 hectares, quanto em propriedades com grandes extensões – enfatiza Strieder.
De acordo com Paulo Bertagnolli não existe fórmula milagrosa, nenhum produto vai recuperar a estrutura do solo na pré-semeadura da soja.
– Na maioria das vezes, uma boa análise de solo e monitoramento da lavoura para avaliar o que a planta está necessitando naquele momento resolve grande parte dos entraves para maiores rendimentos nas culturas – explica.
Na avaliação da pesquisa, uma tecnologia barata, mas pouco utilizada pelo produtor é o uso de inoculantes na soja, prática que pode aumentar a produtividade de 4 a 20%. A formulação dos inoculantes consiste em bactérias que, associadas às raízes, formam nódulos que ajudam na fixação do nitrogênio do ar utilizado pela planta. A prática se torna ainda mais importante com a redução das chuvas na época de semeadura, quando diminui a atividade biológica do solo e a disponibilidade de nutrientes.
O custo da inoculação na soja é de, aproximadamente, R$ 2,00 por hectare, com o uso de produtos granulados que devem ser misturados à semente antes da semeadura. Mas, diferente do adubo mineral, o inoculante contém organismos vivos, que tem prazo de validade, pouca tolerância ao sol e podem perder o efeito quando associados a alguns fungicidas.
A capacitação em soja faz parte de uma série de atividades que vêm sendo realizadas em parceria entre a Emater/RS-Ascar e a Embrapa Trigo na região norte do Rio Grande do Sul, visando à aproximação entre pesquisa e extensão.