Algumas das fêmeas mais cobiçadas do nelore se encontram em Britânia, no Vale do Araguaia, Goiás. Filhas de grandes matriarcas como Indonésia e Típica de Barros Correia, e até uma matriz modelo da ExpoZebu, a Metópole, formam o time de 50 doadoras top da Fazenda Pau D’Arco, do pecuarista Clenon de Barros Loyola Filho. Exemplares da mais alta genética em perfeita sintonia com o cenário que habitam, onde a preservação da natureza é regra.
A propriedade tem 3 mil hectares de pastagens, e pouco mais de 1,7 mil hectares de reserva, um refúgio natural às margens dos rios Araguaia e Vermelho. Somente na beira do Araguai, são 12 quilômetros de matas preservadas. E a variedade de animais é de encher os olhos.
– Toda a fauna do Araguaia é encontrada aqui: anta, capivara, paca, onça… E no rio tem piratinga, pirarara, pintado… – afirma Loyola Filho.
A propriedade foi adquirida em 1991, e oito anos depois foi instituída a reserva ambiental. Hoje, é a terceira maior reserva particular do Estado de Goiás. O proprietário conseguiu criar a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Para ganhar o status, é preciso que a propriedade tenha uma biodiversidade rica e, acima de tudo, preservada permanentemente. Mesmo que seja vendida, a conservação da área deve continuar, e a exploração só pode ser destinada a turismo ecológico, educação ambiental e pesquisa científica, desde que essas atividades não comprometam a reserva. Benefícios como isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) da área declarada e concessão de créditos agrícolas são alguns dos incentivos ao pecuarista que tem reserva.
– Eu não tinha o direito de transformar isso aqui em pastagem, em um negócio que é um santuário ecológico – acrescenta o proprietário.
Essa consciência também encontramos na Fazenda Barreiro, no município de Silvânia, em Goiás. A propriedade de 30 anos coloca em prática há três um projeto que integra agricultura, pecuária e meio ambiente. São 900 hectares de pastagens e 1 mil de lavouras, que também servem para abrigar a cavada no período de seca. De maio a setembro, as matrizes se alimentam da palhada de soja colhida. Uma matéria seca e aparentemente pouco nutritiva, que chega a concentrar 12% de proteína. O projeto de integração, que reduz impactos, se completa com 400 hectares de reserva.
– Partimos do princípio de que o que tiramos da terra temos de devolver a ela, para que tenhamos por muito tempo os recursos naturais que a terra nos oferece. Partimos do princípio de integrar lavoura, pecuária e ecologia – afirma o consultor pecuário Francisco Xavier Nunes.
Em um confinamento no município de Campo Novo do Parecis, Mato Grosso, o que é resíduo se transforma em produtividade. Os dejetos servem de adubo para as áreas de lavoura de soja da fazenda. O resultado: sete sacos a mais produzidas por hectare.
– Antes de colocar os animais no confinamento, no mês de maio, é feita uma raspagem da matéria orgânica e do esterco do confinamento, que são colocados na lavoura. E tem um resultado muito grande, economia de adubo com aumento de produtividade. Isso casa a linha econômica com a linha ambiental – afirma o agropecuarista Dalmar Rolim.
Produzir mais carne em menos área é o norte do trabalho que vem sendo feito na Fazenda Marcon, em Primavera do Leste, também em Mato Grosso. Os dois pivôs que irrigam as pastagens permitem uma lotação alta, de 8,5 unidades animais por hectare.
– Isso significa oito vezes mais que o tradicional e também contribui muito com o meio ambiente. Onde você precisaria ter 1 mil hectares de pasto com 100 você faz o equivalente – afirma o pecuarista Nelso Marcon.