As notícias que passaram a chegar já na safra passada lá do cerrado baiano e na região centro-oeste colocaram os produtores gaúchos em alerta. Todos sabiam que a praga chegaria por ali.
– A gente vive num cenário que por um lado é privilegiado porque vê os outros Estados já plantando, aparecendo os primeiros problemas com as pragas. A gente como planta um pouquinho, e depois tem – se é que dá para chamar de privilegio – de plantar depois, e consegue ficar um pouco mais atento a estas doenças e pragas – afirma o pesquisador da área de melhoramento de soja Cleiton Steckling.
É na região noroeste do Rio Grande do Sul, na cidade de Cruz Alta, que a pesquisa vem sendo intensificada. A Fundação Centro de Experimentação e Pesquisa (Fundacep) lançou só em 2012 quatro novas cultivares desenvolvidas a partir da tecnologia Intacta.
– A empresa, que é detentora da tecnologia, nos passa através de um convênio de cooperação técnica a tecnologia dentro de uma cultivar, e a gente precisa transferir esta tecnologia para nossas cultivares. Isto a gente faz através dos cruzamentos de hibridação, transferindo o pólen da planta de interesse de uma outra para cima do estigma da planta receptora, e vai gerar o cruzamento e os filhos que vão carregar esta tecnologia para as futuras gerações – explica Steckling.
O trabalho é minucioso, requer tempo e paciência. Outras quatro cultivares à base da nova tecnologia estão prestes a ser lançadas no mercado pela fundação, que é mantida pela iniciativa privada e cadastrada pelo Ministério da Agricultura. Mas é apenas uma pequena amostra, comparada à dimensão da pesquisa realizada na Fundacep. Por ano, em média, são estudadas cerca de mil linhagens, e cada uma poderá, caso aprovada, virar uma cultivar à disposição do produtor, para prevenir ou combater as mais variadas pragas ou doenças.
– Nosso objetivo final é chegar para o produtor uma cultivar com mais resistência às principais doenças e alta produtividade. Por isto a gente testa uma grande quantidade de materiais para neste momento de seleção poder optar pelas melhores para cada característica – acrescenta a pesquisadora Caroline Wesp.
Durante a visita do Soja Brasil, a equipe acompanhou o trabalho de cruzamento entre as diferentes cultivares.
– A gente testa para cada doença de soja a reação destas linhagens. As que são suscetíveis por critério a gente acaba eliminando do programa, e levando adiante só as que têm uma resistência boa a doenças – diz Caroline.
Na ponta final está o agricultor, hoje em dia inseparável do resultado da pesquisa, dependente das novas tecnologias, ligado em tudo o que acontece e, no caso do Rio Grande do Sul, com um pouco mais de tempo para se prevenir.
– Além de desenvolver a variedade a gente também posiciona ela no mercado para ver o melhor manejo. Dependendo da cultivar vai ser necessário começar antes ou depois as aplicações, qual o melhor produto daquele material. A gente posiciona qual o melhor fungicida, a melhor época de aplicação, quantas são necessárias. Então seria a ideia do pacote tecnológico, lançar a cultivar mas também com o melhor manejo – conclui a pesquisadora.