– O Brasil é um país que tem que se orgulhar de tudo o que fez de correto. Muito mais do que os nossos concorrentes. E o nosso agricultor não precisa se sentir oprimido, acuado, nós não fizemos nada de errado. O que nós temos é que adequar a nossa linguagem e conversar de igual para igual. Conversar e entender um pouco mais o Código Florestal, transformando isso que hoje parece um limão em uma limonada – diz.
O cafeicultor Ramon Rocha relara que regularizou 10 hectares de reserva legal em sua propriedade há 12 anos, quando não era possível demarcá-los fora da fazenda. A solução foi erradicar o cafezal para transformar a área em floresta. Atualmente, cultiva 45 hectares de café e 10 de eucalipto.
– Você tem que riscar, plantar adubar, cuidar da formiga, que é um problema, e a gente fica até no meio do caminho não sabendo como fazer. Se pode ter interferência ou não. Se pode usar herbicida. Mas a gente vem conseguindo recompor esta reserva – conta.
Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), no entanto, mostra que é possível utilizar a reserva legal economicamente. Na hora de investir, o produtor rural pode optar entre nichos de mercado como produção de mel, frutas nativas e turismo rural. Porém, é na madeira que está a melhor oportunidade, conforme o professor doutor em silvicultura de espécies nativas da universidade Pedro Brancalion.
Ele afirma que é possível conquistar uma renda de R$ 2,5 mil por hectare ao ano no final do primeiro ciclo, após a implantação da floresta. Entretanto, segundo o pesquisador, tudo começa com um bom planejamento.
– É preciso fazer um levantamento das espécies nativas, com um bom mercado na região. Isso inclui frutas, madeiras nobres para serrarias e assim por diante. O segundo ponto é pensar em um sistema de cultivo de madeira e frutas nativas com base nas necessidades do produtor. Então, se ele depende de um retorno econômico rápido, pode cultivar as entrelinhas desse plantio com espécies agrícolas, ajudando a amortizar o investimento na área – explica.
Brancalion lembra que antes da parte econômica, a reserva tem que cumprir a missão de proteger solo, água e biodiversidade.
– O órgão ambiental exige que estes projetos de implantação de reserva legal para produção de espécies nativas sejam notificados. Isso é natural e muitas vezes o órgão não consegue diferenciar se a área foi plantada ou não, se está sendo feito extrativismo autorizado ou uma exploração legalizada. Comunicação é importante e viabiliza exploração futura na área – informa.
Rocha pontua que a burocracia que desestimula projetos sustentáveis e trava produção e preservação.
– A gente foi atrás para ver como funciona, como se faz estes projetos, e a quantidade de órgãos para os quais tem que pedir licença e os custos que tem para isso. A gente acaba abandonando. Eu já desisti da ideia, porque a burocracia é muito grande. Esta questão de implantação de reserva para manejo, se não mudar a legislação do jeito que está, produtor nenhum corre atrás, porque é uma burocracia absurda – diz.
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