Nos últimos dias, ela recebeu duas advertências do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee). A última, nesta segunda, dia 9, proíbe a captação de água para a irrigação da lavoura.
– Na sexta, o fiscal do Daee chegou aqui na roça, conversou com a gente, falou que a gente era pra diminuir na água, não era pra ter vazamento na roça. A gente foi fazer tudo certinho, tanto que a gente nem estava molhando a roça. Mas foi tão rápido, isso foi na sexta, dia 6. Chegou na segunda, eles chegaram de novo dia 9, que não poderia mais usar. Se a gente usasse a água, eles iam multar. Não lacraram, mas pra mim é a mesma coisa de estar lacrado, porque eu não posso usar – reclama a produtora.
Os canos foram desconectados. A captação não é mais feita através do tanque, onde tem uma mina d’água. Sem irrigação, as plantas não resistem muito tempo.
Não há condições para colher ou plantar novas mudas. Judite não tinha e nem sabia que precisava de outorga para usar a água do tanque na irrigação. Também fala que nunca tinha recebido a visita de um fiscal antes.
A poucos quilômetros da propriedade de Judite, mais um tanque com a bomba desligada e mais um agricultor familiar proibido de usar a água para a irrigação.
– Que orientação você recebeu? – pergunta a repórter.
– Nada. Falou que não é pra usar, se usar você vai ser multado e se continuar usando vai ser preso – conta o produtor Sebastião dos Santos.
– De quanto esta multa?
– A multa é de R$ 4 mil a R$ 20 mil. É fácil?
Santos mostra a estufa com a mudas de salsa e alface que não podem ser plantadas. Ele prefere perder as mudas, a gastar ainda mais tempo e dinheiro na lavoura.
– Os dois empregados eu já mandei parar. Não tem jeito. O que eu vou fazer com dois empregados? Tem que mandar parar. Já mandei parar. Vão passar necessidade também – relata o produtor.
Linhas de crédito
Para amenizar os impactos da seca e da falta de água, o governo de São Paulo anunciou novas linhas de crédito para renovar os métodos de irrigação dos pequenos produtores paulistas. O anúncio foi feito durante uma reunião entre representantes dos produtores e do governo na sede do Daee.
A partir desta sexta, dia 13, os produtores rurais do Estado vão ter acesso a duas novas linhas de crédito: a primeira incentiva a captação da água através de poços artesianos, com liberação de até R$ 200 mil por projeto de poço; a segunda incentiva a modernização de sistemas de irrigação, o que vai ajudar a diminuir o desperdício de água nas lavouras paulistas. O objetivo é investir em equipamentos de microaspersão e gotejamento, que gastam menos água e atendem bem à necessidade das lavouras.
De acordo com a Secretaria de Agricultura, as duas novas linhas de crédito devem beneficiar mais de 20 mil produtores em todo Estado de São Paulo, quatro mil só na região do Alto Tietê, onde os problemas de abastecimento estão afetando a produção.
O encontro discutiu também a fiscalização onde não há outorga para o uso da água. Até agora, 58 propriedades foram notificadas, a maioria na cidade de Salesópolis. Os produtores rurais da região estão preocupados com a exigência que vai feita a partir de agora, e já sabem que vão ter de reduzir a produção.
De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), só a região do Alto Tietê é responsável pelo abastecimento de 30% do total de hortifrutigranjeiros da capital paulista. Com a redução no uso da água, a estimativa é que a produção caia até 40%.